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Psicometria

Autor: Eurípedes Kuhl

Histórico [1]

Em 1842, o médico e professor de fisiologia norte-americano Joseph
Rhodes Buchanan (1814-1899), atendeu o General Polk, também dos EUA, contando-lhe que ao tocar em bronze sentia um estremecimento no sistema nervoso, e um gosto estranho então o afligia.

Buchanan, por alguns anos, realizou experimentos, colocando metais de variada espécie em mãos de pacientes diversos, os quais, sem meios de reconhecer esses metais, os nomeavam com acerto, na maioria das experimentações; tais pacientes, colocados ante pessoas doentes, definiam a doença e a localizavam; ao colocar na fronte de pessoas “sonâmbulas” (médiuns) um objeto qualquer, do presente ou do passado remoto, observou os efeitos do fluido magnético mesmeriano (fluido vital, transformado do fluido cósmico universal) nesses pacientes, os quais então descreviam cenas relativas às épocas da pessoa a quem pertencia o objeto psicometrado.

Em 1849, o médico e professor criou o termo “Psicometria” (do grego psykhe, alma + metron, medida, pelo francês psychométrie)[2] e em 1886 sua obra, tratando do assunto, foi publicada.

A palavra psicometria vigorou por muitos anos entre os parapsicólogos, até que muitos deles, discordando desse termo para tal faculdade, opinaram seria mais apropriado designá-la de “Percepção Extra-Sensorial” (“PES”), segundo classificação formulada por Joseph Banks Rhine (1895-1980), adepto da Parapsicologia[3], que em 1934   publicou obra com esse nome  (“PES”), renomeando assim a Psicometria.

O Espiritismo e a Psicometria

Segundo vários estudiosos espíritas, Psicometria é a faculdade mediúnica pela qual o médium, em contato com objetos, pessoas ou lugares relacionados com acontecimentos passados, sintoniza-se de tal maneira com eles, descrevendo-os com precisão.

Alguns autores espíritas, inclusive, incluem não apenas o passado, mas também o presente e o futuro, na abrangência de informações precisas sobre particularidades e fenômenos ligados a objetos, lugares e pessoas, próximas ou distantes, encarnadas ou desencarnadas.

Já nos tempos de Kardec havia notícias de fatos ligados à Psicometria, conforme o texto abaixo faz prova:

“A. C. Styles, médium lúcido, garante diagnóstico exato da doença da pessoa presente, sob perda dos honorários. Regras estritamente observadas: Para um exame lúcido e prescrições, com a pessoa presente, 2 dólares; para descrições psicométricas dos caracteres, 3 dólares. Não esquecer que as consultas são pagas adiantadamente”.

(In: Revista Espírita – “Exploração do Espiritismo”, Julho/1861, p. 314).

Várias obras literárias espíritas trazem alusões à Psicometria.

Citarei apenas algumas.

● Em minha opinião sobre Psicometria, a obra espírita que mais reflexões e pensamentos oferta é de autoria de Ernesto Bozzano (1862-1943), pesquisador espírita, italiano, professor de filosofia da ciência: Enigmas da Psicometria (1926), 3ªEd. 1991, FEB, Brasília/DF.

O autor inicia sua talentosa obra afirmando que a Psicometria não passa de uma das modalidades da clarividência, e a ela (Psicometria) pertencem seus enigmas… Incontáveis enigmas… Cita que, pela hipótese psicométrica, o possuidor de um objeto impregna neste uma “influência” real, a qual tem a propriedade de receber e reter toda espécie de vibrações e emanações físicas, psíquicas e vitais.

Não obstante, para Bozzano, tais poderes psicométricos de uma pessoa viva, em grande parte são imaginários e que tal “influência” apenas persiste no objeto psicometrado, possibilitando a ação pela faculdade clarividente e telepática do sensitivo (aqui, clarividência e telepatia são consideradas “satélites” da Psicometria…).

Comentando isso, o professor Bozzano declara que sua opinião não invalida a hipótese de outros pensadores, que acreditavam que o objeto, ele próprio, revelaria sua história. Deduz ainda sobre a existência de um “fluido pessoal humano” (penso que seria o mesmo “fluido magnético mesmeriano”, de Buchanan), ligando-se aos objetos. E arremata: “a penetração dos segredos biográficos da matéria inanimada, permanece bem mais misteriosa”. (Mais enigmas, como registrou em seu livro…).

