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O que buscamos na vida?

Autor: Luiz M. Arnaut

Parece-me interessante analisar esta questão, tão apropriada para os dias de hoje. Acredito, no entanto, ser muito mais apropriada para o jovem espírita no início do Terceiro Milênio.

Será que sabemos SER um jovem espírita? Verdadeiramente espírita?

Ou será que somos aquele jovem que sabe o que precisa ser; que sente o que precisa ser; é cheio de boas intenções… Mas, todavia, para na intenção. Praticar a doutrina espírita é um grande desafio para todos nós, independente da idade, porque ela não é fácil de ser posta em prática. Porque a doutrina espírita é doutrina de Amor.

Num mundo onde a palavra Amor é sinônimo de vida conjugal, de satisfação de egos, de satisfação sexual, é usada para definir relacionamentos instáveis, que não passam de distrações afetivas… Acredito que tem sido cada vez mais difícil praticar a doutrina de Amor.

Jesus nos dizia: Ama ao próximo como a si mesmo. Linda frase, mas será que refletimos a profundidade dela? Será isso que buscamos na vida? Amar o próximo?

Muitos dizem que sim. Observamos que nem sempre isso é uma verdade. É muito mais fácil dizer que somos espíritas e estamos trabalhando para nossa evolução e pronto. Será que estamos mesmo?

Será que não nos deixamos tais como marionetes no jogo da vida? É… tem muita gente levando a vida como um jogo, de perdas e ganhos.

Quero levar vantagem em tudo para ganhar mais e melhor. Mais que tudo e que todos.

E ai vem a supervalorização do TER. Ter carro, ter namorada (o), ter casa própria, ter emprego, ter roupa da moda, ter corpo esbelto, ter cabelo assim ou assado, ter saúde do corpo físico, ter diploma, ter… ter… ter… Se somos espíritas mesmo, se nos esforçamos para SER espíritas ou se queremos SER espíritas um dia, porque será que ainda super- valorizamos o TER? Não quero dizer que não devemos almejar as coisas da vida corpórea e bens materiais. Ei, que isso? Ninguém aqui está no mundo extra-corpóreo!

Agora usar os bens da vida corpórea como caminhos e instrumentos da evolução é muito diferente do que colocá-los como metas de vida, de conquista, de felicidade, de motivação…

Já dizia o poeta francês Antony de Saint-Exuperry:  “O Essencial é invisível aos olhos”.

E quando me lembro desta frase eu paro e penso:

Será que eu busco o essencial ou o supérfluo?

O que é essencial para mim? Existem tantas coisas essenciais para minha vida.

Então, comecei a ver que não era o meu emprego que era essencial e sim a fora e a fé em mim mesmo para não deixar de batalhar para minha sobrevivência. Vi que não era importante eu usar a roupa da moda e sim me vestir decentemente, com respeito, para que eu possa me sentir bem, confortável e não ferir ninguém com meu jeito de ser.

Observei que não precisava de uma casa na praia, que não precisava de um apartamento ou de uma casa para morar, porque se eu não tiver dignidade para valorizar os tijolos, o concreto, que dá forma a estas casas, eu jamais poderei construir um verdadeiro lar, onde exista harmonia, paz e fraternidade. Percebi nitidamente que quanto mais eu me esforçava para agradar as pessoas tendo um corpo físico nos moldes que os costumes da nossa conturbada juventude deseja ter neste início de século XXI, mais eu me frustrava. Porque eu pouco tempo tinha para me dedicar ao meu desenvolvimento moral.

Olhava os defeitos no meu corpo, mas não propunha e não fazia nada para ajudar a limpar ou sanar uma mísera ferida de alguém que estava próxima de mim. Um dia reparei que eu dizia a estúpida frase, quando alguém me dizia: tudo bem com você? Vinha automaticamente: Estando com saúde está tudo bem! Que tolo eu era. Mal sabia eu que existem tantas pessoas em estados terminais de doenças do corpo físico, e felizes, otimistas, conformadas, que dão lições de amor e de luz. E que existem tantas mansões e universidades repletas de pessoas arrogantes, soberbas e orgulhosas que não se aguentam, embora esbanjem energia, vigor e saúde no corpo físico.

Percebi que existem tantos doutores, mestres e diplomados que sequer cumprimentam seus subalternos e, em contraponto, tantos lavradores, analfabetos que te carregam no colo, oferecem o que nem tem para lhe agradar, com simpatia e fraternidade.

Pois é… o que será que eu busco na vida?

TER é fácil, porque nos dias de hoje, temos tantas informações, disponibilidade de tudo em termos tecnológicos, farmacêuticos, medicinais… Entretanto, onde está à vontade para cultivar o SER, o íntimo, o si mesmo, que Jesus tanto falou?

Como posso amar o próximo sem amar a mim mesmo? Sem cultivar meus sentimentos, sem conhecer a mim mesmo, sem encontrar em mim as foras e as resistências para vencer minhas próprias imperfeições? Eu queria tanto que o mundo fosse diferente!

Mas, se eu não modificar meu mundo íntimo, como o mundo exterior pode se modificar? O mundo melhor que eu busco pode, deve e tem que comear por mim.

Fala MEU! Edição 64, ano 2008

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