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Jovem, o futuro do espiritismo e dos centros espíritas?

Autor: Rodrigo Prado

“Nós somos jovens… jovens… jovens… Somos o exército, o exército do surf…”

Se você caro leitor, é jovem, provavelmente já ouviu essa música cujo refrão aqui escrevi, mas para o amigo leitor com mais anos de vida nessa encarnação, com certeza ouviu essa música como a curtiu bastante há décadas atrás durante a tão badalada época da Jovem Guarda.

Naquela época os jovens possuíam muitos sonhos, como os jovens de hoje, porém devido a situação financeira, cultural, política, etc, esses sonhos foram diferentes dos planejados pelos jovens atuais. Mas uma coisa não mudou, foi o idealismo, a vontade de mudar as coisas, de fazer melhor. Isso é inerente, ou seja, faz parte de todo jovem, é uma força que o movimenta, que dá ânimo e entusiasmo, funcionando como uma alavanca para que o jovem possa atingir os seus sonhos, sejam eles quais forem.

O tempo passa, e aos poucos vamos amadurecendo, compreendendo que alguns sonhos não eram assim tão legais, ou pelo contrário, outros foram ou seriam totalmente prejudiciais a nós e muitas vezes ao próximo. Assim, mais do que natural, durante esse processo de crescimento, vamos revendo nossos padrões e conceitos, aprendendo com os erros e acertos, rumo à evolução individual.

Uma situação que muito tem me chamado a atenção é que se os sonhos juvenis se transformam – teoricamente para melhor -, tenho percebido muitos jovens deixando de lado o seu idealismo, a vontade de transformar o mundo, de se melhorarem. E não só os jovens que estão fazendo isso, muitos são os “adultos” que assim procedem, levando uma vida muito diferente do que era antes, nem parecendo mais que um dia já foram jovens, que participaram da Jovem Guarda ou de outros tantos movimentos juvenis da época.

Pegando essa linha de raciocínio, quero levá-lo leitor, a refletir sobre o Centro Espírita. Como está o ambiente do centro em que você participa? Reflita com bastante carinho sobre isso… O centro tem sido um local de reconforto, ou tem te trazido mais problemas? Os dirigentes da casa têm sabido lhe ouvir, ou tem tomado atitudes que longe de te ajudar, só lhe fazem sentir menos vontade de ali estar?

Se a sua resposta foi que está tudo bem, que se sente reconfortado no centro, que os dirigentes sabem ouvir-lhe, como as demais pessoas, parabéns, você está em um local onde as pessoas estão praticando os princípios da Doutrina Espírita, isto é, a moral evangélica ensinada por Jesus. Agora, caso a sua resposta seja negativa, isso significa que a teoria fica só da boca para fora infelizmente.

E exatamente sobre essa segunda resposta que eu quero que reflitamos. Sempre me perguntava, como é que pessoas estudadas, esclarecidas com as verdades proporcionadas pelo espiritismo, podem, quando estão numa posição de destaque, terem atitudes totalmente contrárias aos ensinamentos que professam? Depois de um tempo comecei a entender que entre o conhecer e o internalizar e praticar há uma grande lacuna, que somente é percorrida, quando realmente estamos interessados em nos transformarmos intimamente, abrindo mão do orgulho e egoísmo, tão presentes nas nossas atitudes do dia-a-dia.

É triste presenciarmos situações onde os dirigentes maltratam trabalhadores; expulsam pessoas do centro; se aproveitam da credulidade do público; furtam o patrimônio da casa espírita; manipulam pessoas para obter privilégios; se aproveitam da fragilidade dos assistidos para terem relacionamentos amorosos, sejam esses casados ou não; etc. Essas foram só algumas das situações que tenho presenciado em vários centros espíritas, diretamente quando mais íntimo das casas, ou indiretamente através dos relatos de amigos.

Bem, o fato é que, antes de julgar quem assim procede, vale sempre pensar do porque tal pessoa age de tal maneira. O que a leva a ter essas atitudes? Se ela sabe que não é certo, mas por quê assim procede? Por quê não enxerga que age muitas vezes igual às pessoas que critica? Refletindo mais a fundo, quem são essas almas, ou o que foram no passado? Ou ainda, como podem hoje, agirem exatamente iguais àqueles que criticavam quando eram jovens, dizendo que jamais fariam igual?

E aí caro leitor, se tu és ainda jovem fisicamente falando, assim como eu, o que nos impede de amanhã agirmos exatamente igual, repetindo tudo o que hoje presenciamos e detestamos? Esse é um dos questionamentos que mais me faço todos os dias, e como resposta, a dúvida me assola, não me deixando a certeza de que estou agindo completamente da melhor forma possível, me fazendo avaliar sempre as atitudes tomadas. Mas essa auto-avaliação tem autos e baixos, e nos momentos ruins, as atitudes são tomadas sem que a “razão” analise se aquilo é realmente o melhor. O fato é que em termos de evolução, não somos muito diferentes uns dos outros, o que nos coloca numa posição de agirmos igual ao próximo. Mas depende de nós, exclusivamente de nós, reunirmos toda a força, idealismo, vontade e ação para que canalizemos tudo isso no sentido de nos conhecermos realmente quem somos, do que somos capazes de fazer, e assim tomarmos atitudes assertivas para nos melhorarmos.

O velho jargão de que o jovem de hoje é o futuro do centro espírita, do movimento espírita, e consequentemente do Espiritismo, é a mais pura verdade. Porém qual é o futuro que desejamos? O que estamos plantando? Como desejamos ser lembrados? Pensemos nisso, pois o que presenciamos hoje podemos repetir daqui a um, cinco, dez ou vinte anos, quando estivermos à frente das atividades espíritas onde trabalharemos.

Fala MEU! Edição 46, ano 2006

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