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A arte de viver

Autor: Marciano Medeiros

Existiu um antigo sábio no primeiro século da era Cristã, que muito colaborou para ensinar a viver com mais equilíbrio, tendo nascido escravo possivelmente em 55 d.C. No império romano, Epicteto se tornou um dos mestres do estoicismo e dedicou sua existência, para responder duas perguntas: Como viver melhor uma vida plena e feliz? E como ser uma pessoa com qualidades morais?

Há poucos dias fui abordado por um entristecido colega, que me relatou o seguinte caso – Sou um homem aflito que procura de todas as maneiras uma esposa e reconheço que muitas vezes os apelos do sexo chegam a me perturbar. Então no auge dessa busca, eu cheguei a fazer tentativas incoerentes, beirando as raias da infantilidade. Numa dessas equivocadas investidas, a pessoa almejada contou tudo para uma colega. Imediatamente, ela veio me chamar atenção e ainda confessou ter dito a referida criatura, que sou completamente obsedado. Ela parecia minha mestra e uma professora de sabedoria quando falou comigo. Só que existe outro problema meu caro irmão de ideal, a mulher vive as turras com o esposo, intrigada com o mesmo dentro de casa. – O que devo fazer? – Perguntou-me o companheiro das lides espíritas, desejando acalmar seu atormentado coração.

O episódio referido me fez completar uma releitura de pequeno livro, cujo titulo é: A Arte de viver. Os 93 textos foram elaborados com princípios defendidos por Epicteto, refletindo sobre as contradições existentes entre o que dizemos e realizamos, gerando grande abismo entre teoria e prática. É muito fácil mostrar mapas e traçar roteiros para os outros, o difícil é seguir a estrada que apontamos, conforme nos ensina o espírito Emmanuel, numa das mensagens recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier, totalmente de acordo com o pensamento do filosofo estóico. Então falei para meu amigo, já que o mesmo desejava minha opinião.

– Não há dúvidas de que a leviandade na busca de afetos aumenta as angústias e frustrações. Porém sua colega se precipitou um pouco, pois essas questões do semelhante não pertencem à mesma. Segundo reflexão de Epicteto: Nunca devemos assumir os problemas alheios, isso apenas distorce nossa busca e nos transforma em fofoqueiros, maledicentes e fiscalizadores, sempre impiedosos com os atos do próximo. Com certeza ela poderia reclamar tão diretamente se tivesse sido alvo do seu assédio, mencionei. Em seguida lembrei que o espírito São Luis, afirma no Evangelho Segundo o Espiritismo, que podemos nos meter na vida de alguém, se as atitudes do mesmo estiverem prejudicando-nos. Além disso, ela lhe rotulou de obsedado e um ser que fica prestando atenção demasiada a vida dos outros, também está num processo obsessivo, evidenciando uma desestruturação mental, pois como se fala comumente: ela não tem o direito de invadir a intimidade de ninguém, o assunto não era da conta dela. Porque não se acertou primeiro com o marido? Na realidade sua colega parece com Edgard Hoover, antigo chefe do FBI norte-americano.

Ele era um solteirão recalcado, intrigante e reprimido, por não ter o que fazer passou a vida perseguindo supostos comunistas. Charles Chaplin chegou a ser expulso dos Estados Unidos, por causa das paranoias de Hoover. Infelizmente encontramos essa conduta doentia, em determinados companheiros do movimento espírita, que apenas desejam fazer a reforma intima dos outros.

Além disso, existem muitas tolices divulgadas por certas mentes puritanas, de quem generaliza, e não aceita o principio de que somos criaturas imperfeitas, em vias de aprimoramento. Então criam exigências descabidas e botam cargas tão pesadas nos ombros dos confrades, que nem os autores das cobranças podem carregar. Querem que nos comportemos como espíritos iluminados, sem desejos ou paixões, que precisam ser controladas lentamente, pelo sentimento e pela razão. Não é aconselhável o ultimato de mudanças repentinas em ninguém. Isso é tão verídico que até mesmo Mahatma Gandhi, enveredou por esse caminho exigente quando esteve encarnado, o que não desmerece seu trabalho para defender os direitos da humanidade. Ao completar 37 anos o notável líder da Índia, propôs viver como dois irmãos dali em diante, ele com sua esposa. A referida senhora coabitou por uns quarenta anos aproximadamente, sem o exercício de sua sexualidade, o que foi uma medida totalmente antinatural, houve apenas algumas exceções, nos primeiros anos onde ele não conseguiu cumprir a decisão tomada. Gandhi chegou a ficar irritado com um filho, tão somente pelo fato do moço querer casar. De vez em quando colegas do nosso movimento doutrinário, que se julgam infalíveis em seus palpites, criam posicionamentos igualmente extremistas e que mostram um total desconhecimento da natureza humana. Por isso Jesus aconselhou que não fizéssemos julgamentos temerários, procurando evitar pré-conceitos, o que apenas mostra nossa limitação emocional. Foi muito adequada uma reflexão feita pelo orador espírita Spencer Júnior: Não devemos lutar frontalmente contra nossos defeitos e sim procurar desenvolver os aspectos positivos já alcançados. – Mas não se preocupe, pois não temos como controlar os pensamentos de outros companheiros – falei para meu colega. De súbito ele sorriu com alivio e me prometeu ter mais cuidado. Fraternalmente lhe aconselhei – que fizesse tal promessa para sua consciência.

Joanna de Ângelis e os demais mensageiros da Codificação conhecem os princípios do estoicismo, leiamos à questão 903 do Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec perguntou, se existe culpa em estudar os erros alheios? Vejamos a resposta: Se é com o fito de os criticar e divulgar, há muita culpa, porque isso é faltar com a caridade. Se é com intenção de proveito pessoal, evitando-se aqueles defeitos, pode ser útil. Mas não se deve esquecer que a indulgência para com os defeitos alheios é uma das virtudes compreendidas na caridade. Antes de censurar as imperfeições dos outros, vede se não podem fazer o mesmo a vosso respeito.

Quando pretendemos ajudar alguém, temos tato psicológico e moderação em nossas palavras. Mesmo que percebamos os defeitos e as fraquezas dos nossos amigos, será melhor valorizarmos as pequenas conquistas, dentro dos limites traçados pelo bom-senso, pois a letra mata e o espírito vivifica como escreveu o apostolo Paulo. E quem age querendo orientar, não sai pelas esquinas ou reuniões dos centros espíritas, comentando maldosamente os desajustes do próximo, exibindo falsos impulsos de mediunidade e suposta vidência, o que vem caracterizar nosso atraso espiritual. Realmente Epicteto tem razão: saber viver é uma arte e sobre a mesma, todos precisamos meditar a cada instante.

Fala MEU! Edição 78, ano 2009

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