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Engano dos espíritas

Autor: Rogério Coelho

O egoísmo dá origem a todas as deformidades do caráter.

(…) Amados, não creiais a todo Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus

I João 4:1.

Um número expressivo de espíritas crê firmemente na proteção integral dos Benfeitores Espirituais, colocando-se como protegido especial, inacessível à ação das trevas. Quanto mais pensa assim, mais se expõe aos Espíritos perturbados, porque abrem as guardas mentais, por desconhecerem os verdadeiros riscos, negligenciando fatalmente a recomendação de Jesus com relação ao “olhai, vigiai e orai”. (Mc. 13:33). [1]

Todos os seres encarnados, sem exceção, somos “influenciados pelos Espíritos muito mais do que podemos imaginar, sendo que, de ordinário, são eles que nos dirigem”, conforme asserto da questão número 459 de “O Livro dos Espíritos”. Como tal influência não vem somente dos Espíritos bons, estamos, portanto, diariamente expostos à sanha dos malfeitores da Erraticidade, mormente se somos médiuns, quando então a situação se agrava com a vulnerabilidade psíquica.

Não há uma única referência doutrinária no Espiritismo que fale de proteções integrais e plenas ou de ausência de meio para que os obsessores nos atinjam. Muito pelo contrário! Daí a enorme quantidade de médiuns desequilibrados. E existem também aqueles que se julgam missionários indenes desse mal, gozando de privilégios e vantagens, estando a salvo das investidas dos Espíritos maus.  Outro ledo e patético equívoco!…

Chico Xavier, Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo Pereira Franco, Raul Teixeira, porta-vozes incansáveis do Bem, trabalhadores honrados e dignos, já choraram muito… Todos eles contam tristes casos de assédios cruéis. Paulo de Tarso foi vítima de calúnias atrozes, espancamentos e prisões, provocadas por esses indigitados irmãos.

Em “O Livro dos Médiuns”, Allan Kardec adverte sempre aos médiuns, ensinando-lhes as defesas que podem ser utilizadas para a neutralização desses riscos.

É óbvio que “seremos atribulados, mas não vencidos”, conforme afirma o singular Apóstolo dos Gentios. Para tal faz-se necessário estarmos atentos às nossas responsabilidades, conscientes do bem que precisamos fazer e, o que é muito importante: estudar profunda e perseverantemente a Doutrina Espírita para entender a dinâmica operada pelos que nos odeiam, aprendendo a amá-los conforme ensinamento de Jesus, a fim de neutralizar-lhes a sanha cruel e injusta.

O egoísmo, essa terrível chaga da humanidade, que dá origem a todas as deformidades do caráter, inclusive a vaidade com a qual faz terrível e fulminante parceria, tem levado à derrocada muitas promissoras lavouras do Bem, inutilizando o ingênuo trabalhador, despreparado para enfrentar tão deploráveis quão traiçoeiros e ferrenhos adversários.

Divaldo Franco numa entrevista concedida em Natal, afirmou que não vê porque André Luiz, Emmanuel e outros de igual coturno necessitem utilizar médiuns incipientes, ainda não trabalhados, portanto inseguros e não confiáveis, quando podem veicular suas mensagens por “aparelhos” já devidamente afinados e de ilibada integridade moral, que é a condição básica para o intercâmbio útil.

Diz ainda mais o conferencista baiano: “(…) por um princípio de escrúpulo pessoal, mesmo que Emmanuel ou André Luiz, que se caracterizaram como mensageiros através do médium Chico Xavier venham por minhas percepções mediúnicas, eu tenho o pudor de não dizer ou divulgar, para evitar que se crie alguma área de confusão. Allan Kardec estabeleceu um estereótipo: primeiro o conteúdo, segundo a forma, e terceiro o nome que assina a mensagem. O bom médium se revela não pelos Espíritos que recebe, mas pela conduta que mantém”.

É preocupante a enxurrada de livros e mensagens ditas espíritas que circulam em nosso meio. Mais do que a vontade de servir, é visível a vaidade de seus autores. Não percebem a pobreza intelectual e doutrinária do que produzem em nome do Espiritismo, prestando-lhe, portanto, um grande desserviço ao conspurcar-lhe a nobreza e colocar sua reputação em jogo. Tais criaturas invigilantes e pretensiosas tornam-se joguetes fáceis nas mãos sempre hábeis de Espíritos pseudossábios que lhes exploram a ingenuidade. O que está fazendo falta a essa gente é a leitura das mensagens apócrifas, mentirosas, que Allan Kardec identificou e colocou no final de “O Livro dos Médiuns” para nossa orientação e lá vamos encontrar esta orientação de Kardec: “(…) é imprescindível a necessidade de serem os diretores dos grupos espíritas dotados de fino tato, de rara sagacidade, para discernir as comunicações autênticas das que não o são e para não ferir os que se iludem a si mesmos”.

Quando Jesus nos pediu que fôssemos “mansos como uma pomba e prudentes como uma serpente”, sabia que o poder de sedução dos maus Espíritos é tão grande quanto a vaidade da maioria dos religiosos.

Não sem motivos aconselha S. Luís em “O Livro dos Médiuns – cap. XXIX”: “melhor repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade”.

