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As crises econômicas

Autor: Joelson Pessoa

“A Ciência econômica procura a solução no equilíbrio entre a produção e o consumo; mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e, durante esse processo, o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento que não se tem avaliado suficientemente e sem o qual a ciência econômica é apenas uma teoria: é a educação; não a educação intelectual, mas a moral – não a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, a que dá os hábitos: porque educação é o conjunto de hábitos adquiridos.” Allan Kardec, questão 685-A de O Livro dos Espíritos

Todos nós temos acompanhado através dos noticiários, a recessão da economia norte-americana, deflagrada pelo colapso do setor imobiliário. Os grandes bancos financiadores da compra de imóveis foram duramente prejudicados pela crescente inadimplência dos seus clientes, e, semelhante a um ‘efeito dominó’, acabaram afetando as instituições financeiras e os negócios no mundo todo, derrubando as bolsas de valores em todos os continentes.

Num mundo cada vez mais globalizado, é assim mesmo, qualquer ocorrência importante que perturbe ou enriqueça uma nação, repercutirá em outras regiões. Por exemplo: As guerras que afligiram a Europa nos dois últimos séculos, contribuíram para esculpir a nacionalidade brasileira, com a imigração de parte de suas populações para o Brasil (italianos, alemães, poloneses, ucranianos, armênios e outros); o crescente consumismo chinês na atualidade, reflexo do seu desenvolvimento econômico, faz diminuir a oferta de matéria prima no mundo, encarecendo-as.  Isso favorece alguns países exportadores, como o Brasil, mas prejudica os países consumidores.

No auge das grandes crises, a moeda perde o seu valor, importantes empresas quebram, fortunas vão à ruína, os consumidores, inseguros, compram menos, as indústrias deixam de produzir, o desemprego aumenta assustadoramente, comunidades inteiras sofrem privações, o padrão de vida de muitas famílias despenca, o supérfluo fica muito mais caro, e a maioria das pessoas se acomoda com o básico. O cenário é abalado, do alto à base da pirâmide social. Prevalecem a insegurança e a incerteza pelo futuro.

Estas são algumas das consequências materiais das crises econômicas nas sociedades.

E quais são as consequências morais? Desesperados com os prejuízos, homens de negócios, arruinados, se suicidam; Chefes de família, sem fé em Deus, desesperam-se e alguns chegam a enlouquecer. Esposas frívolas, dependentes do luxo, e não mais o obtendo, abandonam seus maridos falidos. Aquele que perdeu o seu emprego e, sem perspectiva de uma solução rápida, se arrisca no caminho do crime e da contravenção. Outros tantos, porque ‘eram aquilo que tinham’, havendo tudo perdido, sentem-se derrotados na vida e, neste clima emocional, mergulham irrefletidamente no álcool, nas drogas. Há ainda a depressão e outras psicopatologias, infelicitando homens e mulheres, em decorrência das perdas materiais que lhes constitui humilhação perante os outros que sempre os enxergaram tão bem.

Estas crises econômicas, não são obras de Deus, ao contrário, são as consequências naturais da imprevidência dos homens. Contudo, somos compelidos a reconhecer que estas crises servem de prova a todos nós. Como reagimos diante dos problemas financeiros? Como o nosso orgulho é atingido com a queda do nosso padrão de vida? O amor que dedicamos ao companheiro (a) se modifica por que as contas estão atrasadas?

Buscamos recursos na fé e na criatividade pra viver da melhor maneira possível os dias mais difíceis? Ou azedamo-nos doentiamente no mau-humor e na frustração, descontando em inocentes as nossas insatisfações?

As crises econômicas trazem períodos de escassez, os mais pobres, são ainda os mais castigados. Considerando-se as privações daquele que é mais carente do que eu, meu coração será tocado por um sentimento de solidariedade ou de egoísmo?

A Terra ainda se caracteriza por mundo de provas e expiações. A medonha desigualdade social é um indicador disto. Assim como observamos nas grandes cidades brasileiras os bairros nobres contornados por favelas e misérias de toda a sorte, verificamos paisagem similar entre os continentes do planeta, os países ricos da Europa e da América do Norte, indiferentes ao sofrimento dos povos dos países em precário desenvolvimento na América Latina, África, Leste Europeu e Ásia.

Como discordar da tese de Kardec? A humanidade é carente de uma educação moral centrada nos valores humanos. Quantos homens impiedosos e oportunistas alcançam a autoridade e o poder político/econômico do mundo? Porque não é tão comum encontrarmos homens virtuosos, legítimos cristãos, na condução dos interesses dos povos?

Com a aplicação dos princípios morais do Evangelho nos métodos educativos de todos os povos – pois são valores universais admitidos por todas as culturas – lentamente melhoraremos a humanidade e, de maneira natural e espontânea, os homens de negócios e aqueles que ocuparem o governo, refletindo a educação moral que receberam de forma eficaz, apresentar-se-ão mais humanos, justos e solidários, reformando gradativamente as leis e o sistema, desta vez, em benefício dos interesses coletivos e não mais os de alguns.

Dia virá em que a corrupção e a má administração dos recursos públicos serão compreendidos como crimes hediondos, pelos funestos resultados que acarretam à população.

Os Espíritos disseram a Kardec que as nações são personalidades coletivas e que desempenham missões específicas. Ora, qual é a missão moral daquele que recebe a autoridade e o poder?

Empregar estes recursos como meio de fomentar o progresso geral e não para o gozo exclusivo, é a resposta correta*. Se as leis de Deus regulam a conduta de homem para homem, a lógica nos leva a entender que a mesma lei deve regular a conduta entre as nações.

O homem egoísta, que nada faz em proveito do outro sem que possa tirar para si mesmo uma vantagem maior, cedo ou tarde deverá encarar as consequências das suas atitudes mesquinhas e também por haver faltado com a generosidade; Uma nação, que é uma personalidade coletiva, em idêntica situação de subordinação à Lei Divina, também haverá de conhecer os resultados lamentáveis a que se conduziu, atrasando o progresso de outros povos, graças ao excesso de cobiça, neste caso, denominado lucro a qualquer preço.

Numa ação inédita, as principais potências econômicas da Europa somaram esforços para coibir a propagação da crise. Com reflexos positivos no Brasil e no mundo. É uma experiência de solidariedade política e econômica, tímida é verdade, mas que tem o seu valor. Outros passos virão.

Começamos a perceber sinais indicando que o sistema capitalista precisa ser repensado.

Fácil perceber, portanto, que as crises (individuais ou coletivas) acabam se constituindo em admirável instrumento pedagógico para aferir o grau de apego material da humanidade. Deus faz com que daquilo que é um mal aparente, sirva ao mesmo tempo para o aprendizado de todos nós. No caso das grandes crises, países inteiros serão submetidos à prova do desapego material, em que seus povos irão revelar o quoeficiente de valores humanos que já conquistaram. Ainda é preciso que as crises atuem na escola da Terra como ‘recursos didáticos’ para incentivar os seus alunos (todos nós) a exercitar as lições da solidariedade e reavaliar suas prioridades.

* O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. 17, item 09

Fala MEU! Edição 68, ano 2008

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