A Igreja deve ser como um hospital de campanha: está aqui para acolher, não para julgar
Papa Francisco
No dia em que o mundo silencia para despedir-se de um dos líderes religiosos mais influentes e humanos do século XXI, a Doutrina Espírita, com respeito e gratidão, se une a esse momento de reflexão.
Papa Francisco — ou Jorge Mario Bergoglio, como era chamado antes de assumir o trono de Pedro — não era espírita. Mas era, inegavelmente, um espírito comprometido com o Evangelho de Jesus. Humano, humilde, progressista e dialogal, ele marcou sua passagem terrena com gestos que ecoaram além das fronteiras da fé católica.
Um líder que falou com todos os corações
Desde sua eleição em 2013 como o primeiro Papa latino-americano e jesuíta da história, Francisco adotou uma postura que revolucionou a forma de exercer a liderança religiosa. Trocou as carruagens por transporte público. Recusou pompas. Escolheu os pobres, os marginalizados, os indígenas, os jovens e os refugiados como prioridade de sua atuação.
Falou de inclusão, defendeu o meio ambiente como casa comum e convocou religiões diferentes a dialogarem não para pensarem igual, mas para aprenderem a amar igual.
O Espiritismo e Francisco: diferentes nomes, mesma essência
Embora não compartilhássemos o mesmo nome doutrinário, havia uma sintonia profunda entre as falas de Francisco e os pilares morais do Espiritismo codificado por Allan Kardec.
A tríade ciência, filosofia e moral do Espiritismo não se opõe ao Evangelho. Pelo contrário, amplia seu entendimento. E o que vimos em Francisco foi uma vivência pura da moral do Cristo — desprovida de dogmas, e rica em ações concretas.
Como nos ensina a Doutrina Espírita:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.” – O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item 4
Francisco, apesar de não ser espírita, encarnou esse ideal de forma prática.
Um Papa progressista e corajoso
Durante seu pontificado, Francisco enfrentou o conservadorismo interno da Igreja para defender causas urgentes: o combate à pedofilia, a valorização das mulheres, a preservação ambiental, o acolhimento de imigrantes, a escuta dos jovens, a inclusão de pessoas LGBTQIA+ e o respeito aos povos originários.
Como Kardec, que afirmava que “a fé precisa encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade”, Francisco acreditava numa fé lúcida, ativa e aberta ao mundo real.
Ele foi um Papa que andou com os pés no chão — e o coração nas alturas.
Uma despedida que é também gratidão
Na visão espírita, a morte é apenas um retorno. Um marco de passagem de volta ao mundo espiritual. E neste momento, nos despedimos com o mesmo respeito com que o recebemos: de braços abertos e orações sinceras.
Francisco não será lembrado apenas como um líder da Igreja Católica. Será lembrado como um embaixador da paz, um irmão de outras religiões, um homem do povo, um pontífice que tentou reaproximar o Evangelho da sua essência mais viva: o amor.
A lição que fica para nós, espíritas
Que essa despedida nos inspire.
No movimento espírita, temos discutido o papel da liderança, do acolhimento, da renovação doutrinária e da inclusão.
Papa Francisco mostrou que é possível transformar o mundo sem perder a essência. Que liderar é servir. Que amar é ouvir. Que perdoar é tão revolucionário quanto lutar.
E como disse certa vez:
“Prefiro uma Igreja acidentada por sair às ruas do que doente por se fechar em si mesma.”
Talvez, em nossas Casas Espíritas, também seja hora de abrir mais as janelas.
Com carinho e respeito
Hoje, os sinos do Vaticano se calam. Mas em muitos corações, espíritas inclusive, ecoa a certeza de que Francisco cumpriu sua missão com coragem.
Que sua luz continue guiando todos aqueles que servem ao próximo com sinceridade, sem importar o rótulo da crença, mas sim, a prática do Evangelho na sua forma mais pura.
Obrigado, Papa Francisco. Vá em paz.
Nós ficamos por aqui, com a responsabilidade de continuar o trabalho.
Com carinho,
Cauê Sanchez
Coordenador Pedagógico – Jovens com Yvonne / Juventude Espírita