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O comércio de drogas

Autor: Eurípedes Kuhl

Éter

O éter é o anestésico mais conhecido universalmente e, como tal, geralmente é administrado por via respiratória.

O éter comumente utilizado nos hospitais, farmácias e mesmo nos lares é o sulfúrico (C2 H5)20. Seu uso médico atual restringe-se quase que somente a antisséptico externo.

É uma substância orgânica, líquida, incolor, volátil e inflamável.

Seu uso foi largamente difundido pelos foliões há algumas décadas, como acessório dos festejos carnavalescos, adicionando-se-lhe perfume e contido em bisnagas, metálicas ou de vidro.

Os usuários do éter buscam seus efeitos calmantes e refrescantes, ambos ilusórios, pois sua ação no sistema nervoso central pode causar parada cardíaca ou parada respiratória, levando à morte.

Cola de sapateiro

Foi após a Segunda Guerra Mundial (1939 ‒ 1945) que a grande onda de drogas começou a açoitar os Estados Unidos e outros países ocidentais.

A expansão da bioquímica e da farmacologia foi tão grande depois da guerra que, mensalmente, novas drogas eram lançadas no mercado, cada vez mais consumidor.

A geração mais velha aderiu às pílulas tranquilizantes; os jovens, ao contrário, estavam ávidos por descobrir substâncias que alterassem a mente, proporcionando êxtase.

Os universitários, com assombroso afinco nas pesquisas e com as facilidades ao seu alcance, descobriram as últimas novidades no setor.

Descobriram a possibilidade de cheirar cola de celulose e algumas tintas, e, identificando os elementos intoxicantes desses compostos, passaram a procurá-los em outros compostos.

Cogitaram alguns governos em suprimir do mercado tais tóxicos. Contudo seu emprego na indústria era (como ainda é) tão vasto que tais projetos foram abandonados.

A chamada cola de sapateiro é um produto tóxico que contém o solvente tolueno. Além disso, esse solvente tem emprego industrial na preparação de vários compostos, entre eles o TNT (trinitrotolueno), explosivo muito utilizado em demolições.

O tolueno é uma substância orgânica líquida e incolor, derivada do benzeno. É extremamente cancerígeno e alucinógeno. É o mais barato dos solventes.

Nos Estados Unidos e Europa, existem leis limitando seu uso nas colas em 4%. No Brasil ele é usado na proporção de 25%.

A cola de sapateiro, manuseada por operários, por tapeceiros, além dos próprios sapateiros, provoca sérios problemas de saúde: tonturas, enjoo e até câncer.

0s menores abandonados que cheiram a cola tóxica (clientes clandestinos do produto) geralmente ficam drogados, com mudanças de comportamento, em processos de alucinação, não raras vezes realizando ações criminosas, sempre violentas.

Mas há esperanças.

O Grupo Amazonas, fabricante de solados de borracha e poliuretano (faturamento anual, no início dos anos 90 de Cr$ 20,4 bilhões), através de uma de suas 12 divisões, a Quimicam, produtora de adesivos, está lançando no mercado 100 produtos de uma família de colas atóxicas que não usam o solvente tolueno.

Canetas tóxicas

A Folha de São Paulo, de 01 de dezembro de 90, publicou:

O procurador da República do Paraná, Alcides Alberto Munhoz da Cunha, 42, enviou ontem à tarde ofício à Polícia e Receita Federal do Estado impedindo a entrada no país das canetas japonesas consideradas tóxicas.

O produto é adquirido na fronteira com o Paraguai e a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, ordenou que todas as Procuradorias do país determinassem a proibição de sua comercialização. As canetas usam um produto químico chamado xileno altamente tóxico e que pode ser fatal, se ingerido.

O xileno é um hidrocarboneto aromático, utilizado como solvente e como intermediário na preparação de ácidos (ftálicos) empregados industrialmente em matéria plástica, lacas e vernizes.

Éter ‒ Tolueno ‒ Xileno

Três substâncias de emprego original benéfico à humanidade, mas cujo uso, em paralelo, mentes doentias desvirtuaram.

Mais uma vez comprova-se que o ser humano, não raras vezes, utiliza de forma equivocada, mas consciente, a bênção do livre-arbítrio.

