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Instruir não é educar: Arrogância intelectual do espírita instruído

Autor: Joelson Pessoa

“A instrução é indispensável, ninguém o contesta; mas, sem a moralização, não é senão um instrumento, muito frequentemente improdutivo para quem não sabe regular o seu uso tendo em vista o bem. Instruir as massas sem moralizá-las é colocar em suas mãos uma ferramenta sem lhes ensinar a dela se servirem, porque a moralização que se dirige ao coração não segue necessariamente a instrução que não se dirige senão à inteligência; a experiência aí está para prová-lo.”- Allan Kardec _ Revista Espírita _Jan. 1869.

Venho chamar a atenção para um problema bastante comum ao meio espírita: a arrogância intelectual de certa classe de espíritas; esta atitude quando estampada na personalidade de dirigentes e tarefeiros da casa espírita, reflete-se nos trabalhos da casa, na forma de um clima frio e impessoal.

Tal situação impede que muitas pessoas acolham para si o Espiritismo, devido ao atendimento mecanizado que receberam, caracterizado por uma fraternidade ensaiada e fácil de se notar em inúmeros grupos espíritas.

A doutrina dos espíritos oferece aos homens um patrimônio de conhecimento superior, são informações que a maioria da humanidade ainda desconhece. E muitos espíritas, deslumbrados, se perdem no orgulho pelo muito que sabem.

Para conhecer o conjunto do saber espírita é indispensável estudos profundos e leituras constantes. Gostar de ler e estudar é exercitar uma virtude.

Mas quantos são os que têm o saudável hábito da leitura? Quantos não veem na palavra ESTUDO, senão algo aborrecedor? É por isso então que, frequentemente, aqueles espíritas que muito estudam e logo se destacam, tendem à arrogância.

Avaliemos uma situação: numa sala de aula comum de qualquer colégio apenas poucos alunos alcançam um excelente desempenho, com ótimas notas em todas as matérias. A maioria é regular, sem resultados notáveis, uma outra parte tem desempenho ruim.

No centro espírita acontece o mesmo: é a minoria que realmente estuda e aprende. Os outros, preguiçosos, acompanham o que determinam os estudiosos. Muitos vão ao centro para receber o passe e tomar a água fluidificada – cumprindo um ritual religioso [O Centro Espírita tem seus ritos?!]; Outros buscam “estar” numa religião, sem compromisso efetivo com sua proposta transformadora, é simplesmente um compromisso social; Outros ainda estão à cata de resolver seus problemas sociais, aguardam “milagres” dos Espíritos para a solução do alcoolismo do marido, do comportamento impróprio dos filhos; Enfermidades; Desemprego; etc… O que é o autoconhecimento? Como fazer a reforma – íntima? Não, não se ocupam com estas questões.

Estudos e cursos aplicados sem criatividade e entusiasmo, sem recursos didáticos apropriados e sem um expositor habilidoso, levam a um resultado deficiente. As pessoas não adquirem o interesse. Perdem a curiosidade em aprender. Somente os “CDF’s” perseverarão nos estudos, a maioria evadir-se-á dia-a-dia.

Repetimos: são muitos os adeptos do Espiritismo que estão no centro espírita, mas não se interessam pelo estudo. Isso ocorre inclusive entre os trabalhadores, o que constitui um problemão.  Precisamos despertar neles o prazer de aprender, de conhecer.

O trabalhador sem estudo não está preparado para dar esclarecimentos confiáveis sobre uma série de dificuldades humanas, exceto se ele já tenha vivenciado todas elas, com êxito. Mas isso é raro, são poucos os sábios de verdade. Quem é que perde com isso no final?

Entretanto, no outro extremo, há os que sabem bastante, e se destacam por isso, e, por saberem-se membros de uma seleta minoria, acabam por se envaidecerem e “se sentem”- como diz a expressão popular – perante uma massa de espíritas pouco ou mal informados.

Focam demasiadamente no estudo e se transformam em autênticos “sabe-tudo”, porém, iludem-se com o que sabem, pensando já ser o que memorizaram. Isto é um baita engano do nosso orgulho, ninguém evolui na escala progressiva apenas por haver retido na memória um monte de informação espírita. Memorizar não é Espiritualizar.

Além disso, o trabalhador que “se sente” costuma alimentar uma ambição quase paranoica por “promoções” e por primazias, tanto no centro em que colabora ou no movimento espírita, pois enxerga-se superior à frente dos que sabem menos.

Poucas vezes nos deparamos com pessoas que muito sabem e que são, ao mesmo tempo, amáveis e sensíveis.