Há, na obra de Bozzano, incontáveis outras reflexões, como também inúmeras narrações de casos psicométricos — não cabem aqui, um simples artigo, bem elementar. Sugiro compulsar o instigante livro.

Bozzano comenta, extraordinariamente, que há sensitivos que, às vezes, conseguem entrar em contato com os reinos vegetal e animal, a tal ponto identificando com a influência contida no objeto psicometrado, que se diria apropriarem-se das sensações, dos entendimentos, das vibrações e sensações rudimentares dos organismos ou substância estudados. O autor repete várias vezes esses comentários na sua obra.

Obs.:  A palavra “influência” há pouco citada, é largamente utilizada por Bozzano no seu livro. Na maioria das vezes, referindo-se à influência humana; mas, também, outras tantas vezes são citadas como “influência” de caráter psicométrico a “influência animal” e a “influência vegetal”. E também… “influência mineral”. No livro há dezenas e dezenas de casos psicometrados, com todas essas “influências”.

● No livro “Nos Domínios da Mediunidade” (1954), do Espírito André Luiz e psicografia do inesquecível Chico Xavier, na 8ª edição, cap. 26 (Psicometria), p. 245, Ed. FEB, 1976, Brasília/DF, o Instrutor Áulus leciona: “Psicometria significa registro, apreciação de atividade intelectual. Entretanto, nos trabalhos mediúnicos, esta palavra designa a faculdade de ler impressões e recordações ao contato com objetos comuns”.

Prosseguindo, Áulus relata que: “o pensamento espalha suas próprias emanações em toda parte a que se projeta, deixando vestígios espirituais onde são arremessados os raios da mente. Como o animal, que deixa no próprio rastro o odor que lhe é característico, tornando-se, por esse motivo, facilmente abordável pela sensibilidade olfativa do cão”.

Aquele Instrutor, no mesmo capítulo pronuncia frase lapidar: “As almas e as coisas, cada qual na posição em que se situam, algo conservam do tempo e do espaço, que são eternos na memória da vida” (até aqui a Psicometria se fixou apenas no passado…).

Um pouco mais adiante nessa obra, à p. 249, no mesmo tema, Áulus esclarece sobre a possibilidade de eventos psicométricos, ligados a pessoas do presente. Encerrando o capítulo informa que os eventos psicométricos são mediúnicos, embora experimentadores do mundo científico os enquadrem na “criptestesia pragmática”, na “metagnomia tátil”, na “telestesia”; reduzindo os termos, essas palavras significam praticamente o mesmo (ação psicométrica), com pequenas variações.

Obs.: Cito apenas essas três denominações parapsicológicas da Psicometria, mas existem muitas outras (vide no Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, já citado).

● No livro “Chico Xavier – Mandato de Amor”, da UEM (União Espírita Mineira), Ed. 1992, BH/MG, há inumeráveis testemunhos de pessoas que conviveram com o saudoso médium. Por seus comentários fica-se sabendo a apurada mediunidade psicométrica do Chico, como, por exemplo, “ler”, sem abrir, o conteúdo das incontáveis cartas que recebia de pessoas que escreviam para ele. Tantos são os relatos, e tão interessantes, além de instrutivos, que sugiro a leitura do livro.

● No livro “Devassando o Invisível” (1963), de Yvonne A. Pereira, 9ªEd. 1994, p. 188, FEB, Brasília/DF, dentre outros comentários sobre a Psicometria, a autora registra: (…) Essa faculdade, estranha e bela, ainda pouco estudada, vai ao extremo de permitir ao médium sentir e descrever as impressões de pequenos animais, de vegetais e até da matéria inanimada”.

Yvonne (médium de abençoadas mediunidades, psicometria inclusive), ainda na mesma obra, relata uma visita que fez a uma família amiga, ali se hospedando por alguns dias. Insone, ali assistia cenas típicas da escravatura. Em outra residência, moderna, o mesmo fenômeno: sem dormir, assistia cenas dramáticas de duelos, lutas, assaltos, fugas a cavalo (ambiente do século XVIII).