Só mesmo o embotamento da inteligência ‒ outra bênção divina ‒ pode explicar, sem no entanto, jamais justificar, tamanho erro, pois:

  • Em primeiro lugar, porque a utilização de tais produtos como drogas alucinantes ou prazerosas afeta grave e irremediavelmente a saúde;
  • Em segundo lugar, a irresponsabilidade desses viciados, onera à família e à sociedade, pelo desgaste e despesas na sua recuperação, além do que se tornaram improdutivos em quaisquer atividades trabalhistas;
  • A terceira ‒ e mais importante das reflexões ‒ diz-nos à razão que tais desatinos trarão pesados débitos para o futuro dos agentes, futuro esse que pelas luzes espíritas ultrapassará a vida presente, projetando-se talvez em até algumas outras existências porvindouras, nas quais nascerão com a saúde já comprometida.

Comércio ilegal de produtos tóxicos:

O narcotráfico

Os poderosos traficantes de tóxicos geralmente não são viciados.

Viciados são os passadores, meros instrumentos daqueles.

Como crime organizado, o tráfico ilegal das drogas envolve imensas somas em dinheiro.

Os traficantes ainda são menos poderosos do que os proprietários ocultos do “negócio”, os quais, dificilmente são identificados.

Os passadores oferecem gratuitamente um “fininho” (cigarro de maconha) à vítima em potencial ‒ geralmente estudante.

O primeiro, o segundo, o terceiro ‒ todos grátis.

Suspensa bruscamente a gratuidade, a vítima passará a comprar.

Como viciado, torna-se um marginal, fica à margem da vida e nada produz.

Se for rico: Apenas curte e contamina o ambiente que frequenta.

Se for pobre:

  1. Passa a ser traficante, recebendo como paga alguns “fininhos” a título de comissão, por novos “clientes” (vítimas) que consiga geralmente junto a colegas no interior das escolas;
  2. Furtará valores, no lar ou fora dele, para arrecadar dinheiro e assim sustentar o vício;
  3. Terá os primeiros contatos com a lei; abandona os estudos e perde o emprego;
  4. Exigirá dos pais doações em dinheiro (mesadas), mentindo sempre quanto ao emprego que fará da quantia;
  5. Agirá com promiscuidade sexual, mediante pagamento:
  6. Rapazes: homossexualismo;
  7. Meninas-moças: prostituição;
  8. Cometerá até assassinato, se estiver em crise, e se fracassarem as tentativas acima.

Como câncer de infinitas metástases, o vício infiltra-se em muitos organismos sociais.

Os ambientes do narcotráfico têm astral baixo, e, consequentemente, neles proliferam o crime, a violência, a chantagem, a coação e uma infinidade de misérias morais.

Interesses financeiros

O comércio ilegal de drogas movimenta, anualmente, cerca de 500 bilhões de dólares ‒ quase o que circula no mercado mundial de armas.

Como vimos, páginas atrás, há grupos buscando descriminar o uso das drogas.

Até mesmo grupos conservadores dos EUA pregam a legalização do comércio da droga porque o governo poderia taxá-la com grande lucro.

A hidra das variedades de tóxicos e das modalidades de uso difere daquela de Lerna, derrotada por Hércules, por não ter apenas sete cabeças, tem tantas que é inútil tentar decepá-las.

Para acabar com essa terrível moderna hidra ‒ tóxicos ‒ suas incontáveis cabeças devem ser cortadas no ponto de onde se irradiam.

Esse ponto chama-se dinheiro.

Números da ONU, em 1992, mostravam que só nos EUA e Europa, cerca de US$ 250 bilhões foram “lavados” na distribuição de drogas, em negócios ilícitos.

No mundo todo, a soma era de US$ 500 bilhões, negócio menor apenas do que o comércio mundial de armas.

(Fonte: Atlas da história do mundo/ Folha de S. Paulo).

Coca é fonte econômica de grupos guerrilheiros (Fonte: Jornal A Folha de São Paulo de 10 de Junho. 1990)

As populações dos Andes centrais, onde estão o Peru e a Bolívia, cultivam coca há mil anos. As recentes pressões internacionais para que o Peru extermine com as plantações de coca não levam em conta o hábito indígena de mascar as folhas e as 200 mil famílias peruanas que vivem de seu cultivo.

