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Que raiva

Autora: Cristina Sarraf

“Muitas vezes me admirava de ouvir alguém dizer a frase título. Parecia-me não ser capaz de sentir isso, e que para tudo dava um jeito de entender, perdoar e esquecer.

O tempo passando, me permitiu aprender que, embora condenada e execrada religiosamente, a raiva faz parte das nossas emoções e é uma energia de defesa e proteção, que manda para fora de nós, aquilo que nos invade contra a nossa vontade ou que nos agride.

Examinando por esse ângulo, as coisas mudam de figura, e fica mais fácil entender porque “engolir” raiva é semear doenças graves em si mesmo.

Mais tempo, mais auto-conhecimento e um exame reflexivo de situações passadas, aclarou a situação: não sentia raiva porque estava acostumado a deixar que invadissem minha vida, casa, sentimentos, projetos, pensamentos e tudo que se possa imaginar.

Essas intromissões eram reconhecidas, é claro, mas minha atitude era de pedir socorro aos amigos espirituais, pondo-me como vítima e perseguido pelas trevas.

Entre reconhecer esse equívoco comportamental que fazia de mim uma pessoa iludida e fácil de se abusar, e acordar de vez, começando a reagir, foi um longo tempo. Confesso que ainda não sei agir de forma pacífica e construtiva. Saio brigando e depois fico mal comigo mesmo. Na maior parte das vezes, ainda “troco os pés pelas mãos”. Mas já sou outra pessoa e, apesar de ações desastrosas, estou melhor comigo do que quando engolia “sapos” e passava por bonzinho, ou melhor burrinho.”

Lendo esse testemunho, fica notório quanto é admirável a capacidade do ser humano superar-se, quando, estando interiormente amadurecido pelas vicissitudes da vida, tem a oportunidade de reconhecer sua conduta. Antes desse momento do famoso EUREKA! de Arquimedes, as coisas estão na frente de nosso nariz e não são vistas e nem percebidas.

Maduros pelo sofrer, desenvolvemos a capacidade de conectar as circunstâncias que nos envolvem, com os nossos atos, percebendo que a causa do sofrimento é a forma que temos de pensar e sentir.

Depois, é claro, como nos relatou esse amigo, numa linda conversa de coração para coração, vem aquele período de compreender e modificar-se, no qual mais erramos que acertamos. Só a persistência paciente e amorosa vai invertendo essa realidade. E chega o dia em que vencemos, ou seja, ganhamos domínio interno sobre essa nova conduta e ela passa a ser nosso natural.

Do ponto de vista Espírita, caminhamos da inconsciência para a consciência, tanto em relação a  nós mesmos, quanto aquilo que nos cerca. É a chamada lei da evolução espiritual, na qual os Espíritos desenvolvem suas potencialidades latentes e ganham experiências, através das muitas reencarnações, nas quais tem a possibilidade de aprender e de trabalhar suas características e condutas.

Notemos que é no convívio com outras pessoas, cada uma com sua forma de ser e com sua peculiar capacidade de entendimento e viver, que acontecem os embates da vida, os quais nos despertam para nós mesmos.

Algumas pessoas nos surpreendem, por estarem muito bem harmonizadas consigo mesmas, coisa que parece bem difícil, para quem não o é. Nesse caso, o Espiritismo mostra que não há privilegiados e sim que essas pessoas já conquistaram, em outras vidas, a condição que agora nos causa admiração e respeito. Nascem com ela desenvolvida, porque já passaram por toda aquela etapa descrita acima.

Sendo assim, poderemos também tê-la coroando nossos atos, a partir do momento em que, sentindo a necessidade dessa condição para vivermos melhor, nos pusermos, de verdade, a desenvolvê-la.

Você tem raiva de alguém, disso e daquilo? Talvez, de si mesmo?

Pense que essa emoção vem para defendê-lo das invasões de idéias, atitudes e decisões alheias. Então, examine porque está fácil invadir seu território íntimo. Aí está o segredo da solução. É alguma forma sua de pensar e sentir que abre espaço indevido e excessivo, para os outros. Mas analise-se com bondade, porque você age assim pensando ser o melhor. Trate-se como faria com uma pessoa querida que lhe apresentasse essa situação, para você opinar.

Esse é um trabalho espiritual, ou seja, algo que melhora você, um Espírito encarnado, segundo a forma espírita de pensar. Mas se a sua for diferente, troque as palavras e aproveite a ideia.

PARA SABER MAIS:

NOTA: Eureka, palavra grega que significa encontrei, teria sido dita por Arquimedes, ao encontrar uma solução para saber se uma coroa real era de ouro puro

Fala MEU! Edição 78, ano 2009

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