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Homossexualidade e espiritismo

Autor: Joelson Pessoa

“(…) porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessantemente para viver, sob o Sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos.” – André Luiz _ Sexo e Destino _ cap.9 _ parágrafo 39

Único herdeiro de imensa fortuna, prestigiado por mais de 1 bilhão de pessoas. Fez uma escolha que o afastaria para sempre de todos os privilégios da realeza. Optou por servir além do palácio, junto daqueles que a sociedade insiste em marginalizar impiedosamente. Trocou as adulações da alta sociedade para conviver entre os humilhados, privados de qualquer consideração. Eis um herói do nosso tempo:

Manvendrasinh Gohil , 40 anos, príncipe da Índia, filho único, foi recentemente deserdado depois de assumir publicamente a sua homossexualidade.

Eu sabia que eles nunca me aceitariam por ser realmente quem eu sou, mas também sabia que eu não podia mais viver uma mentira” afirmou Gohil.

O príncipe percebeu-se “diferente” aos 10 anos de idade e só tomou conhecimento da definição sobre sua orientação sexual ao conhecer a palavra homossexualidade pela primeira vez, aos 15 anos de idade, pesquisando o dicionário.

Compreendeu que sua condição deveria ser omitida e assim o fez. Por longos 30 anos lutou pela “reorientação” de sua sexualidade, vindo a consentir, aos 25 anos, com um casamento arranjado por seus pais.

Um ano de matrimônio fora o bastante para que Manvendrasinh admitisse para si mesmo que não poderia persistir com a omissão. Seu casamento terminou, em 1994, depois de participar à esposa a sua homossexualidade.

Em 2002, depois de um esgotamento nervoso, revelou aos seus pais a sua condição sexual, que dele exigiram o máximo silêncio sobre o caso.

Ocorre que o filho dos reis tomou conhecimento da ONG Lakshya Truste, que se dedica a assistir os homossexuais indianos expulsos de casa pela família. A ONG executa programas promocionais, de prevenção contra o HIV, além de tratar dos doentes.

Manvendrasinh, penalizado com o sofrimento dos homossexuais duramente perseguidos em sua sociedade, tornou-se membro da ONG movimentando o seu prestígio e os seus recursos para melhor cooperar com os objetivos da instituição. Com o tempo passou a sofrer uma crise de consciência, porque ao mesmo tempo em que se engajava em atividades voltadas à conscientização da dignidade da pessoa homossexual e combate ao preconceito, Manvendra ainda preservava uma ‘imagem heterossexual’ para toda a sociedade. Entendeu que não estava sendo honesto.

Assim, convocou a imprensa e assumiu publicamente a sua homossexualidade:

Assumi ser gay para um jornal de Gujarati porque queria que as pessoas discutissem abertamente a homossexualidade, já que aqui este é um assunto quase proibido, e cheio de estigmas”, diz ele.

A reação dos monarcas foi imediata:

Seu pai, Raghuvirsinh Gohil anunciou:

“O poder legal dado a Manvendrasinh em 19 de dezembro de 2002 continua rejeitado. Ninguém deve lidar com ele sobre estas propriedades”.

Sua mãe, Rukminidevi, foi ainda mais fundo:

Manvendra está envolvido em atividades inaceitáveis para a sociedade. Sendo assim, ele cessa de ter direitos, como filho nas propriedades da família e ninguém deve se referir a meu nome como mãe de Manvendra. Se qualquer indivíduo ou organização ousar fazer isto, vai enfrentar processos”.

Instado a comentar as declarações dos seus pais, o príncipe explicou resignado:

Eu aceito a decisão deles e não vou reclamar nenhuma propriedade da família. O pesar que me causa o desprezo dos meus pais, que eu amo, é imediatamente compensado pelo acolhimento que encontrei neste grupo. Aqui eu fiz uma nova família”.

O príncipe, primeiro sangue azul gay da Índia é atualmente um dos diretores da ONG Lakshya Truste e trabalha com a população gay com AIDS/HIV em Gujarati.

Reflexão:

Guardadas as proporções, o Brasil ainda é um país bastante preconceituoso. Estados Unidos, Canadá, a Europa quase inteira e até na América do Sul, a Argentina, estão à frente do nosso país em matéria de tolerância e igualdade social quando o tema a diversidade sexual.

Focalizando mais especificamente o movimento espírita brasileiro nos depararemos com um quadro similar ao da história acima. O assunto permanece quase inabordável, apesar das obras mediúnicas trazerem consoladores esclarecimentos, desautorizando certos discursos que alguns expositores pouco instruídos fazem sobre o tema.

Atualmente é grande o contingente de homossexuais compondo o quadro de tarefeiros nas casas espíritas, na diretoria e destacando-se na liderança de trabalhos diversos no movimento espírita.

Entretanto, devido ao preconceito e à discriminação velada, “ninguém é homossexual”, muitos nesta condição mais por medo que por intencional hipocrisia, teatralizam personagens heterossexuais ou ocultam-se numa “identidade assexuada”.

Semelhante conduta, quando praticada por líderes do nosso movimento, resulta numa ininterrupta repetição deste comportamento, alimentando o velho paradigma de “Ser Errado” naqueles que estão vindo na retaguarda.

Uma desumana mensagem subliminar é comunicada por estas atitudes defensivas: “Você jamais deve assumir a sua homossexualidade”, “Homossexualidade é coisa errada, feia, esconda-a”, “Ser trabalhador espírita homossexual é inadmissível”, “Você precisa fingir que é heterossexual para ser querido e respeitado, do contrário…”

Enquanto isso, nossos jovens e adolescentes homossexuais estão crescendo, sem uma referência positiva da identidade homossexual. Assimilam o falso conceito de que são indignos e recrimináveis, tornando-se egodistônicos, oscilando entre conflitos psicológicos variados, decorrente da não aceitação direta e indiretamente ensinada. Finalmente toda essa marginalização silenciosa culmina em dolorosas quedas morais que o amor e a compreensão evitariam.

Por qual razão o assunto homossexualidade é pouco (ou nada) estudado? Por que os homossexuais nos centros espíritas e no movimento ocupam-se preocupam-se tanto em não serem reconhecidos nesta singularidade? Seria apenas uma bem resolvida discrição? Ou há de fato um quoeficiente de intolerância no meio espírita?

Em face desta história real, onde um homem renunciou à riqueza e sacrificou a própria imagem numa nação politeísta, cheia de preconceitos milenares para assistir material, mas sobretudo moralmente todo um contingente de infelizes, convém refletirmos: Que temos feito nós, os espíritas – cristãos, de especial?

Fala MEU! Edição 61, ano 2008

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