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Mocidade que não estuda: Caduca

Autor: Joelson Pessoa

Mocidade espírita é a reunião de jovens no centro espírita constituída para estudar o Espiritismo.

E qual é a necessidade de uma reunião dedicada exclusivamente aos jovens?

Uma delas é permitir a inclusão da juventude na casa espírita, uma vez que a maior parte das atividades doutrinárias é oferecida ao público nos dias úteis, à noite, horário em que a maioria dos jovens estão estudando. Por essa razão as reuniões de mocidade acontecem aos finais de semana, com algumas exceções.

Outras razões são a linguagem e o nível de experiências comuns que os identificam, permitindo uma afinidade com o grupo, favorecendo a convivência e a troca de ideias numa comunicação horizontal (de igual para igual); A configuração da mocidade desmassifica o indivíduo porque reconhece o seu valor pessoal. Tal característica de reunião satisfaria inclusive aos apelos íntimos dos próprios homens maduros, conforme observamos em experiências com os mais velhos, mas o adolescente, exigente, não continuará no grupo se não se identificar com ele. Exceto se os pais ainda o obriguem.

Todavia, se não houver no grupo, mas, sobretudo naquele que orienta o grupo de jovens um propósito sério de estudar a doutrina espírita, esta reunião descambará para uma ordinária rodinha de amigos, não muito diferente do coleguismo que se forma entre a turma do futebol, da balada, da academia, do happy-hour, etc.

Reuniões de jovens descomprometidas com o estudo da doutrina espírita, que se divertem muito e estudam pouco, apareceram numa reportagem da revista Isto É (edição 2016  Jun/ 08), falando em nome das mocidades espíritas do Brasil, defendendo o aborto (31%), a pena de morte (47%). Qual é o preparo dos dirigentes que orientam estes jovens?

Neste caso o participante está indo à mocidade para paquerar, ver amigos, se divertir ou porque ainda não dispõe de atividades mais interessantes para fazer. Não há o interesse em aprender com o estudo.

Que a pesquisa da revista seja fidedigna, não há como afirmar, mas não podemos negar que existam grupos negligenciando o seu dever (isto também vale para o centro espírita num todo).

Mas alguém poderá indagar:

Em que a mocidade espírita deve se diferenciar?

  1. No estudo do Espiritismo, fundamentando todo e qualquer assunto nas obras de Kardec e, em muitos casos, aprofundando o estudo de um tema particular com o auxílio das obras mediúnicas reconhecidas. (Emmanuel, André Luiz [médiuns Chico Xavier / Waldo Vieira], Joanna de Angelis, Manuel Philomeno de Miranda [médium Divaldo P. Franco], Hammed [médium Francisco do Espírito Santo Neto], Ermance Dufaux [médium Wanderley S. Oliveira], Luis Sergio [médium Irene Pacheco] sem esquecermo-nos dos autores espíritas consagrados: Léon Denis, Ernesto Bozzano, Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Herculano Pires).
  2. No método de estudo, que deve ser ora dinâmico, ora sensibilizadora, ora reflexivo, ora lúdico, ora expositivo, ora interativo, ora focado no individuo, ora no coletivo, de acordo com o aprendizado que se quer fixar… A postura de mestre que fala o tempo inteiro, supondo preencher espaços vazios, é antipedagógica. Há que se desenvolver a habilidade de estabelecer conexões entre a teoria dos livros e a intimidade em cada membro do grupo. Para isso o educador precisa aprender a gostar de escutar o seu aprendiz.
  3. Nos laços de afeto que sustentam a amizade fraterna, tornando a reunião de estudos espíritas entre os jovens, um ambiente incomparavelmente agradável, permitindo a cada participante oportunidade de ser como realmente é, e aceitar, valorizando cada amigo como ele está. Confiança e Afeto alicerçados num projeto de estudo voltado para o crescimento grupal, sem descuidar das necessidades particulares de cada coração ali presente. Há afetividade em seu grupo?

