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O espírito e o cãozinho

Revista Espírita, Junho de 1860

O Sr. G.G…, de Marseille, nos transmite o fato seguinte:

“Um jovem morreu há oito meses, e sua família, na qual se encontram três irmãs médiuns, evoca-o quase diariamente com a ajuda de uma cesta. Cada vez que o Espírito é chamado, um cãozinho, que muito amara, salta sobre a mesa e vem cheirar a cesta, produzindo pequenos gemidos”

A primeira vez que isso ocorreu, a cesta escreveu:

“Meu bravo cãozinho, que me reconhece.”

Eu não vi o fato, mas as pessoas de quem o tenho, frequentemente, foram testemunhas, e são muito bons Espíritas, e muitos sérios para que me seja permitido pôr em dúvida a sua veracidade. Perguntei-me se o perispírito conservaria bastante partículas materiais para afetar o odor do cão, ou se o cão era dotado da faculdade de ver os Espíritos; é um problema que me pareceria útil aprofundar, se todavia não estiver já resolvido.

Evocação de M.***, morto há oito meses, e do qual veio a ser questão.

R. Estou aí.

Confirmais o fato relativo ao vosso cão, que vem cheirar a cesta que serve em vossas evocações, e que parece vos reconhecer?

R. Sim.

Poderíeis dizer-nos qual a causa que atrai o vosso cão para a cesta?

R. A extrema fineza dos sentidos pode fazê-lo adivinhar a presença do Espírito, vê-lo mesmo.

O cão vos vê ou vos sente?

R. O odor, sobretudo, e o fluido magnético.

Charlet

Nota. Charlet, o pintor, deu à Sociedade uma série de ditados muito notáveis sobre os animais, e que publicaremos proximamente; foi a esse título, sem dúvida, que interveio espontaneamente na presente evocação.

Uma vez que Charlet interveio na questão que nos ocupa, rogamos dar-nos algumas explicações a esse respeito.

R. De bom grado. O fato é perfeitamente verossímil, e por consequência natural. Falo em geral, porque não tenho conhecimento daquele que se trata. O cão está dotado de um organismo todo particular; ele compreende o homem, é dizer tudo; ele o sente, segue-o em todas as suas ações com a curiosidade de uma criança; ele ama, que mais é, ao ponto, – e se têm bastantes exemplos para confirmar o que exponho – ao ponto, disse eu, de se devotar a ele. O cão deve ser, disso não estou seguro, ouvi-o bem, mas o cão deve ser um desses animais vindos de um mundo já avançado para sustentar o homem em sua pena, servi-lo, guardá-lo. Acabo de falar das qualidades morais que o cão possui em si mesmo positivamente. Quanto às suas faculdades sensitivas, elas são extremamente finas; todos os caçadores conhecem a sutilidade do odor do cão; além desta qualidade, o cão compreende quase todas as ações do homem; compreende a importância de sua morte; por que não adivinharia sua alma, e por que mesmo não a veria?  CHARLET.

No dia seguinte, a senhora Lese…, médium,- membro da Sociedade, obteve em particular a explicação seguinte sobre o mesmo assunto. “O fato citado na Sociedade é verdadeiro, embora o perispírito, desligado do corpo, não tenha nenhuma de suas emanações. O cão cheirava a presença de seu senhor; quando se diz cheirar, entendo que seus órgãos percebiam sem que seus olhos vissem, sem que seu nariz sentisse; mas todo o seu ser estava advertido da presença do senhor, e essa advertência era lhe sobretudo dada pela vontade que se exalava do Espírito daqueles que evocavam o morto. A vontade humana fere e adverte o instinto dos animais, sobretudo o dos cães, antes que nenhum sinal exterior a haja revelado. Esse cão está colocado, por sua fibra nervosa, em relação direta conosco, os Espíritos, quase tanto quanto vós com os outros homens; ele percebe as aparições; dá-se conta da diferença que existe entre elas e as coisas reais terrestres, e delas tem um grande terror. O cão uiva à lua, segundo a expressão vulgar; uiva também quando sente a morte chegar. Nesses dois casos, e em muitos outros, o cão é intuitivo: vê menos do que sente; o fluido elétrico penetra-o quase que habitualmente. O fato que me serviu de ponto de partida, nada tem de espantoso, porque, no momento do desprendimento da vontade que chamava seu senhor, o cão sentia a sua presença tão viva quanto o próprio Espírito ouvia e respondia ao chamado que se lhe fizera.” Georges (Espírito familiar.)

Fala MEU! Edição 74, ano 2009

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