Não nos olvidemos dos fatos narrados na obra “Os Mensageiros”, a segunda da extraordinária, singular e insuperável “Série André Luiz”, psicografada por Chico Xavier, para não cairmos na triste situação e na superlativa dor dos espíritas que fracassaram, quando, no Mundo Espiritual dão de frente com a própria consciência. Ali percebemos como é rigorosa a Justiça Divina, principalmente em relação àqueles que nascem para servir com discernimento e se esquecem de suas responsabilidades para serem servidos em seus caprichos.

O confrade Júlio Capilé1, afirma: “(…) o conhecimento do Espiritismo nos leva a muitos caminhos, tantos quantas são as facetas que podem surgir em nossa vida; daí nos depararmos com fenômenos de efeitos físicos simples, de materializações, de transfigurações, de obsessões, de perturbações, simples influenciações e tantas outras…

Não gosto da palavra obsessor, pois dá a impressão de que todos os Espíritos que influenciam negativamente a uma pessoa, é maldoso. A maior parte dos Espíritos que são atendidos como obsessores são simplesmente sofredores que estão desesperados procurando alívio junto a qualquer pessoa cuja sintonia mental esteja de seu agrado.  Conforme o estado de espírito de uma pessoa será a companhia espiritual que granjeia, e esse estado modifica-se a cada instante. É muito raro encontrar uma pessoa que consegue ficar em elevado padrão vibratório o tempo todo, originando aí a diversidade de companhias que temos. O importante é conseguirmos as variações dentro de uma determinada faixa que deveremos, com esforço de cada dia, ir estreitando até o momento em que possamos manter uma sintonia boa e uniforme. Comentamos isso porque os amigos das sombras estão sempre aptos a atender nossas vibrações inferiores.

Fascinação

A fascinação sempre aparece no médium muito sensível e com muitas mediunidades; desses que são muito bajulados, muito solicitados, elogiados… Pouco a pouco vão se acostumando a serem ‘superiores’ – e, consequentemente os Espíritos do bem o abandonam, quando então ele passa a ter companhias que farão as maravilhas que os outros faziam, mas somente aguardando a oportunidade para neutralizá-lo e até mesmo destruí-lo. No ponto em que começa a se sentir superior, a fascinação se instala.  Sem embargo, faz curas, orienta pessoas para tantas coisas e insensivelmente o médium acha que aquele Espírito é sua propriedadeInstala o companheirismo e não haverá possibilidade de o médium acatar conselhos dos companheiros encarnados ou de Espíritos amigos que se manifestam por outro médium. Torna-se um sabe tudo, e aos judiciosos e ponderados conselhos que lhe venhamos a oferecer, ele invariavelmente responde: “émas fulano (o Espírito) está dizendo outra coisa”.

Para que tal não nos aconteça, é necessário compreender que se deve estudar permanentemente, meditar sobre as coisas aprendidas, tirar conclusões, saber que ninguém é dono da verdade, ouvir com humildade as críticas dos irmãos.               

Muitas vezes até mesmo um neófito na Doutrina Espírita nos dá ensinamentos importantes por uma observação até certo ponto ingênua. Devemos estar atentos às lições que os Espíritos nos dão através da palavra de nosso semelhante, e até mesmo de uma criança.

Das fascinações que conhecemos em toda nossa experiência com os Espíritos, algumas conseguiam curas espetaculares; outras, orientação sobre coisas materiais que davam sempre certo.   Tal fenômeno é facilmente explicável, fazendo-se, por exemplo, uma analogia com um líder qualquer: um oficial graduado, é líder de uma fração da tropa, um chefe de quadrilha é líder dos bandoleiros e assim por diante… Ora, um líder, um caudilho na espiritualidade manifesta-se por um médium. Este ao aproximar-se de uma pessoa perturbada por um Espírito mau, faz com que se liberte da atuação facilmente, quando o Espírito que está com ele é um do bando daquele caudilho. Daí por diante aquele “guia” faz uma espécie de seleção das perturbações sobre as quais vai agir.   Sua ação é sempre usar o temor que causa o Espírito perturbador. Não demora muito e o médium passa a ser considerado infalível e se sente confortável naquela simbiose perniciosa. Aí fica instalado o tríplice vínculo fascinador/médium/admiradores, e esse fã clube, incensando sempre a vaidade do médium, o põe a perder em pouco tempo de adulações.

De um modo geral, ninguém cai no abismo de uma vez só: vai descendo gradativamente até chegar ao fundo do poço. Quando desperta, encontra um paredão à sua frente e não sabe como subir.  Descer foi fácil, pois a porta larga da perdição tem muitos atrativos e muita coisa agradável.  Faz lembrar o caso de dieta para emagrecer: tudo que é bom engorda; só pode comer coisas insossas que não agradam ao paladar. O erro, os vícios, os desvios, são sedutores, ‘saborosos’, palatáveis…

O médium desavisado cai e custa achar o caminho da volta”. Muitos só vão se deparar com a sua triste realidade no Mundo Maior, após um longo período de dores, quando, finalmente, compreenderão que a verdadeira vitória, aquela que produz frutos para a Eternidade, só se obtém com amor e humildade e desinteresse pessoal, sentimentos tão apregoados e vivenciados por Jesus. Por isso disse Emmanuel que todos nós estamos convocados a servir no Bem com sinceridade e desinteresse, com base no autoburilamento.    

Referências

[1] Artigo compilado e adaptado dos textos de Júlio Capilé e outros, da revista “O Espírita” da Sociedade Divulgadora do Espiritismo Cristão (SODEC), de Brasília (DF), ed. nº. 107 de 12/2000.

O consolador – Artigos

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