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O desvio do Enem: De avaliação para vestibular

Autor: Marcus De Mario

Assistimos o sucateamento e banalização do ensino brasileiro através da desfiguração do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que, em definitivo, tornou-se um vestibular para o ensino superior, com toda pompa e circunstância, como diziam os nobres imperiais.

Já não se disfarça essa banalização. As notícias e reportagens por toda a mídia revelam que as escolas levaram para a sala de aula o espírito e os métodos dos antigos cursos pré-vestibulares, e que muitos alunos, inclusive da rede pública de ensino, se valem dos chamados cursos preparatórios para reforço do estudo, cursos esses que já se prepararam para contemplar esse novo filão de mercado.

O Enem está em desvio de função, não serve mais para a finalidade a que foi criado, que era o de avaliar a evolução dos estudantes desse segmento de ensino. Agora as notas valem para garantir vaga nas faculdades, ou seja, nos cursos universitários, e o exame tornou-se uma máquina famigerada engolidora do ensino e destruidora da educação. Os adolescentes são devorados sem cerimônia pelo estresse, acúmulo de matérias, estudos intermináveis, memorizações, numa luta desenfreada pela conquista de uma vaga no ensino superior.

E o grande pai, ou seja, o Ministério da Educação, a tudo assiste complacente e, pior, incentivando tal absurdo. Triste fim de um teste que deveria avaliar, como ferramenta para melhoria contínua do ensino médio, e que se vê desfigurada, agora servindo apenas como vestibular para outro segmento de ensino.

Não vamos aqui discutir os interesses que estão por trás desse acontecimento. As consciências responsáveis haverão de entender a situação de derrocada a que chegamos, mais cedo ou mais tarde, quando haveremos de corrigir esse desvio e realizar avaliações decentes e pedagogicamente mais corretas.

A continuarmos desse jeito, que adianta homenagear Paulo Freire? Ou realizar encontro internacional de práticas pedagógicas inovadoras? Se o discurso não é acompanhado pela prática, é como navegarmos para afundar ao largo, sem chegar ao porto.

Acudam os deuses da educação, para que não percamos o rumo em definitivo.

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