Autor: Felipe Viana
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC ouUNFCCC, na sigla em inglês) criou a Conferência das Partes (COP) como o órgão responsável por tomar as decisões necessárias para implementar os compromissos assumidos pelos países no combate à mudança do clima. A COP é composta por todos os países que assinaram e ratificaram a Convenção. Atualmente, 198 países participam da UNFCCC, o que faz dela um dos maiores órgãos multilaterais do sistema das Nações Unidas (ONU).
Em 2025 ocorreu a 30ª edição da COP, que teve início no dia 10 de novembro e terminou no sábado, 22 de novembro, em Belém, no Brasil.
A reunião definiu lacunas que ainda precisam ser preenchidas, bem como alguns avanços no desenvolvimento sustentável. Entre as lacunas, destacam-se:
- O mapa do caminho para a transição energética não apresentou o roteiro defendido por Brasil e Colômbia;
- O financiamento climático continua muito abaixo do esperado, embora tenha sido firmado um compromisso de reforço até 2035;
- A mitigação não apresentou avanços estruturais significativos.
Já entre os avanços, podemos destacar:
- Pela primeira vez, os direitos indígenas foram reconhecidos como estratégia climática;
- O comércio internacional entrou oficialmente na agenda climática;
- A aprovação do Plano de Ação de Gênero em Belém, que orienta a participação das mulheres nas decisões sobre o clima;
- A criação dos Mecanismos de Belém para uma Transição Justa, conhecidos como BAM (Belém Action Mechanism). Na prática, o BAM organiza, pela primeira vez, um caminho permanente para que países em desenvolvimento possam planejar a transição para economias de baixo carbono sem deixar trabalhadores e comunidades vulneráveis para trás.
- O fundo florestal ganhou novo fôlego na COP30. Durante a conferência, o TFFF registrou uma rodada de anúncios que elevou o peso político do fundo. A Alemanha confirmou um aporte de 1 bilhão de euros e se juntou à Noruega, França, Brasil e Indonésia, levando o total comprometido para mais de 6 bilhões de dólares. Com a visibilidade da cúpula, o mecanismo saiu de Belém mais consolidado e com expectativa de ampliar a lista de doadores;
- A Meta Global de Adaptação foi finalmente adotada. Apesar de ter fechado um conjunto menor de indicadores, a COP30 conseguiu um avanço importante: pela primeira vez, os países terão uma base comum para acompanhar como estão se preparando para eventos extremos. Esses indicadores ajudam a organizar o trabalho e criar comparações mais claras. A conferência também abriu um processo de dois anos para detalhar como essas medidas vão funcionar na prática. Trata-se de um começo que dá mais direção à agenda de adaptação.
Ao final da reunião, fica claro que, apesar dos avanços — ainda que pequenos —, eles representam algum progresso, mas estão longe de responder à complexidade do problema climático. As lacunas existentes refletem um modelo histórico de desenvolvimento que impulsionou a industrialização, a inovação tecnológica e a expansão da fronteira entre o conhecido e o desconhecido principalmente nos países desenvolvidos, muitas vezes à custa de um uso intensivo, predatório e insustentável dos recursos naturais. Esse modelo, ao mesmo tempo em que gerou crescimento econômico e melhoria da qualidade de vida para uma parcela da humanidade, aprofundou desigualdades globais, transferindo os custos ambientais para os países do Sul Global. São essas nações — menos responsáveis historicamente pelas emissões de gases de efeito estufa — que hoje sofrem de forma mais intensa os impactos das mudanças climáticas, do subdesenvolvimento e de práticas de eco-imperialismo, nas quais a exploração ambiental e econômica se perpetua sob novas formas. Esse cenário evidencia que o desafio climático não é apenas técnico ou econômico, mas também moral, abrindo espaço para uma reflexão à luz das Leis de Conservação e do Progresso, que passam a ser tratadas a seguir.
A relação com a Lei de Conservação se dá porque ela evidencia a importância da preservação dos corpos e do meio ambiente, que é de onde se retiram os recursos naturais necessários para que possamos continuar aprendendo e evoluindo na Terra. Essa lei também destaca a diferença entre o uso supérfluo e o uso necessário dos recursos naturais, distinguindo o consumo excessivo, marcado pela ostentação e pelo luxo, de um consumo voltado ao atendimento das necessidades básicas.
Já a relação com a Lei do Progresso se estabelece porque, segundo essa lei moral, tudo progride na natureza. O desenvolvimento intelectual — expresso na ciência, na economia, no avanço da fronteira do conhecimento e na inovação tecnológica— e o desenvolvimento moral — ligado ao caráter, à personalidade e ao estilo de vida — passam necessariamente por uma relação harmoniosa com o meio ambiente.
Não é porque Deus nos concedeu a inteligência, a ciência e a capacidade de ampliar as fronteiras do conhecimento, impulsionando o desenvolvimento econômico e tecnológico, que nos cabe explorar a natureza de forma irresponsável. Sendo a natureza obra divina, da qual fazemos parte integrante, toda agressão a ela representa também um desequilíbrio que recai sobre a própria humanidade. Quando desrespeitamos as leis naturais, somos naturalmente conduzidos a experiências mais difíceis, não como punição, mas como aprendizado coletivo, fruto da Lei de Causa e Efeito. As enchentes catastróficas ocorridas no Rio Grande do Sul em 2024, assim como eventos extremos em diversas partes do mundo — ondas de calor e frio fora de época, ciclones, furacões intensos e a elevação do nível do mar que ameaça ilhas como Tuvalu — são alertas claros das consequências do uso desordenado dos recursos do planeta.
Compreende-se, assim, que o verdadeiro progresso não pode dissociar o avanço material do crescimento moral. O progresso que ignora a sustentabilidade deixa de cumprir sua finalidade espiritual e compromete o futuro da humanidade. Se desejamos permanecer e evoluir neste pequeno e precioso ponto azul que chamamos de lar, precisamos rever nossas formas de desenvolvimento e consumo, harmonizando-nos com as leis divinas que regem a vida. Somente integrando inteligência, responsabilidade e respeito à criação poderemos transformar a Terra em um mundo mais justo, equilibrado e compatível com o destino espiritual que nos aguarda.
Referências
COP30. Belém 2025. Acessado em dezembro de 2025 – Link
G1. Entenda em 12 tópicos os avanços e as pendências da COP30. Acessado em dezembro de 2025 – Link
KARDECPEDIA. O Livro Dos Espíritos. Acessado em dezembro de 2025 – Link




