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Os tempos são chegados

Autor: Isabella Sarkis

Ao ser convidada para escrever esse artigo, confesso que fiquei muito tempo pensando em como iria abordar este tema tão polêmico. Temia soar tendenciosa – o que em se tratando de política, não é tão difícil. Mesmo assim, tentarei passar algumas ideias, a partir de três fatos.

Fato nº1: Costumo voltar do trabalho à noite, entre 20 e 22 horas e passo no cruzamento da Rua Alemanha com a Avenida Europa. Para quem não sabe, o local faz parte do Jardim Europa, área nobre de São Paulo. Todos os dias, não importa o horário, me surpreendo com a figura de um senhor negro, vestindo blazer branco e calça preta, que vende doces numa cestinha de vime. O andar curvado sugere a qualquer dos motoristas sua idade avançada. Antes sozinho no cruzamento, agora ele está “acompanhado” de outra senhora, de idade tão alta quanto a dele, e que também vende coisas aos passantes.

Fato nº2: Hoje, passo em frente a um Departamento da Marinha do Estado de São Paulo, na Avenida Nove de Julho. Qual não foi a minha surpresa ao constatar o desdém dos marinheiros que hasteavam a bandeira nacional, um dos símbolos máximos de nossa pátria, para um grupo de crianças que visitavam o local.

Fato nº3: Ouço todos os dias que os níveis de pobreza de nossa população estão baixando. Que o brasileiro come mais, vive melhor. Acontece que esses níveis de pobreza são medidos pelo padrão da Organização das Nações Unidas (ONU), que constata como miseráveis os seres humanos que vivem com a quantia de R$30/ mês, e pobres os que sobrevivem com míseros R$60/mês. Ora, considerando que o programa do governo federal Bolsa-Família presenteia com R$50 mensais as famílias com renda abaixo de R$60, é lógico que estamos tirando o pé de muita gente da lama.

A partir desses três fatos, é possível perceber quão preocupante está a situação política de nossa nação.

Em fevereiro deste ano, a revista Rolling Stone publicou um artigo intitulado Manual do Pé-de-Meia, sobre o livreto que os deputados eleitos recebem assim que assumem o cargo em Brasília. Informações Gerais aos Deputados Federais mostra em detalhes todos os direitos de nossos parlamentares: salário de R$12,8 mil, 14 pagamentos por ano, auxílio moradia de R$3 mil ou o direito de morar em um apartamento de R$1 milhão –, mais de R$15 mil por mês com passagens aéreas, sem contar outras mordomias. Isso ‘por palamentar’. O artigo, de quatro páginas, contabiliza que mensalmente o brasileiro gasta até R$101 mil por representante. Contabilize uns 300 deputados e o leitor terá o prazer de se sentir lesado.

Esta semana, o jornal Metro, que é distribuído gratuitamente em esquinas da capital paulista, bem como em 60 países do mundo, publicou o resultado de uma pesquisa da ONU sobre a igualdade entre homens e mulheres no mundo. Enquanto países como Suécia, Dinamarca e Alemanha têm maior igualdade entre os sexos, o Brasil ocupa uma vergonhosa 71ª posição – atrás de Cuba e, pasmem, Azerbaijão. Isso só para citar dois exemplos.

A essa altura, o leitor pode estar se perguntando o que temos a ver com tudo isso? Ora, é muito fácil responder. Tal como receita de bolo, podemos juntar tudo num saco: o ancião que tem de trabalhar para viver, o descaso de nosso povo e nossos militares com nossa bandeira, os gastos faraônicos dos parlamentares e as medidas-muleta de nosso governo, amplamente divulgadas pela imprensa. Isso tudo faz parte da política a que estamos nos submetendo. Sim, porque ninguém nos obriga. Infelizmente, o brasileiro vota, aceita o que acontece e não corre atrás de seus direitos.

Mais preocupante é a opinião dos espíritas em relação ao assunto. Preferem se abster, não discutir. E por quê? Se somos tão conscientes, deveríamos ajudar aqueles que não têm tal racionalidade. Se não somos, temos obrigação de nos informar. O espírita de hoje advém dos grandes espíritas do passado, cujas vidas estiveram profundamente ligadas aos assuntos políticos de sua época. Victor Hugo por exemplo, autor de “Os miseráveis” e “O Corcunda de Notre-Dame”, compôs sua obra voltada aos problemas sociais de sua época e era ligado aos ideais da Revolução Francesa. Outra importante figura é a do brasileiro Bezerra de Menezes, que atuou como vereador do Rio de Janeiro, bem como Deputado e Prefeito (presidente interino da Câmara Municipal da Corte, cargo correspondente a prefeito nos dias atuais).

Portanto, é inadmissível que os espíritas modernos não se preocupem com essa questão. Não nos basta apenas dar a ajuda aos mais necessitados. Muitas vezes, é necessária a consciência pela melhora de vida, pelos ideais que o cidadão deve ter.

Medidas-muleta como o caso do Bolsa-Família e das cotas para universidades só vêm apaziguar os ânimos e iludir os desavisados.

Ao invés de cotas, devemos melhorar o sistema de educação. Os professores no Brasil recebem vergonhosos salários e as crianças não aprendem. Nossa língua portuguesa, coitada, está em frangalhos. E ao invés de acertar as coisas, o que é proposto? Uma reforma em nosso idioma, abolindo acentos e regras importantes. Ou então as cotas para negros. Um absurdo!

Infelizmente, as medidas a serem tomadas têm de ser das mais drásticas. Está na hora de o povo ver que está sendo passado para trás. Está na hora do jovem espírita estudar política. Dar sua opinião, buscar justiça, com a clareza que a Doutrina nos ensina.

Ou de outra forma estaremos caminhando cada vez mais para o centro do redemoinho. Que engolirá a todos nós e a nossa nação – que tinha tudo para ser a melhor do mundo e hoje vive de pão e circo.

Fala MEU! Edição 56, ano 2007

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