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Crônicas de um sonhador

Autor: Daniel Soares

Noite passada, voltando para casa em minha costumeira rotina no metrô lotado, estava eu de pé lendo um livro, cujo título não tem importância para a situação, no entanto percebi que uma moça o olhava interessadamente tentando desvendar o título, sendo assim, querendo puxar assunto, eu lhe questionei: “Você já leu este livro?”. Ela sorriu de forma simpática e respondeu que não, mas que tinha interesse por já ter ouvido falar dele.

A partir daí começamos uma conversa sobre obras de literatura e lições que podemos aprender no mágico mundo dos livros. O diálogo se desenvolveu e ela acabou por me questionar sobre meus sonhos e objetivos, e sendo esse um de meus assuntos preferidos, lhe expliquei energicamente quais eram os planos para causar uma aceleração da consciência individual e coletiva na sociedade mesclando teorias de sociologia e a bela filosofia espírita que nos foi dada a estudar com tanto carinho pelos bons amigos do plano superior.

Qual foi a minha surpresa ao vê-la ironizar com sorrisos sarcásticos todas as palavras sinceras que lhe dispensei. Em seguida ela discordou de que existe uma lei de progresso, de que algum dia houve evolução, e afirmou que o ser humano é permanentemente falho e jamais teremos um mundo mais feliz, sem guerras, miséria e desrespeito. Eu a compreendi perfeitamente, afinal esta é a visão de grande parcela da população mundial, frustrados pelas noticias diárias de massacres, crimes hediondos e legiões de crianças em desnutrição mórbida. Neste momento eu me recordei de que em outras épocas eu ficaria nervoso com aquelas palavras e iria interromper a conversa pensando: “porque ela não enxerga o obvio?”. Mas após um instante de reflexão, eu sorri junto com minha nova amiga, mas sem qualquer ironia, um sorriso carinhoso, como quem tivesse em si toda a base necessária para dar força aos próprios argumentos, eu lhe expliquei sobre diversos fatos históricos que evidenciam a lei do progresso na história da humanidade, mostrei-lhe (como o próprio Evangelho o faz) como antigamente tínhamos ideias tenebrosas e praticávamos ações terríveis das quais hoje temos repulsa. De como, o tempo, independente da gravidade da enfermidade social, leva a sociedade a atingir sua redenção, sempre através de revolucionários em seu tempo e de pessoas simplesmente conscientes da necessidade de mudança constante nas durezas dos princípios da humanidade. Disse-lhe que a humanidade também estagna, porém sempre existe alguém que tem a missão de acelerar esse processo.

A moça então me disse que eu era um sonhador ingênuo, e com um “súbito de John Lennon” eu lhe respondi que “eu não era o único”. Percebi que outra senhora observava a discussão com interesse, e aproveitando que eu tinha a atenção da mesma, eu perguntei à observadora velhinha: “Eu sou o único, minha senhora?”, ela prontamente respondeu: “Claro que não, eu também acredito!”.

Surpreendi-me com a empolgação da senhora e tornei à minha primeira interlocutora dizendo: “Pronto, agora já somos dois sonhadores num grupo de três pessoas!”.

Isso nos leva a pensar sobre o quanto estamos nos posicionando numa sociedade cheia de frustrados, ansiosos por verem os outros se frustrarem como eles. Desistiram de sonhos e abriram mão da fé, não tem base para acreditar que existe uma razão para a existência e, com a ajuda do sarcasmo e do materialismo, eles passam a caçoar daqueles que ainda não desistiram. Tais pessoas são um perigo para as mentes mais despreparadas, pois podem levá-las a se tornarem iguais a elas, então como deveríamos nos posicionar neste contexto?

Creio que não devemos nos esconder e guardar sempre as opiniões para nós mesmos, devemos dizer no que acreditamos e se a base for forte, ninguém terá forca

para nos aprisionar nesta gaiola de sonhos perdidos. Aqui vai um apelo: Posicionem-se, jovens espíritas! E mostrem ao mundo a verdade que lhes foi confiada através da Boa nova. Se instruam através das tantas obras que temos ao nosso dispor graças aos grandes revolucionários que aceleraram uma estagnação irracional. Em seguida liderem a massa devoradora de sonhos para a redenção, mostrem-na que os sonhos existem e que se tornarão realidade, que um dia seremos bons trabalhadores do Mestre na marcha infinita da vida eterna. “Avante falange da fé”.

Fala MEU! Edição 84, ano 2012

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