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Tomé, Apóstolo

Entre os doze Apóstolos selecionados por Jesus, consta Tomé. O nome vem do aramaico toma, que significa gêmeo que, em grego, é Dídimo. É como o nomina o Evangelista João, o que nos leva a crer que devia ser seu apelido.

A ele são atribuídos alguns escritos apócrifos, como os Atos de Tomé, escritos em siríaco e conservados em tradução grega; o Apocalipse de Tomé, escrito em grego, conservado apenas em latim e ainda O Evangelho de Tomé, cujo texto cóptico foi descoberto em 1945, no Egito. Desse, escritores eclesiásticos gregos afirmam que fazia parte de uma coleção de obras a respeito de Jesus, cuja descoberta se reporta aos anos 140-150.

Tomé era descendente de um antigo pescador de Dalmanuta, território de Magedan, cidade para onde foi Jesus, após a segunda multiplicação dos pães, conforme relatos dos cronistas do Evangelho, Marcos e Mateus.

Traços de sua personalidade no-lo apresentam como alguém rápido para pensar e para desacreditar. Andava segundo a lógica. Parecia desconfiar de tudo e de todos.

Alguns autores o apontam como portador de um certo pessimismo, que o levava a separar-se da convivência dos demais companheiros, por vezes.

De todos, era o que mais demonstrava interesse em que Jesus dilatasse a Sua zona de influência junto aos homens importantes e mais ricos. Sob seu ponto de vista, era necessário atender a algumas das exigências dos fariseus bem aquinhoados de autoridade e de riqueza. Disso dependia a vitória ampla e fácil do Evangelho, pensava. Por que, pois, Jesus não mostrava o Seu poder perante eles, para convencê-los?

Alguns meses antes da prisão, julgamento e morte de Jesus, quando se encontrava o grupo de Apóstolos e Jesus, na Pereia, ele deu mostras de grande heroísmo, influenciando positivamente os demais, o que nos diz que, entre os doze, gozava de certa autoridade.

Quando chegam a Jesus as notícias de que Lázaro, o amigo da cidade de Betânia, se encontra enfermo, Jesus prossegue a pregar por mais dois dias, após o que informa que voltará para a Judeia.

As palavras caem sobre os Apóstolos como um raio. No conceito deles, era um ato temerário apresentar-Se Jesus na Judeia, onde os fariseus estavam à espreita para prendê-lO.

Recordam eles ao Mestre dos perigos de há bem pouco, do desejo dos judeus de O apedrejarem.

Contudo, o Galileu começa a caminhar resolutamente, rumo a Jerusalém. Os discípulos se entreolham, hesitantes e apreensivos. Mas, foram seguindo o Mestre, com o coração acabrunhado.

Subitamente, num impulso, ouve-se a voz de Tomé:

Vamos também nós e morramos com Ele. O brado de intrepidez sugestionou os demais, que seguiram a Jesus, com novo ânimo.

Ao ensejo da prisão do Mestre, debandou Tomé, espavorido. Depois de algum tempo, contudo, sentiu o coração cheio de remorsos.

Segundo apontamentos de Humberto de Campos, Espírito, ele se teria disfarçado e acompanhado o cortejo até o Gólgota. O coração batia descompassado e ele procurou romper a massa popular, aproximando-se um pouco mais de Jesus.

O Carpinteiro andava a passos vacilantes, seguido de perto pelos soldados. Tomé pôde observar a serenidade do Mestre, apesar do martírio daquela hora, e vendo Suas mãos como duas rosas vermelhas, gotejando sangue, Sua fronte aureolada de espinhos, os pés ensanguentados, chorou discretamente.

O olhar de Jesus o descobriu entre tantas criaturas reunidas no Calvário. Tomé O sentiu sobre si e esperou que os lábios do Modelo e Guia se abrissem em reprovação sincera ao seu condenável e covarde procedimento.

Mas, de forma imperceptível, a voz dEle se lhe fez ouvir, alertando de que no Evangelho do Reino, o sinal do céu tem de ser o completo sacrifício de nós mesmos!11

Ainda assim, o discípulo continuou em sua atitude de dúvidas. Para ele, o Cristo era a mais alta figura da Humanidade, em se falando do amor. No entanto, no que se referia ao raciocínio, mantinha certas restrições.

Após a ressurreição, quando o Mestre aparece aos discípulos reunidos, assustados e temerosos, Tomé não se encontrava entre eles. Possivelmente, se ocultara, ainda temeroso das represálias dos inimigos da Luz.

Quando se reencontra com os amigos, é recebido com exclamações jubilosas e a informação de que Jesus ressuscitara e estivera com eles.