Por isso insistimos na importância de um estudo de qualidade nas mocidades, para que estas não se extraviem dos seus objetivos. A arte, geralmente através da música ou do teatro têm acrescentado bastante em muitas casas espíritas, mas não devem nunca substituir os aprendizados que o bom estudo em grupo propicia. Portanto, a primeira prioridade da reunião de jovens deve ser o estudo, da por diante qualquer outra tarefa poderá ser muito positiva, desde que se harmonize com a primeira.

A interação entre os participantes da mocidade com o centro espírita num todo deve ser incentivada permanentemente pelo dirigente do grupo. A verdade é que, embora a reunião de jovens seja a mais adequada para certa faixa etária, há muito a aprender com as palestras públicas e outras atividades que a casa ofereça como os cursos básicos, por exemplo.

Falando em curso básico, lembramos que a reunião de mocidade não deve, a rigor, comparar-se a um curso de espiritismo.

Um curso satisfaz àquele que tem vivo interesse em aprofundar-se no tríplice aspecto da doutrina espírita (Filosofia – Ciência – Moral), o que não se dá com a esmagadora maioria dos jovens, já absorvidos com os intensos estudos do colégio / cursinho / faculdade / idiomas / informática, etc.

Além disso, o seu centro de interesses, frequentemente relacionado à sua formação profissional, namoro e diversão não lhe predispõe ao interesse de muitos assuntos espíritas, contidos nos cursos tradicionais, porque não estão tão próximos do seu dia-a-dia.

Por não ter esta visão pedagógica, muitas reuniões de jovens são conduzidas como um curso sistematizado, num sistema vertical, aluno / professor. Evasão e marasmo são as consequências indesejáveis que castigam o grupo.

Como fazer então? É preciso que o dirigente, este sim, tenha um bom conhecimento da doutrina espírita, que ele participe de outra atividade no centro e que se relacione com a diretoria. O bom conhecedor da codificação precisa aprender também a identificar as prioridades do universo juvenil e dedicar-se a opinar temas preferenciais na extensa literatura espírita a fim de corresponder às necessidades e expectativas mais emergentes do grupo que coordena.

Para isso não basta que o coordenador apenas tenha as informações espíritas na memória, é indispensável que goste de gente, que se interesse pelos problemas humanos.

Que adiantaria a um médico saber muito sobre remédios se não pudesse reconhecer no seu paciente a presença desta ou daquela doença? O bom médico sabe relacionar cada medicamento com o gênero de enfermidade e, ainda, adota um procedimento para o tratamento.

Nas reuniões de estudos espíritas não deve ser diferente, o dirigente da reunião (educador) precisa conhecer tanto de doutrina como sobre o ser humano, e conhecermos melhor o outro na medida em que conhecemos a nós próprios.

Falamos muito sobre o autoconhecimento, mas quais atividades aplicamos para promovê-lo? Insistimos demasiadamente na recomendação da reforma íntima, mas como a contextualizamos?

Deixemos o improviso para uma ocasião emergencial. Todo estudo precisa ser responsável e carinhosamente elaborado. Cada rapaz e cada moa reunidos em nosso grupo merecem o melhor estudo, aplicado com a melhor atividade. O centro espírita e a reputação do Espiritismo sofrem com as aulas que fazemos nas coxas, porque improvisando, não atenderemos à finalidade maior da doutrina espírita que é a de melhorar o homem, para que a humanidade (nós), atingindo a sua (nossa) maturidade moral, desencadeie a tão esperada renovação social.

A reunião de jovens no centro espírita constitui uma prestação de serviços inestimáveis  sociedade; ainda que alguns não assumam a designação de espírita, o importante é que levem consigo os conceitos essenciais da doutrina e os valores cristãos; com esta base moral poderão fazer a sua escolha ante as provas da vida: entre ser uma pessoa comum, materialista, ou um jovem de bem, comprometido com a sua melhora.

Fala MEU! Edição 65, ano 2008

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