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Trabalho voluntário

Autor: Thiago Rosa

Caixa de papelão nas mãos, dedos empoeirados e um fio de suor que escorre no canto da face. Correria e pés desencontrados. Foi desta forma que adentrei numa instituição que aloja algumas famílias de diversas partes do país para tratar do seu filho com câncer na cidade paulistana. É evidente que São Paulo, maior cidade do país e da América Latina, tem melhores hospitais e maiores condições de um tratamento mais eficaz neste tipo de doença. Não me envergonho em dizer que meu receio maior era o que eu poderia encontrar ali quando adentrasse pelo portão. Felizmente neste dia, o qual tinha ido levar alguns alimentos arrecadados pela Mocidade, acontecia a festa referente ao dia das crianças. A alegria por momentos estava estampada ali entre aquelas crianças. Feliz também fiquei em ver uma grande casa como aquela poder receber diversas crianças e cada qual com necessidades específicas. Procurava naquele momento o sentimento de compaixão ao invés de dó ou pena. Mas não tem como coração não ficar partido.

Se eu já fiquei desta forma, me pergunto como é que os trabalhadores daquele local que se empenham naquele seu trabalho voluntário, na entrega de horas do seu dia, da troca de estar com a família em seu lar a estar ali e compartilhar momentos como dedicar cuidados aos que ali precisam. Meu pequeno fio de suor, por levar umas caixas pesadas nos braços, não deve significar nada em relação a doação daquelas pessoas trabalhadoras que ali estavam. E via no semblante deles, mesmo que seja emocional de minha parte, que era compensador tudo aquilo. Fiquei surpreso quando uma das instrutoras disse: “O rapaz que vem fazer a leitura do relógio da água outro dia ficou abismado em gastarmos cerca de R$1000. Nós também temos horas que nem sabemos como vamos conseguir pagar, mas as coisas sempre se ajeitam. É por Deus. É por caridade das pessoas e vamos nessa. Enquanto pudermos, gastaremos todas as nossas energias e esforços”.

Tem dias que nos marcam, e este foi um deles na minha vida. E olhe que nem fiquei muito tempo lá. Mas a confiança em Deus nos faz crer que as coisas continuam em ordem conforme sua lei e sua obra. Mas se pensarmos puramente nisso, que tal então deixarmos tudo como sua lei e suas obras simplesmente? Cada um por si e que Deus proteja todo mundo, oras! Já pensou se todos pensassem desta forma?

Hoje em dia o trabalho voluntário já ganhou tamanha importância, e isto se deve bastante às diversas Organizações Não Governamentais (ONGs) que foram criadas e o meio fácil de se fazer a divulgação pela Internet, que até para o currículo profissional do individuo é sinônimo de diferença na hora de uma seleção entre os candidatos. Sejam pequenas, grandes, hiper empresas já inclusive criam projetos internos e cultura entre os funcionários para a conscientização de trabalhos voluntários como visitar uma instituição social, arrecadar alimentos ou produtos de higiene para casas assistenciais, ou mesmo, na realização de mutirão entre os funcionários para arrumar, limpar ou reformar uma creche.

Alguns anos atrás, eu e mais uns quatro jovens de mocidade, fomos conhecer e até ajudar no trabalho voluntário no hospital de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. Assistimos uma palestra sobre qual é o tipo de trabalho realizado, como ajudar, como se proteger e proteger o enfermo e até mesmo como lidar com as diversas situações que poderiam nos ser apresentadas. Eu confesso humildemente que fugi da raia. Eu como muitos homens sou um pouco mole pra estas coisas de hospitais, ver pessoas adoentadas ou até mesmo em situações muito complicadas, fora a timidez. É, muitas vezes somos tímidos até para fazer o bem. Sei que preciso me reformar em relação a isso. Mas me surpreendeu que um de nossos amigos continuou o trabalho. Rafael Medeiros tinha só 15 anos naquela época, era o mais novo de todos nós. Suas atitudes de brincalhão, garotão e cheio de atividades que poderiam lhe aguçar no mundo lá fora não lhe barraram de continuar o serviço. Foi inclusive um exemplo pra nós em duas coisas muito claras: não duvidar das capacidades dos outros e muito menos pré-julgar alguém por suas atitudes, vestuário, idade e tudo mais que podemos imaginar. E pensar que o garotão dava comida na boca dos doentes e fazia companhia para eles.

Estes dias eu fiquei super interessado também quando fui em uma das grandes redes de hipermercado que existem por aí e vi um monte de gente com um colete amarelinho, com pastas nas mãos, nas bocas dos caixas e ajudando os clientes a colocar os produtos nas sacolas plásticas. Todos eles eram ligados a uma ONG que recolhia alimentos doados pelas pessoas que iam fazer compras, para serem entregues numa campanha contra a pobreza no nordeste brasileiro. Muito interessante isso. Interessante porque o hipermercado liberou o trabalho deles, os coletinhos amarelos ajudavam as pessoas a guardar também o seus produtos nas sacolas e quem doava via instantaneamente que o produto era embalado e separado junto com um montante para ser doado. Atos como estes ‘obrigam’ a sociedade a conviver com este tipo de trabalho e inclusive a participar de forma bem simples. Afinal, quem está com o carrinho cheio de compras não vai sentir no meio de tudo aquilo a soma de uma farinha, um açúcar ou um saco de feijão pra ser doado.

Voluntariado

Mas então, qual a importância deste tipo de serviço? O que realmente define um trabalho voluntário?

Pois bem, segundo definição das Nações Unidas (ONU), o voluntário é o jovem ou adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte de seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social ou outros campos.

Um estudo realizado pela Fundação Abrinq pelos Direitos das Crianças, definiu-se o voluntário como ator social e agente de transformação que prestas serviços não remunerados em benefício da comunidade. O voluntário doa o seu tempo e seu conhecimento, doa sua energia em favor do próximo ou a alguma causa que crê, como suas próprias motivações pessoais, que podem ser de caráter religioso, político, cultural, filosófico e por aí vai.

O engajamento por determinada atividade voluntária pode vir com o despertar da consciência para os problemas reais a que o individuo presencia em sua sociedade. Sem querer esperar por promessas dos governantes ou por ver a possibilidade de que ele é um agente transformador e pode mudar, o serviço voluntário aparece como oportuno para ideais traçados. Isto sem contar na oportunidade de transformação íntima e individual, na reforma do seu “eu”.

Este tipo de trabalho eu faço um paralelo com os jovens trabalhadores espíritas que organizam eventos, limpam escolas, banheiros, fazem almoços, doam seu tempo em amor a uma causa, em amor ao sei próximo, na solidariedade com outro jovem. Não deixa de ser um belo trabalho voluntário assim como muitos outros, assim como muitas casas espíritas, órgãos, entidades, igrejas que se preocupam tanto com o crescimento moral e espiritual de seus frequentadores, como no auxílio social de pessoas necessitadas. Ser voluntário é nada mais do que ser amoroso. Creio eu que fios de suor se transformarão em rios de alegria.

Fala MEU! Edição 44, ano 2006

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