Autor: Osvaldo Camargo Bräscher
“O princípio mesmo da reencarnação, que inicialmente havia encontrado muitos contraditores, porque não era compreendido, é hoje aceito pela força da evidência e porque todo homem que pensa nele reconhece a única solução possível do maior número de problemas da filosofia moral e religiosa.” 1
“O princípio do melhoramento está na natureza das crenças, porque estas constituem o móvel das ações e modificam os sentimentos.” 2
Os princípios codificados por Allan Kardec funcionam como chaves de compreensão teórica, com o potencial de esclarecer os participantes das sessões de Espiritismo prático sobre os fatores que, a cada momento, podem ser combinados para determinar o êxito nas ações requeridas.
O relato de reunião mediúnica apresentado a seguir, exemplifica a aplicação do recurso da regressão de memória em conjugação com o princípio da pluralidade das existências. Empregado em situações específicas, esse mecanismo “refere-se ao processo espontâneo ou provocado que envia o Espírito a um passado, geralmente distante, que o traumatizou, resultando disso reflexos negativos no presente”.3 A tarefa de esclarecer será bem sucedida se o doutrinador e o grupo, como um todo homogêneo, promoverem a transformação moral do manifestante, modificando-lhe as convicções para melhor e, assim, retirando-o do estado de perturbação em que se encontra.
Eu destruo lares
– Eu gosto de ajudar as pessoas quando me dão coisas.
– E o que você faz para ajudar as pessoas?
– Ah, eu destruo lares, separo casais, faço as pessoas brigarem.
– Você acha que isso é ajudar?
– Claro que é, alguém me pede para ajudar, se me der coisas eu faço.
– Você sabe qual é a sua realidade atual?
– Eu sei que eu sou espírito, eu vou para um lado, eu vou para o outro, a gente é arrastado – uma hora tá num lugar, outra hora está em outro. [falar sobre evocação inconsciente]
– Você sabe o que acontece com você quando interfere na vida das pessoas?
– Mas por que você ficar me fazendo tantas perguntas?
– Não queremos julgar você, queremos ajudá-lo.
– Pode me ajudar, é só dar o que eu quero.
– Então, você sabe que teu corpo mental é influenciado a cada vez que você interfere na vida de alguém?
– Não sei. Não sei o que é corpo mental.
– Observe na tela que se forma, serão mostrados os casos em que você tem interferido. Veja as situações e os momentos em que você interfere. Olhe para o primeiro caso, e ao mesmo tempo observe o que ocorre dentro de você no teu corpo espiritual.
– Acontece uma coisa aqui no meu peito.
– Observe o segundo caso.
– Agora acontece algo no meu estômago.
– Observe o quadro todo das suas interferências, e veja o que se processa simultaneamente dentro de você.
– Fica tudo escuro dentro de mim.
– É assim que você está agora: escuro por dentro. Isto é o que você se tornou.
– A vida é assim mesmo.
– Você com certeza já realizou coisas boas. Recorde-se de um momento em que você agiu pelo bem de alguém, muito além do teu dever. Você saberá encontrar isto na própria memória.
– Montaria, cavalo. Ando a cavalo. Trabalho com gado. Meu patrão é dono de tudo. Ele é um homem mau. Ele tem muitas terras, ele não precisava tratar mal assim o filho dele. E a mãe do garoto não defende o garoto.
– E o que você faz?
– Eu ouço o menino.
– Você o aconselha?
– Sim, é tudo que posso fazer.
– Isto indispõe os pais do menino contra você?
– Sim, eu perco o emprego e eles me mandam embora.
– Agora retorne para conversar conosco. O que você acha de ter agido em favor do menino?
– Era o que eu podia fazer por ele.
– Você se arrepende por ter perdido o emprego?
– Foi melhor assim, pois ele era um homem mau e foi melhor eu ficar distante dele.
– Mas atualmente você prejudica as famílias. Por que faz isso? O que tem contra as pessoas?
– A vida é assim mesmo.
– Onde começou esse seu desprezo pelas pessoas? Recorde-se onde isso começou.
– Homens são maus. Usam a gente. Tiram a dignidade da gente. Aproveitam-se de nós.
– Então nessa existência você foi vítima de muitos prejuízos.
– Sim, os homens são maus, Deus é mau. Ele não se importa com o que acontece com a gente.
– Gostaria que você buscasse recordar-se do motivo do seu desencanto. Busque na memória onde tudo isso começou.
– A guerra. Meus filhos irão para a guerra. Não quero perder meus filhos.
– O que acontece? Vamos para a frente.
– Perco meus filhos na guerra. Isso não é justo, a vida não é justa comigo.
– Ainda não chegamos onde devemos chegar. É importante que você busque encontrar a fonte de sua desilusão. Recorde-se se você abandonou alguém, para que no futuro se encontrasse vulnerável e sofresse tanto nas mãos de outras pessoas.
– O cabaré! Vou para o cabaré. Deixarei meus filhos e o pai deles. Que se cuidem sozinhos.
– Você então abandona sua família e faz outra escolha de vida.
– É, eu vou embora.
– E o que acontece com seus filhos? Como eles se passam sem você?
– Eu não quero lembrar disso. Eu não quero ver isso.
– É importante que você se recorde para que você possa ajuizar se agiu certo ou errado.
– Meus filhos! Eles sentem muito a minha ausência. Eles se perdem na vida.
– Volte a conversar conosco com todas essas recordações.
– Estou aqui.
– O que você acha de ter abandonado seus filhos, e depois na encarnação seguinte você perder seus filhos na guerra? Você não acha que tudo que fazemos retorna para nós no futuro?
– Eu entendi tudo.
– Deus nos oferece oportunidades e agimos por nossa conta. Quando falhamos, precisaremos reparar todos nossos erros. Com o tempo aprendemos a considerar o que é bom e o que é ruim para nós mesmos e buscaremos não errar mais.
– Há uma luz que incide sobre mim.
– É um bom sinal.
– É como tem que ser.
– Essa luz apresentou-se a você?
– Vou com ele.
A visão das sombras presentes no próprio corpo mental não despertou o interesse do manifestante em abandonar as ações más. Interessante assinalar que a primeira encarnação recordada não conduz ao fulcro de suas imperfeições, mas mostra-lhe que já fora bom. Ao recordar-se da encarnação em que fugiu às responsabilidades familiares, a mudança de suas convicções foi imediata: Eu entendi tudo.
O caudal de novidades jamais deixou de fluir no Espiritismo prático, abrangendo tanto as reuniões mediúnicas quanto as rotinas de serviço da fluidoterapia. O dever continua a nos convocar para o estudo de progressividade, iniciativa que requer a cooperação entre os núcleos de experimentação.
Bibliografia
(1) KARDEC. A. Revista Espírita, maio de 1861. Discurso do Sr. Allan Kardec. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB. p.207
(2) KARDEC. A. Obras Póstumas, de Allan Kardec. Segunda parte, Credo espírita, Tradução Louis Neilmoris, Brasília: Portal Luz Espírita, edição digital, 2016, p.211
(3) PINHEIRO, Luiz Gonzaga. Aprendizagem mediúnica: hipnotismo e obsessão, Capivari: EME, p.44
Nota do Autor
Recebemos transcrições de atendimentos em reuniões mediúnicas para realização de estudo e eventual publicação. Núcleos interessados podem enviar solicitações para o e-mail [email protected]