Única explicação dela: psicometria de ambiente[4].

Sonambulismo magnético e Psicometria

Antes de encerrar, menciono instigantes narrativas sonambúlicas, que talvez possam ser associadas ao presente estudo psicométrico:

– No livro “O Espiritismo Perante a Ciência”, de Gabriel Delanne (1857-1926), 1ª edição 1885, na edição consultada da www.ebookespírita.org, (na internet), o autor registra, na Segunda Parte, Item III – Sonambulismo Magnético, inúmeras experiências realizadas com pessoas sonâmbulas, em estado sonambúlico provocado por magnetizador.

Dentre as várias experiências consignadas (pincei das páginas 86 a 91), muitas remetem, segundo penso, a uma aparente faculdade psicométrica. Refiro-me a pessoas que, com os olhos vendados, conseguem ler documentos, páginas de livros, identificar local de relógio escondido e hora que está marcando, além de, ainda de olhos fechados, ler pela palma da mão (!); não bastassem, desdobram-se espiritualmente e vão a locais distantes, narrando o que ali se passa. Pelos registros, dessas e outras experiências, tudo se passa no tempo presente (das experiências).

Essa obra, clássica do Espiritismo” é de suma importância para os interessados em comprovar a existência do Espírito, além de conhecer extraordinárias faculdades humanas que a Ciência não consegue explicar.

Mas o Espiritismo, objetivamente, sim! Até com suave simplicidade…

Conclusão

Encerrando, registro abaixo como justamente no passado distante encontra-se exemplo de que a Psicometria (como, aliás, todas as demais mediunidades) já era faculdade mediúnica atuante, e no exemplo, ação psicométrica de acontecimento no futuro(!):

Em “Atos dos Apóstolos”, 21 a 25, há a narração de que o profeta (médium) Ágabo, fiel seguidor de Jesus, chegou da Judeia e, estando com os seguidores do Cristo tomou da cinta que pertencia a Paulo de Tarso, ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito: assim ligarão os judeus em Jerusalém o varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. A partir dessa profecia, os amigos de Paulo insistiram com ele que não fosse a Jerusalém, pois temiam por sua vida. Ele, apesar disso, subiu a Jerusalém e ali o tribuno Claudio Lísias o aprisionou na Fortaleza, a fim de salvá-lo da turba agitada.

Tendo-se notícias de um plano para assassinar o Apóstolo, Lísias o transferiu para Cesareia, escoltado por quatrocentos soldados, arqueiros e cavalarianos, entregando-o ao Governador Felix.

Cumpria-se a profecia de Ágabo: Paulo foi interrogado e atado com correias pelos gentios.

Pelo que deduzi ao formular este artigo, imagino que a Sabedoria da Providência dota da capacidade piscométrica alguns médiuns, com tarefas elevadas de auxílio ao próximo. Exercitando mediunicamente a psicometria, neles fica alicerçada a fé na caridade de Jesus e a confiança nos Protetores invisíveis que os amparam, resultando despertar nos atendidos mudanças comportamentais, para não repetirem descaminhos morais, atávicos.

No futuro, por exemplo, reflito que a Medicina terrena empregará a psicometria em larga escala, diagnosticando no presente, as causas de patologias inauguradas no passado…

Referências

[1] Notas extraídas do “Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo”, de João Teixeira de Paula (1911-1985), volume 3, p. 89 e 90, Ed. 1970, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais S.A., SP/SP.

[2] Grande Enciclopédia Larousse Cultural, volume 8, p. 2673, Ed. Universo Ltda., 1990, SP/SP.

[3] O termo parapsicologia foi criado em 1889 por Max Dessoir (1867-1937), filósofo alemão, e adotado na década de 1930 por Joseph Banks Rhine, para substituir os termos Metapsíquica e “Pesquisa Psíquica” –  notas extraídas da Wikipédia, a enciclopédia livre da internet.

[4] “Psicometria de ambiente” é aquela que, à revelia do sensitivo, permite-lhe rever, em um ambiente qualquer, as ocorrências ali verificadas muito antes, às vezes mesmo há séculos (!).

O consolador – Especial

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