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Considerações sobre um corpo sem Espírito

Autor: Rogério Miguez

Entre as várias possibilidades no processo da gestação dos filhos, há aquela prevendo um corpo se desenvolvendo e efetivamente nascendo sem um Espírito encarnado. Fato desconhecido por grande maioria, causa espanto e perplexidade quando se toma conhecimento deste mecanismo das normas divinas.

A confirmação em O livro dos espíritos1 é muito clara e elucidativa:

  1. Haverá natimortos que não tenham sido destinados à encarnação de Espíritos?

“Sim, há os que jamais tiveram um Espírito destinado aos seus corpos. Nada devia cumprir-se neles. É somente pelos pais que essas crianças vêm ao mundo.”

  1. a) — Um ser dessa natureza pode chegar até o final da gestação?

“Sim, algumas vezes, mas não vive.”

Em princípio esta condição aparenta ser totalmente despropositada, porém, há uma razão para tanto apresentada mais adiante.

Conforme já bem demonstraram estudiosos do passado, e.g., Gabriel Delanne em A evolução anímica2, o perispírito é o elemento organizador do formato do futuro corpo, definindo se a célula ovo primordial, o zigoto, se desenvolverá com a aparência ou não de um ser humano.

Possuindo o perispírito esta importantíssima função, entre muitas outras, como se explicaria um corpo sem Espírito reencarnado, portanto, também sem perispírito, vir a ter uma conformação humana?

Na terceira obra de André Luiz, Missionários da Luz3, Alexandre, seu instrutor, esclareceu ser a fisionomia final de um corpo vital, ou seja, com Espírito associado, resultado de:

  1. Lei da hereditariedade, ou seja, cromossomos paternos e maternos, fator primordial;
  2. Influência dos moldes mentais maternos;
  3. Atuação do próprio interessado, o Espírito reencarnante;
  4. Concurso dos Espíritos Construtores (equipe de Espíritos especializada neste procedimento);
  5. Auxílio afetuoso das entidades amigas visitando constantemente o reencarnante, nos meses de formação do novo envoltório carnal.

Todos estes fatores conjugados atuando, dão uma ideia dos contornos e minudências anatômicas do futuro corpo.

Observando as cinco fontes citadas delineadoras do aspecto corporal, e considerando um caso de corpo sem Espírito, temos: o item 1 não determina a forma humanoide do futuro corpo, pois, até os dias de hoje, a ciência ainda não demonstrou como as células se dividindo de uma mesma forma, podem gerar corpos ora de animais irracionais, ora racionais; é fácil concluir-se não haver participação do próprio interessado, pois não há o interessado (item 3);  tampouco dos Espíritos Construtores (item 4), não teriam nenhuma tarefa a executar; muito menos das entidades amigas visitando o reencarnante (item 5), visto não haver a quem visitar.

O modelo fetal e o desenvolvimento do embrião obedecem a leis físicas da natureza, ou seja, a célula ovo inicia os processos de auto divisão celular automaticamente, mas necessita do perispírito para moldar a configuração humana nesta massa de matéria a se multiplicar mecanicamente, ora, se as causas 1, 3, 4 e 5, não se aplicam, perguntamos mais uma vez, como o corpo nasce com a aparência humana? Restou apenas o item 2, como possível fonte de explicação para este fenômeno, contudo, seria isto mesmo?

Ainda temos André Luiz socorrendo-nos nesta análise. Em sua décima primeira obra Evolução em dois mundos4, o autor, na segunda parte do livro, quando responde interessantíssimas questões, várias delas não encontrando paralelo em outras obras espíritas, encontra-se um capítulo intitulado: Gestação Frustrada, um oportuno texto lançando alguma luz nestas controversas questões:

Como compreenderemos os casos de gestação frustrada quando não há Espírito reencarnante para arquitetar as formas do feto?

– Em todos os casos em que há formação fetal, sem que haja a presença de entidade reencarnante, o fenômeno obedece aos moldes mentais maternos.

Dentre as ocorrências dessa espécie há, por exemplo, aquelas nas quais a mulher, em provação de reajuste do centro genésico, nutre habitualmente o vivo desejo de ser mãe, impregnando as células reprodutivas com elevada percentagem de atração magnética, pela qual consegue formar com o auxílio da célula espermática um embrião frustrado que se desenvolve, embora inutilmente, na medida de intensidade do pensamento maternal, que opera, através de impactos sucessivos, condicionando as células do aparelho reprodutor, que lhe respondem aos apelos segundo os princípios de automatismo e reflexão. Em contrário, , por exemplo, os casos em que a mulher, por recusa deliberada à gravidez de que já se acha possuída, expulsa a entidade reencarnante nas primeiras semanas de gestação, desarticulando os processos celulares da constituição fetal e adquirindo, por semelhante atitude, constrangedora dívida ante o Destino. (destaques nossos)

Como se depreende da resposta de André Luiz, a poderosa força do pensamento materno, continuamente impregnando a célula ovo desde os seus primeiros momentos de formação, gradativamente força aquela matéria amorfa a se moldar ao aspecto de um ser humano, embora como se viu em O livro dos espíritos, não vingue ao nascer. A resposta ratifica também o item 2 daquela relação citada anteriormente. O livro Missionários da luz foi escrito em 1945 e Evolução em dois mundos em 1959, o segundo confirmando o que havia sido definido no primeiro.

A mesma resposta, em seu início, cita uma razão para o desenvolvimento de corpos sem Espíritos vinculados. Pode–se igualmente destacar ao final da mesma resposta, a outra razão para um corpo não vingar em sua iniciante trajetória de vida, também pelo poder do pensamento materno, quando este em desalinho desaloja o reencarnante à força antes do nascimento propriamente dito.

Cremos ter elucidado as duas questões, quais sejam: por qual razão, eventualmente, um corpo em formação não possui um Espírito vinculado; e, como ocorre o desenvolvimento deste corpo na conformação humana sem haver a presença da matriz perispiritual.

Referências:

1Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2007. q. 356.

2Dellane, Gabriel. A evolução anímica. Trad. M. Quintão 1. ed. Rio de Janeiro: FEB. cap. I, itens. A utilidade fisiológica do perispírito e A ideia diretriz.

3Xavier, Francisco C. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987 cap. 13, p. 226.

4 ___­­__­­. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1959. Segunda parte cap. XIII.

Juventude Espírita 19/02/2019

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