Havia alegria em todos os olhares. Tomé sorriu  céptico e desdenhoso. Sem dar maior importância à sensacional notícia, respondeu:

Se eu não lhe vir as marcas dos cravos e não lhe introduzir a mão no seu lado, onde está a ferida aberta pela lança, digo-vos francamente que de maneira nenhuma o crerei.

Oito dias depois, estando ainda os onze reunidos, na mesma casa do pai de Marcos, com as portas fechadas, Jesus Se apresenta:

A paz seja convosco!

E, voltando-se para Tomé, demonstrando  ter ciência total do que ia na alma do Apóstolo ainda descrente, diz:

Vem, Tomé! Põe aqui o teu dedo e vê as marcas dos cravos. Chega a tua mão e mete-a do meu lado.

O Apóstolo executa automaticamente as ordens que recebe. Tocado pela humildade do Mestre, ajoelhou-se e chorou. Suas lágrimas eram, agora, de ventura. Na batalha entre cérebro e coração, o sentimento que lhe extravasava do peito era fé.

Jesus o ergue e fala:

Porque me viste, Tomé, creste. Bem-aventurados os que não viram e creram.

Partiram depois os onze para a Galileia, segundo determinações de Jesus e entregaram-se à pesca.

No lago de Genesaré, Simão Pedro, Natanael, João, Tiago e Tomé tripulam um barco, aproximando-se da terra. Não trazem nenhum peixe. Noite infrutífera.

Da praia, um homem lhes pergunta se algo têm para comer, e à negativa azeda de Pedro, lhes diz que lancem a rede para a banda direita do barco.

Foram cento e cinquenta e três os peixes retirados do mar da Galileia. João reconhece que Aquele é Jesus. Quando chegam à praia, o Mestre preparara um monte de brasas e lhes serve peixe assado e pão.

Tomé, como os demais, sente amor e temor, confiança e respeito. Um respeito diferente. Jesus ressurgira da morte. Ele está ali, mas num corpo diferente, um corpo de surpreendentes propriedades, que Lhe permite entrar nas casas de portas fechadas e desaparecer de forma instantânea.

Após o repasto, Jesus caminha ao longo da praia, convidando Pedro a segui-lO. Mais atrás, segue João. A alguns passos marcham Tomé, Natanael e Tiago.

Jesus caminha, enquanto sua túnica, batida pelo vento, brilha, como uma bandeira branca. Tomé se esforça por acompanhá-lO. Jesus lhe dá a impressão de não tocar o solo. Parece flutuar. Todo Seu corpo e as vestes adquirem a leveza de uma nuvem e a claridade de uma luz suave. Desaparece na tarde…

Numa outra tarde de azul profundo, junto às cinco centenas de corações amigos, Tomé ouviu as derradeiras exortações de Jesus, conclamando-os à missão de fazerem discípulos da Boa Nova a todas as gentes.

Sua alma agora se enchia de coragem e ilimitada confiança. Eu estarei convosco todos os dias…

E Tomé saiu a pregar, tendo estendido seu apostolado à Índia, onde é reconhecido como fundador da Igreja dos Cristãos Sírios Malabares, ou Igreja dos Cristãos de São Tomé.

Consta que no ano 53 da era cristã, teria sido martirizado pelo rei de Milapura, na cidade indiana de Madras, a flechadas, que lhe provocaram intensa hemorragia, dissolvendo-se sua vida pouco a pouco. A dor e o sangue não lhe destruíram os sonhos. Ele sonhava com a Eternidade.

Referências

01.BÍBLIA, N.T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica, 1966. cap. 10, vers. 2-4.

02.______. Marcos. Op. cit. cap. 3, vers. 13-19.

03.______. Lucas. Op. cit. cap. 6, vers. 13-16.

04.______. João. Op. cit. cap. 11, vers. 16; cap. 20, vers. 24-29 e cap. 21,vers. 2.

05. CURY, Augusto. A personalidade dos discípulos. In:___.O Mestre inesquecível. São Paulo: Academia de Inteligência, 2003. cap. 3.

06.ROHDEN, Huberto. Aparição na praia de Genesaré. In:___. Jesus Nazareno. 6. ed. São Paulo: União Cultural. v. II, pt. 3, cap. 200.

07.______. Jesus e Tomé. Op. cit. v. II, pt. 3, cap. 199.

08. SALGADO, Plínio. A ascensão. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978. pt. 5, cap. LXXXIII.

09.______. “Eu sou a ressurreição e a vida”. Op. cit. pt. 5, cap. LXXX.

10. 10.VAN DEN BORN, A . Tomé. In:___. Dicionário enciclopédico da Bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

11. XAVIER, Francisco Cândido. O testemunho de Tomé. In:___. Boa nova. Pelo Espírito Irmão X. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1963. cap. 16.

12. ______. Os discípulos. Op. cit. cap. 5.

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