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Mediunidade: Considerações importantes

Autor: Rogério Coelho

Em vossos estudos, uma recomendação há que nunca será demais  repetir: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes 

São Luís [1]

Fazendo um minucioso exame crítico das dissertações feitas por um Espírito que se identificou como Charlet, Allan Kardec nos brinda com algumas considerações muito importantes no âmbito da mediunidade que não podemos menoscabar.  Explica o ínclito Mestre Lionês [2]:

“(…) Os Espíritos orgulhosos exercem em seus médiuns uma espécie de fascinação, com a ajuda da qual, algumas vezes, chegam a fazê-los partilhar os mesmos sentimentos. Dissemos de propósito “seus médiuns” porque eles se apoderam deles equerem ter, neles, os instrumentos que agem de olhos fechados; não se acomodariam de nenhum modo com um médium escrutador ou que visse muito claro; não é assim ainda entre os homens? Quando o encontram, temem que se lhes escape, inspiram-lhe o afastamento de quem poderia esclarecê-lo; isolam-no de alguma sorte, a fim de que gozem de inteira liberdade, ou não o aproximam senão daqueles dos quais nada têm a temer; e, para melhor captar a sua confiança, se fazem bons apóstolos usurpando os nomes de Espíritos venerados, dos quais procuram imitar a linguagem; mas agem inutilmente, pois a ignorância nunca poderá imitar o verda­deiro saber, nem uma natureza má a verdadeira virtude; sempre o orgulho surgirá sob o manto de uma fingida humildade, e é por que temem ser desmascarados que evitam a discussão e dela desviam os seus médiuns.

Não há pessoa, julgando friamente e sem prevenção, que não reconheça como má uma tal influência, porque cai sob o mais vulgar senso que um Espírito, verdadeiramente bom e esclarecido, não procuraria nunca exercê-la. Pode-se, pois, dizer que todo médium que lhes cede está sob o império de uma obsessão, da qual deve se desembaraçar o mais cedo. O que se quer, antes de tudo, não são simples comunicações, mas comunicações boas e verdadeiras; ora, para se obter boas comunicações são necessários bons Espíritos, e para ter bons Espíritos é necessário ter médiuns livres de toda má influência. A natureza dos Espíritos que assistem habitualmente um médium é, pois, uma das primeiras coisas a considerar; para conhecê-la, exatamente, há um critério infalível, e isso não está nem nos sinais materiais nem nas fórmulas de evocação ou de conjuração que são encontradas; esse critério está nos sentimentos que o Espírito inspira ao médium; pela maneira de agir deste último, pode-se julgar da natureza dos Espíritos que o dirigem e, por conseguinte, do grau de confiança que as suas comunicações merecem.

Isto não é uma opinião pessoal, um sistema, mas um princípio deduzido da mais rigorosa lógica, se se admitem estas premissas que um mau pensamento não pode ser sugerido por um bom Espírito.  Tanto que não se prove que um bom Espírito pode inspirar o mal, diremos que todo ato que se afaste da benevolência, da caridade e da humildade, onde penetre o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho ferido ou a simples acrimônia, não pode ser inspirado senão por um mau Espírito, então, mesmo que este pregasse hipocritamente as mais belas máximas, porque, se fora verdadeiramente bom, prová-lo-ia pondo seus atos em harmonia com as suas palavras.

A prática do Espiritismo está cercada de tantas dificuldades, os Espíritos enganadores são tão velhacos, astuciosos, e ao mesmo tempo tão numero­sos, que não se saberia cercar-se de muitas precauções para frustrá-­los; importa, pois, procurar com o maior cuidado todos os indícios pelos quais podem se trair; ora, esses indícios estão, ao mesmo tempo, em sua linguagem e nos atos que solicitam.

(…) A base de nossa apreciação sobre os temas desenvolvidos pelos Espíritos é a lógica. A lógica, com efeito, é o grande critério de toda comunicação espírita, como o é de todos os trabalhos humanos.  Sabemos bem que aquele que raciocina em falso crê ser lógico; o é à sua maneira, mas não o é senão para ele, e não para os outros; quando uma lógica é rigorosa como a de dois e dois são quatro, é que as consequências são deduzidas de axiomas evidentes, o bom senso geral, cedo ou tarde, faz justiça a todos esses sofismas. Cremos que as proposições seguintes têm esse caráter:

