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Terapia de Vivências Passadas

Autor: Rogério Miguez

Uma das providências de Deus para nos ajudar a bem conduzir as reencarnações é o conhecido provisório esquecimento do passado. Cientes desta dádiva de Deus, deveríamos aceitar esta determinação, e com as informações doutrinárias à nossa disposição, entregarmos ao tempo o trabalho de nos tranquilizar diante desta ou daquela dificuldade inata que não encontramos imediata explicação.

Infelizmente, este parece não ser o caso. Vemos com frequência, questionamentos sobre este esquecimento dentro do meio espírita, justificando deste modo, segundo alguns, a busca por qualquer proposta sinalizando a recuperação de nosso equilíbrio psíquico, através da recordação destas vidas.

Entre estas propostas temos a Terapia de Vivências Passadas – TVP. A técnica viabiliza um mergulho do Espírito, quando reencarnado, em seu passado distante, na tentativa de recolher informações para explicar as razões de conflitos atuais. Munidos destas respostas, e caso sejam aceitas, acredita-se poder superá-los. Entretanto, cabe a lembrança de que os envolvidos no fato passado que ocasionou e inibição de agora, serão conhecidos. Como sabemos que as famílias, de modo geral, são constituídas de Espíritos que se relacionaram no passado, imaginemos as consequências se descobríssemos que nossos familiares e amigos mais íntimos estiveram envolvidos diretamente na  causa de nosso infortúnio presente?

Acreditamos seja prudente conduzir as nossas observações considerando os postulados básicos do Espiritismo, não discutindo também os sucessos, os insucessos e os conhecidos inconvenientes desta prática.

O descortinamento do passado não foi incentivado pelo Espiritismo, embora tenha sido prevista a sua possibilidade, pois se a Doutrina se esmera – e alcança plenamente este objetivo –  em demonstrar a utilidade e a necessidade do esquecimento do passado, qual seria a razão de apresentar ou sugerir métodos para se recuperar a memória de vidas anteriores? Seria um contrassenso!

Relendo O Livro dos Espíritos (1): “Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em Sua sabedoria”. Esta afirmação seria suficiente para nos aquietarmos. E mais, se a posição doutrinária era esta em 1857, data da publicação deste livro, já teria mudado neste século e meio? A Humanidade terrena avançou tanto assim para desconsiderar esta sábia diretriz divina? Adquirimos segurança íntima para nos vermos face a face com o nosso conturbado passado? Lembre-se de que a Terra é um mundo de Provas e Expiações, assim, não estão aqui geralmente encarnados Espíritos de escol.

A Doutrina nos orienta a tranquilizarmo-nos diante da dificuldade íntima, aguardando para, em futuro próximo, obter o total esclarecimento da situação. Todavia, tudo indica ser a posição espírita insuficiente, pois cada vez mais o tema é trazido à baila dentro das casas espíritas, como se fosse dever do centro prestar esclarecimentos profundos sobre esta técnica não espírita. Há mesmo quem defenda o exercício da terapia dentro da instituição, pois a Doutrina é reencarnacionista e a terapia trabalha com as nossas muitas vidas. Pelo fato da Doutrina ensinar o princípio da reencarnação, consequência necessária da lei de progresso, como concluir que deveria também abrigar o trabalho de terapeutas para tentar desvendar estas vidas? Indicação inequívoca de ser ainda o Espiritismo desconhecido para muitos. Vigiemos com muito cuidado as modernas propostas inovadoras.

Mudemos o nosso foco de reflexão para o argumento de que ninguém é obrigado a sofrer, deste modo seria lícito procurar qualquer recurso para se livrar da causa do problema. Paulo já advertiu: “tudo me é permitido, mas nem tudo convém (1 Coríntios 6:12)”. Somos livres, senhores de nosso livre arbítrio, mas, cientes estamos: a semeadura de agora determinará a colheita futura. E mais, na esteira do raciocínio de que ninguém é obrigado a continuar sofrendo, pode se esconder a tese da eutanásia e dos defensores do suicídio, ambos graves atentados contra o bem maior: a vida.

Seria oportuno indagar qual a razão de se contestar a lei de Deus sobre o esquecimento do passado, afinal, em última instância, é a realidade a se apresentar, ou seja: Estes abnegados Espíritos, não medem esforços em ajudar os que ainda se encontram nas fileiras atrasadas da evolução, são elementos previstos na lei de Deus, e, contrariamente àqueles retrógados, poderiam ser conhecidos por: Ovelhas Brancas. Seria razoável esta posição espírita? Afinal, e a nossa crença? Seria a nossa fé raciocinada insuficiente para nos tranquilizar? O aprendizado da Doutrina não é capaz de trazer a alegria às nossas vidas permitindo conviver com, ou mesmo superar os nossos conflitos interiores? Se o corpo de ideias do Espiritismo não basta para trazer solução a esta questão, precisamos refletir cuidadosamente sobre a nossa opção espírita.

