fbpx

Cinema e sexualidade: Uma análise de Forrest Gump

Autor: Edgar Egawa

Em todas as áreas da realização humana estão envolvidos, além dos conhecimentos técnicos, a biografia dos envolvidos: personalidade, preconceitos, cultura geral e o panorama social em que estão envolvidos. Dessa forma, temos os movimentos artístico-culturais e filosóficos que refletem cada época. Por exemplo, no século 16, temos o Renascimento da cultura greco-romana, com a experimentação das formas, em oposição à cultura medieval, de linhas retas e personagens ligados ao Cristianismo. Na literatura, no começo do século 19, temos o Romantismo, das paixões exacerbadas, de amores impossíveis ou o resgate do cavaleiro medieval como herói romântico.

No cinema, também temos os nossos movimentos culturais. O neorealismo na Europa; o Cinema Novo, no Brasil e, atualmente, o Dogma 95, com uma série de filmes que fazem uma crítica ao american way of life.

Por mais que mudem as visões de mundo, há um tema que é abordado da maneira mais sutil à mais escabrosa, pela sua natureza: o sexo. É preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, como diz a Bíblia. Não há dificuldade em perceber que um filme pornô respira sexo. Mas e os outros gêneros, do infantil ao terror? Existe alguma insinuação sobre questões sexuais, por menos corpos nus e gestos sensuais que haja em um filme?

Tomemos por exemplo Forrest Gump. É a história de um homem com uma leve deficiência mental que conta a história de sua vida enquanto espera um ônibus. Onde estão as cenas que abordam a sexualidade no filme?

Na entrevista com o diretor da escola pública da cidade, após o teste de QI de Forrest, ele pergunta à mãe dele (Sally Field): “ Existe um sr. Gump, sra. Gump?” depois dela insistir em que o menino frequente a escola “normal”, mesmo com um QI abaixo da média. Só com esta cena, podemos fazer um estudo sobre o assédio sexual.

Como se não bastasse o assédio, temos o abuso de menores ou pedofilia, na figura de Jenny, o amor da vida de Forrest. Em certa ocasião, ela foge para o meio da plantação, rezando a Deus que vire um passarinho e possa voar pra bem longe dali, enquanto ele (Tom Hanks) narra: “O pai da Jenny era muito carinhoso com ela e suas irmãs, e ficava sempre abraçando e beijando elas. Até que um dia a polícia veio dizer que ela não precisava mais morar com o pai”. Vemos depois disso, o envolvimento da mocinha do filme com a indústria pornográfica, caindo em bordéis onde tocava violão nua, envolvida com o movimento hippie e os Panteras Negras, participando dos loucos anos 70 até o momento de aceitar o amor do personagem principal do filme e ter um filho dele. E ser uma das primeiras vítimas da AIDS.

O filme tem algumas cenas diretamente ligadas ao sexo, como a transa entre a mãe de Forrest e o diretor da escola, que rende uma cena escatológica, na qual o menino imita os gemidos da relação sexual, o encontro entre Jenny e Forrest na faculdade após ele tê-la “defendido” do acompanhante dela e noite em que eles passam juntos e geram Forrest Jr.

Apesar de ser muito mais discreto do que uma comédia sobre peripécias sexuais como a série American Pie, Forrest Gump aborda temas vinculados ao sexo e, como podemos ver no caso de Jenny, essas questões são parte integrante da construção da personagem.

Fala MEU! Edição 35, ano 2006

spot_img