Os centros espíritas necessitam cada vez mais de trabalhadores com estas duas qualidades combinadas: Amáveis e Instruídos.

Por outro lado precisamos auxiliar aqueles que “raciocinam muito e sentem pouco”. São criaturas que portam dificuldades emocionais. Geralmente os “CDFs” do Espiritismo são pessoas que raciocinam demais, explicam tudo, respondem apressadamente o por quê disto e o daquilo. São mesmo capazes de destratar alguém a pretexto de defender a pureza da doutrina. São pessoas que ouvem pouco. Evitam momentos de convivência e confraternização. Não falam de si. Não se mostram. Não compartilham emoções. São como um aparelho gravador: servem para reproduzir as teorias espíritas que memorizaram na cabeça.

Arrogantes, tropeçam com facilidade na intolerância, impõem suas opiniões, estabelecem um “modelo espírita de ser”: o dele próprio. Inflexíveis, não suportam oposições às suas ideias. Desgostam de quem discorda das suas opiniões. Em reuniões de estudos, sofrem a ansiedade por falar… Falar… Falar… Os “CDFs” em espiritismo não aprendem, só ensinam.

Mas é importante reconhecer que a arrogância e o autoritarismo dos espíritas estudiosos refletem, em parte, uma falha do centro espírita. Qual é essa falha?

Voltemos ao fragmento de apoio que aplicamos acima: “Instruir as massas sem moralizá-las é colocar em suas mãos uma ferramenta sem lhes ensinar a dela se servirem”. Ou seja, percebemos que o centro espírita está focado exclusivamente no estudo, na transmissão da teoria, isto é, na instrução.

Com esta visão tem muito mais valor aquele que sabe mais. Mas nem sempre aquele que sabe mais é aquele que ama, aquele que acolhe, aquele que educa.

Se Kardec recomendou atenção à educação moral tanto quanto dedicamos à instrução intelectual, como reorganizar o centro espírita para que o homem seja educado por completo?

Qual é a atividade da casa que prioriza a moralização (educação ou reforma-íntima)?

Quem acha que uma boa instrução das teorias espíritas garante a vivência na reforma – íntima, está se enganando. Vamos reler: “porque a moralização que se dirige ao coração não segue necessariamente a instrução que não se dirige senão à inteligência”.

Palestras, cursos e reuniões de estudos, são instrumentos que instruem, e o centro espírita tem instruído regularmente o seu público, o cérebro dos espíritas vem sendo trabalhado. Mas quais são as atividades destinadas à educação propriamente? Como trabalharmos as potencialidades dos sentimentos?

Salvo algumas exceções, a maior parte dos centros espíritas nada conhece a este respeito.

Tal constatação não é uma crítica ou censura. É a admissão de um fato. Referimos apenas que estamos despertando para a necessidade de melhorar os serviços que a casa espírita oferece.

Mudanças e renovações costumam incomodar muita gente, mas são inevitáveis. Houve muita polêmica quando, nas décadas de 60 e 70, uma geração jovem implantou nos centros espíritas as reuniões de estudos e os cursos. Os antigos se ocupavam tão somente com a atividade mediúnica, privados de qualquer orientação da codificação, pois muitos a desconheciam. Houve muito desentendimento entre as duas gerações, ocorreram ‘rachões’, e novos centros foram fundados, de norte a sul do Brasil, ô Glória!

Agora parece que presenciamos o princípio de uma nova fase para o Espiritismo.

Vimos que o estudo metódico é muito bom, e deve ser preservado, mas ainda é incompleto para os fins a que o Espiritismo se destina: a regeneração da humanidade.

Embora os frequentadores dos centros espíritas e inclusive nós mesmos sintamos falta de “algo mais”, falta-nos coragem, de ousadia no bem para conversarmos sobre nossos anseios a fim de estabelecermos trabalhos novos em nossas casas.

Temos uma série de atividades voltadas para o raciocínio e quase nada dirigido aos sentimentos. Estamos sentindo esse ‘vazio’. O nosso cérebro está farto, mas o coração tem fome.

Felizmente hoje já podemos encontrar alguns grupos realizando experiências interessantes, todos buscando completar os serviços da casa espírita com reuniões acolhedoras, focadas nas necessidades íntimas de cada individualidade, conduzidas por líderes instruídos e amáveis, consoante o apelo do Espírito Verdade*.

Nada precisa ser destruído. Urge acrescentar!

Fala MEU! Edição 72, ano 2009

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