Conforme ensina a Doutrina dos Espíritos, muitos de nós pedimos, antes de reencarnar, plenamente cônscios de que não nos recordaríamos claramente desta escolha, esta ou aquela limitação, para o nosso próprio bem, após um demorado trabalho de preparação e após discussões com Espíritos mais evoluídos encarregados do nosso processo reencarnatório. Lançamos mão, deste modo, de uma das formas de se quitar graves deslizes passados, entretanto, surpresos estaremos ao cabo de nossa jornada, descobrindo que não aceitamos mais as inibições, e através da TVP, em muitos casos por mera curiosidade, quebramos o compromisso assumido, feito por nós mesmos e com aqueles que nos ajudaram a decidir e definir a nossa vida, antes de aqui retornarmos. Ao solicitarmos, percebemos que precisávamos deste testemunho, não pedimos sem motivo, por outro lado, se nos foi imposto antes de reencarnar, tem o mesmo efeito, estou sendo rebelde às determinações divinas, sempre educativas, jamais punitivas. Ademais, o espírita está plenamente informado sobre a inexistência do acaso, portanto, não há sofrimento sem causa justa, pode ser uma expiação, uma prova, ou ambos.

Quando o Espírito falha, parcial ou totalmente, em sua expiação ou prova, de modo geral será preciso refazê-la, retomar do ponto onde foi interrompida, assim, não nos parece razoável tentar modificar o curso de situações talvez plenamente acertadas no plano espiritual, através de buscas por informações passadas.  Na dúvida: Oração e Vigilância.

Se esta técnica fosse absolutamente necessária para bem viver, como fizeram os antigos, quando superaram as suas limitações e daqui saíram vitoriosos diante de si mesmos? A Humanidade e os Espíritos, de modo geral, são os mesmos. Se alcançamos vitórias no passado, sem a TVP, qual a razão de não podermos repetir a receita de sucesso empregada anteriormente? Estaríamos deixando-nos levar pelos modernismos e talvez esquecidos dos Espíritos protetores, dos Espíritos familiares? Pela prática da oração, estarão sempre ao nosso lado para nos tranquilizar com uma sugestão, uma intuição, para nos fortalecer a paciência, a convicção e a fé na justiça do Criador.

A Divina providência sugere: leitura, em momentos de crise, de uma mensagem destes livros espíritas tão bem escritos com todo o carinho, dedicação e amor, é como o refrigério da alma, da alma em sofrimento, talvez dilacerada pelas dúvidas e agonias atrozes, mas sempre capaz de se superar e vislumbrar novos horizontes; uma conversa mental sincera com os guias espirituais, é opção válida para trazer paz e tranquilidade em momentos de suprema revolta ou desânimo; o esquecimento de nós mesmos em contato com o sofrimento alheio, muita valia possui, pois quando nos ocupamos da dor do próximo, a nossa pode diminuir ou mesmo desaparecer, por encanto. Temos ainda a voz da consciência para nos advertir e nos guiar.

Se Deus determina o esquecimento das vidas passadas, também nos dá recursos variados para superar as consequências deste passado, permitindo-nos continuar com a alegria de viver apesar dos espinhos carregados. E quem não os tem? Se não fosse assim, Deus desejaria o nosso sofrimento, pois nos faz esquecer a causa de nosso infortúnio e nega recursos na vida presente para bem suportá-lo.

Alguns, todavia, têm recordações espontâneas de sua(s) vida(s), entretanto, este fato é uma condição de exceção, com um fim útil, talvez previamente acertado no plano espiritual, permitido por Deus, jamais representando a regra geral. Ademais, muitas vezes são fragmentos de vidas, raramente são longos trechos de lembranças. Regressão de memória para confirmar a lei da reencarnação é técnica válida, usada há bom tempo, mas com fins terapêuticos. Avaliemos com muito cuidado, usemos o nosso bom senso antes de optar por descortinar um passado que não sabemos se seremos capazes de enfrentar e conviver.

Lembremo-nos da bondade de Deus, dos recursos por Ele oferecidos. Podemos superar ou conviver com as nossas barreiras ou limitações, sejam elas quais forem, pois Deus não dá fardo maior para se carregar do que podemos suportar.

Experimentemos de hoje em diante esta variante: Trabalho, Vigilância e Paciência – TVP, quem sabe reencontraremos a nossa paz interior tão almejada.

1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. Parte 2ª, cap. VII, q.392.

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