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Mediunidade e animismo

Autora: Christina Nunes

Em outro dia comentei em um artigo que há de chegar o dia em que as realidades da vida espiritual serão coisas tão corriqueiras quanto adormecer e acordar pela manhã, transcendendo definitivamente esta zona delicada de crença e de descrença na qual se situam atualmente, em obediência aos atuais patamares de entendimento e de alcance evolutivo da população reencarnada no planeta.

Anseio pela chegada desta época, para que caiam naturalmente na inexistência determinadas polêmicas que, nesta zona limítrofe na qual permanecemos, muito amofinam os trabalhadores e simpatizantes das lides espíritas – mais especificamente os médiuns. Refiro-me ao problema dos efeitos do animismo (intervenção do Espírito do próprio médium nas manifestações mediúnicas), inevitavelmente mesclado em muitas das realizações mediúnicas.

Por experiência e por estudo, já li e já constatei muita coisa importante a respeito desta questão. Sobretudo, a necessidade imperiosa de se conservarem os médiuns inabaláveis, de dentro daquela postura magnífica ensinada pelo saudoso mestre Chico Xavier, que em alguma vez, n’algum lugar, fez esplêndida menção ao papel importante da borracha – leia-se metaforicamente: humildade – no trabalho mediúnico (entre os quais o psicográfico), mantendo-se a devida clareza de consciência no se admitir a grande margem de chances de falhas, nada obstante toda a sua alegada idoneidade.

Eu mesma já experimentei, se bem que às avessas, vivência ilustrativa dos transtornos decorrentes desta questão. Houve ocasião em que, por excesso de zelo quanto a possíveis indícios de animismo nos textos recebidos do meu mentor espiritual, acabei eu mesma, e por própria conta, fazendo uma confusão com a materialização do que se pretendia transmitir via linguagem escrita: por duas vezes, alterei posteriormente detalhes circunstanciais que me pareceram eventualmente mal colocados, para depois ser, literalmente, “empurrada” pelo meu mentor em direção à comprovação de que o que ele transmitira em primeiro lugar, por intermédio da psicografia, era, de fato, o correto – e que não deveria ter sofrido alterações, por mais que tivesse me soado inadequado no momento da leitura após o recebimento das mensagens, pois que “em muitas das vezes as coisas se encaixam posteriormente como quebra-cabeças, do qual não temos como adivinhar o sentido no início” – como enfatizou.

É neste ponto que entra o aspecto melindroso destes episódios – porque se o médium não dispuser de uma constituição psicológica e de um preparo íntimo robusto, e da segurança proporcionada por um percurso salutar através do estudo aprofundado da Doutrina, e da experiência obediente aos necessários cuidados sugeridos pela Espiritualidade assistente dos trabalhos e iniciativas realmente sérios neste terreno, arrisca-se a imergir naquele doentio e improdutivo esmorecimento das melhores convicções e intenções, mergulhando-se, voluntariamente, em desânimo – e, nos piores casos, abandonando a mais nobre das causas de esclarecimento e de auxílio ao desenvolvimento do espírito humano. Deixando-a à míngua, nestas ocasiões, de um trabalhador antes valoroso e empenhado na seara espírita, mais do que nunca precisada, nos tempos turbulentos em que vivemos, de cooperadores generosos e grandes em espírito e em coragem para desbravar novos caminhos em direção ao mundo de maiores luzes íntimas, com o qual todos nós sonhamos.

Salvo raras almas refulgentes em evolução espiritual que nos honraram com sua presença na face corpórea do orbe, somando temporariamente aos nossos modestos esforços a manifestação do seu amor sem limites para com a humanidade, poucos são os médiuns de fato isentos das idiossincrasias por vezes indesejáveis deste trabalho tão singular na materialidade. Imprescindível, portanto, a retomada diária da consciência de que, nestes misteres, somos todos passíveis de falhas, como meros instrumentos imperfeitos de transmissão e intercessão daqueles amigos da vida invisível que, por intermédio de recursos infinitamente mais eficientes, operam em favor do nosso sucesso nas provas e no aprendizado empreendido durante o estágio na vida física. Mas de modo algum isto deve abrir precedente a uma postura derrotista e à derrocada malsã de todo um projeto de vida traçado ainda na invisibilidade, na maioria das vezes, por um agrupamento numeroso e valoroso de almas empenhadas num bem maior em prol de mais de um envolvido.

Contar com escolhos na trajetória, e aprender a contorná-los, sem comprometer e invalidar as metas do trabalho no meio espírita, é o grande desafio de menores e maiores agentes das lides mediúnicas, mantendo em mente que se Jesus, o Emissário sem máculas, sofreu tamanha mostra de despreparo dos povos daquelas épocas para assimilarem a divina envergadura da Sua Mensagem para o mundo, quanto mais a nós, humildes operários vacilantes nos próprios passos, cabe a obrigação de nos conscientizarmos do tanto de aprendizado que cada erro nos proporciona para a execução futura de uma missão progressivamente melhorada e mais exata, em favor da lucificação de consciências e da sublimação do espírito humano.

O consolador – Ano 3 – N 121

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