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Espetáculo mediúnico

Autor: Marcus De Mario

Alguns Centros Espíritas por este nosso Brasil promovem mensalmente, ou mesmo semanalmente, sessões mediúnicas de psicografia de entes queridos desencarnados, com o objetivo de consolar os familiares que aqui se encontram encarnados e com um vazio na alma, dando-lhes ao mesmo tempo uma prova da continuidade da vida após a morte. O objetivo pode ser louvável, mas a prática merece alguns questionamentos através dos princípios que formam o Espiritismo, a começar que mediunidade não se deve prestar a espetáculo público, exatamente o que acontece nessas reuniões, para onde acorrem dezenas e mesmo centenas de pessoas para dar o nome de um familiar desencarnado, na esperança de obter através dos médiuns alguma comunicação do falecido.

Os Espíritos não estão às nossas ordens, não estão à toa no mundo espiritual, onde a lei do trabalho também vigora, e com mais intensidade do que aqui na Terra, ou seja, eles possuem suas atividades e funções e não acorrem ao nosso chamado somente porque queremos que eles nos enviem uma mensagem naquele dia e hora específicos. Supondo que o Espírito possa atender ao chamado, nem sempre, dependendo de sua condição espiritual, ele o pode fazer, pois dependerá de autorização superior, nem sempre obtida. Supondo que possa se comunicar e tenha autorização para isso, há o problema de conseguir a sintonia com o médium, o que nem sempre é fácil, e isso pode impedir sua manifestação. Digamos ainda que ele preencha os três requisitos, mesmo assim há uma outra questão a considerar: não haver autorização para sua comunicação porque nós, os interessados em recebê-la, não estamos preparados, não estamos prontos, e o consolo e esclarecimento poderão se perder, não sendo útil a manifestação do desencarnado.

Tudo isso levando em consideração que o Espírito esteja numa condição de lucidez e equilíbrio, mas e quando não está amargando sofrimentos morais intensos, numa péssima situação do outro lado da vida? Nesse caso sua manifestação através de um médium será quase impossível, ou então poderá mesmo ser danosa, se conserva intimamente pensamentos de ódio e de revolta.

Até aqui analisamos a questão da sessão mediúnica pública de psicografia sob o ângulo dos desencarnados. Voltemo-nos agora para os componentes da reunião mediúnica e seu público. O médium que participa dessa reunião se encontra sob pressão: ele deve exercer a psicografia recebendo comunicação daquele Espírito específico cujo nome foi anotado numa papeleta. O Espírito, como vimos, pode até estar presente à evocação que lhe foi feita, mas e problema da sintonia fluídica e magnética entre ambos? E se o médium não estiver no melhor dos seus dias, seja no campo emocional ou fisiológico? O médium pode não conseguir sentir a presença espiritual e, portanto, não psicografar. Isso será ruim para ele? Será chamado à atenção? Será afastado da reunião? Nesse caso, não será melhor escrever algo que venha à mente, algumas palavras de paz e esperança, e entregar aos familiares?

Todo médium está sujeito ao animismo (manifestação da própria alma) ou a ser enganado por um espírito leviano que apenas aproveita a ocasião, ou, o que é mais grave, mesmo à mistificação, quando finge receber o Espírito, sendo que em verdade não está acontecendo nenhum fenômeno mediúnico naquele momento.

Por todos esses motivos, com base no estudo sério e aprofundado do Espiritismo, somos contra a realização dessas sessões públicas de psicografia, seguindo as orientações dos Espíritos Superiores e de Allan Kardec, principalmente aquelas que estão publicadas em O Livro dos Médiuns.

Também não podemos esquecer que os pensamentos das pessoas assentadas na plateia projetam verdadeiros dardos energéticos sobre dirigentes e médiuns, que são suscetíveis aos mesmos, podendo desequilibra-se ou não conseguir a sintonia para a psicografia por causa da intervenção de pensamentos confusos dos familiares e amigos ali presentes, muitos dos quais desconhecendo os princípios do Espiritismo.

Entendamos que a psicografia de um ente querido recém desencarnado somente é válida se o texto trouxer algum(s) elemento(s) que possa comprovar sua autenticidade, como uma data específica, um acontecimento de conhecimento apenas da pessoa ali presente, linguagem típica de quando estava encarnado, um apelido utilizado na intimidade familiar e assim por diante, pois palavras de consolo e esperança qualquer um pode escrever.

A mediunidade é muito séria para servir de chamariz ao público num espetáculo de portas abertas, e os Centros Espíritas que promovem esse tipo de reunião fazem um desserviço à boa divulgação do Espiritismo, mostrando, em verdade, por parte de dirigentes e médiuns, ignorância dos princípios doutrinários, como alerta Kardec na introdução de O Livro dos Médiuns.

O consolador – Artigos

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