Os dois candidatos ao segundo turno das eleições presidenciais já deixaram claro que o combate à guerrilha é mais importante para o país que a erradicação das plantações de coca.

O aumento do consumo de cocaína nos EUA transformou a venda das folhas de coca ‒ matéria-prima para a produção da droga no produto agrícola mais lucrativo do Peru. Assim, os dois grupos guerrilheiros peruanos, o Sendero Luminoso e o Tupac Amaru, descobriram no comércio das folhas uma fonte inesgotável de fundos para as suas atividades.”

Estamos em 1998 (ano em que foi escrito o livro).

Como se sabe, hoje o Peru vive um regime político de exceção ‒ de força.

Citado regime consolidou-se ainda mais após o insucesso, em 1997, de um grupo terrorista presumivelmente dos Tupac Amaru, na ação de sequestro, iniciada em dezembro de 96, de centenas de autoridades internacionais, reunidas em solenidade oficial na Embaixada do Japão, em Lima.

De qualquer forma, nada indica que a plantação e o comércio das folhas da coca vá se findar nos países citados. Pelo menos, a curto prazo.

Tóxicos: maiores exportadores:

Cocaína

Os grandes exportadores estão localizados na América do Sul. Os números abaixo foram sintetizados pela Interpol, a partir da droga que é apreendida, em contrabandos internacionais:

  • Colômbia ‒ 48,0%
  • Brasil ‒ 7,6%
  • Bolívia ‒ 5,0%

Cotação da cocaína (países exportadores)

Custo de 1 kg de cocaína no mundo (U$):

  • Colômbia e Brasil ……… 1.500
  • Holanda ……… 28.000
  • Portugal ……… 51.000
  • Grécia ……… 89.000
  • Dinamarca ……… 230.000

Os preços astronômicos alcançados no mercado internacional pela droga parecem justificar o infeliz recrudescimento da ação exportadora.

Em termos mundiais, a atenção da moda da droga entre 90 e 91 eram os mercados:

Japão: Pelas imensas possibilidades financeiras;

África e Oriente Médio: Pela deficiência da legislação naquelas regiões;

Líbano: Pelo enfraquecimento das instituições e da polícia, face a guerra civil instalada. (Fonte: Folha de São Paulo ‒ 28 de novembro de 1990).

Hoje (1998), infelizmente, a bordo da globalização mundial, sob os auspícios do capitalismo, insensível por natureza, não mais há alvo predileto: o mundo todo o é.

Maiores produtores mundiais de drogas

DrogaProdução em toneladasHectares cultivados
cocaína1989198819891988
Peru124.40897.000120.415115.630
Bolívia65.99857.44553.92049.976
Colômbia33.48719.00042.50027.230
Equador270500240300
Total224.163173.945217.075193.236
DrogaProdução em toneladasHectares cultivados
maconha1989198819891988
México47.5905.65557.9259.000
Colômbia2.8005.9272.4009.200
Jamaica1903401.7901.257
Belize66120436660
Outros3.5003.000
Total54.14615.04262.55120.117
DrogaProdução em toneladasHectares cultivados
ópio1989198819891988
Birmânia2.6251.065152.760116.700
México85459.6007.738
Tailândia50234.7954.604
Guatemala141.495
Total2.7741.133168.650129.042
Fonte: O Estado de São Paulo, de 10 de abril de 1990

Diante dos números acima, não há necessidade de qualquer esforço de análise para ser verificado que nenhuma das chamadas potências mundiais é produtora ou exportadora de drogas, isso é coisa para países subdesenvolvidos, parece ser o que pensam a respeito e como agem.

Ou será que estamos enganados?

‒ Pode ser.

Contudo nos chamados países de primeiro mundo bem que existem ávidos consumidores de tóxicos.

Triste quadro mundial, no qual determinados segmentos sociais pobres, para sobreviver, dedicam-se à atividade do plantio ou exportação de tais infelizes produtos de consumo mundial.

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