  1. Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar senão o bem; portanto, tudo o que não é rigorosamente bem não pode vir de um bom Espírito;
  2. Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente superiores não podem ensinar coisas absurdas; portanto, toda comunicação manchada por erros manifestos, ou contrários aos dados mais vulgares da ciência e da observação, atesta, só por isso, a inferioridade de sua origem;
  3. A superioridade de um escrito qualquer está na justeza e na profundidade das ideias, e não na inchação e na redundância do estilo; portanto, toda comunicação espírita onde haja mais de palavras e de frases brilhantes que de pensamentos sólidos, não pode vir de um Espírito verdadeiramente superior;
  4. A ignorância não pode contrafazer o verdadeiro saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta; portanto, todo Espírito que, sob um nome venerado, diz coisas incompatíveis com o título que se dá, está convicto de fraude;
  5. É da essência de um Espírito elevado se ligar mais ao pen­samento que à forma e à matéria, de onde se segue que a eleva­ção do Espírito está em razão da elevação das ideias; portanto, todo Espírito meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerili­dades, em uma palavra, que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;
  6. Um Espírito verdadeiramente superior não pode se contra­dizer; portanto, se duas comunicações contraditórias são dadas, sob o mesmo nome respeitável, uma das duas é necessariamente apó­crifa; se uma é verdadeira, esta não pode ser senão aquela que não desmente em nada a superioridade do Espírito cujo nome foi posto em frente.

A consequência a se tirar destes princípios é que fora das questões morais não é necessário acolher senão com reserva o que vem dos Espíritos, e que, em todos os casos, nunca é necessário aceitá-lo sem exame. Daí decorre a necessidade de pôr a maior circunspecção na publicação dos escritos emanados dessa fonte, quando, sobretudo pela estranheza das doutrinas que contêm, ou a incoerência das ideias, podem se prestar ao ridículo. É preciso desconfiar da tendência de certos Espíritos para as ideias sistemáti­cas, e do amor-próprio que colocam e propagam-nas; é, pois, sobretudo nas teorias científicas que é necessário colocar uma extrema prudência, e se guardar de dar precipitadamente como verdades sistemas frequentemente mais sedutores que reais, e que, cedo ou tarde, podem receber um desmentido oficial. Que sejam apresentados como probabilidades, se são lógicos, e como poden­do servir de base a observações ulteriores, seja; mas haveria imprudência em dá-los, prematuramente, como artigos de fé.

Além da lógica, devemos também ter em alta conta o bom senso.Este é um outro fator que não podemos descurar no âmbito do exame das produções mediúnicas.

O exame das produções mediúnicas é estudado por Allan Kardec de forma minuciosa e exaustiva no singular “Vade-Mecum” da mediunidade [3], onde podemos encontrar – reunidos – os princípios dos meios de se reconhecer a qualidade dos espíritos

Kardec alinha 26 princípios, dos quais daremos especial destaque para os seguintes: Bom senso, como critério soberano; linguagem e ações, pois estas se traduzem pelos sentimentos que eles (os Espíritos) inspiram. Os bons Espíritos só podem dizer e fazer o bem; não julgá-los pela forma material nem pela correção do estilo; a linguagem dos Espíritos Superiores é sempre idêntica quanto ao fundo e jamais se contradizem, só dizem o que sabem; os maus falam de tudo com desassombro: sem se preocuparem com a verdade, predizem o futuro e “revelam” o passado com a maior facilidade e leviandade (e muitos médiuns não só acreditam como passam recibo, acoroçoando-lhes as sandices); os Espíritos superiores, ao contrário, quando muito, apenas fazem com que as coisas futuras sejam levemente pressentidas, quando esse procedimento convenha, mas nunca determinam datas fixas para que tal ou tal coisa se realize. A previsão de qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de mistificação.Os Espíritos superiores se exprimem com simplicidade, sem prolixidade. Têm o estilo conciso, sem exclusão da poesia das ideias e expressões claras e inteligíveis a todos, sem demandarem esforços para serem compreendidas: dizem muito com poucas palavras. Jamais dão ordens! Não se impõem: aconselham. Mas, se não são escutados, retiram-se. Em compensação, os maus Espíritos enganam, dão ordens, são imperiosos, querem ser obedecidos a qualquer preço e não se afastam, haja o que houver. Todo Espírito (ou encarnado) que impõe, trai a sua inferioridade e revela seu desastroso personalismo carregado de empáfia.São exclusivistas e absolutos em suas opiniões; pretendem ter o privilégio da verdade. Os bons Espíritos não lisonjeiam, já os maus prodigalizam exagerados elogios, que outra coisa não estimula senão a vaidade e o orgulho de quem os recebe. Até mesmo pregando a humildade, os Espíritos maus são especialistas em exaltar a importância pessoal daqueles a quem desejam cooptar.

Todas estas instruções (e muitas outras2) decorrem da experiência e dos ensinos dos Espíritos. Confira-as, estude-as profundamente, medite-as e depois, aplique-as… Não se deixe enganar. Os arraiais espiritistas estão fervilhando de médiuns embaídos e Espíritos maus embaidores. Muito cuidado e atenção, pois…

Referências

[1] – KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1944. 2ª parte, cap. XXIV, item 266.

[2] – KARDEC, Allan. Revue Spirite. Agosto de 1860, página 221 e seguintes.

[3] – KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71. Ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1944. 2ª parte, cap. XXIV, item 267 e seguintes.

O consolador – Artigos

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