Autor: Rogério Miguez
Em relato contido no Antigo Testamento, levando em consideração apenas os sintomas lá descritos, pode-se concluir ter existido um notório depressivo conhecido por Jó. Talvez o primeiro caso de depressão documentado, contemplando grande parte dos indicadores apresentados pelos portadores desta doença da alma.
Embora, há bom tempo, venha recebendo especial atenção das ciências médicas, principalmente na atualidade, para melhor entendê-la e controlá-la, a depressão sempre esteve presente na nossa História, não escolhendo posição social, sexo, idade…, para se apresentar desafiadora a quem dela se faz prisioneiro.
A Medicina já possui todo um repertório de fármacos para lidar com o quadro depressivo, buscando atenuar os seus sintomas, viabilizando desta forma o convívio do doente dentro da normalidade em seu particular ambiente social, fortalecendo-o de modo a evitar o seu isolamento daqueles que fazem parte de sua vida pessoal, uma das mais características condutas dos alcançados por esta patologia.
As valorosas ciências médicas, entretanto, por examinarem a questão apenas do ponto de vista material, elencando o desbalanceamento de certos neuropeptídios ou neurocomunicadores, bem como a genética como fontes geradoras do distúrbio, entre outras causas, ainda não conseguiram atingir o cerne da questão – o Espírito imortal com suas fraquezas, debilidades, receios, culpas, forjadas nas muitas vidas experienciadas.
Neste sentido, a Consoladora Doutrina dos Espíritos vem oferecendo, há mais de século e meio, um entendimento diverso da questão, buscando à parte as disfunções orgânicas, a fim de atingir o âmago do problema, e não apenas as suas manifestações tão peculiares, tais como: medo, tristeza e desânimo.
Conforme elucida a Doutrina dos Imortais, uma das principais fontes da depressão são os sentimentos de culpa trazidos por quase todos nós do passado, em maior ou menor grau.
Em um planeta de provas e expiações, são reunidos Espíritos não propriamente ditos vencedores, moralizados e éticos, muito pelo contrário, nesta escola Terra, estão reunidos alunos em sua maioria rebeldes aos perenes ensinos e exemplos de conduta do Mestre dos mestres, o Cristo de Deus.
Os registros de nossa própria História não nos deixam mentir: quantas guerras foram e são perpetradas por motivos imorais e torpes? Quanto infortúnio surgiu das práticas generalizadas da escravidão em todo o mundo, inclusive em nossa pátria, quando, mesmo alcançando o seu termo oficial no final do século XIX, ainda vitima inúmeros nos rincões de pobreza e miséria nas terras brasileiras? Como dividimos mal a riqueza da Terra, criando imensos bolsões de indigência caracterizados por sofrimentos atrozes, com a agravante de que este modelo injusto, muito bem “vendido” a todas as nações como Globalização, privilegiando os mais espertos e os detentores do poder, continua a prosperar? Exemplos os temos de mãos cheias. Diante destes fatos perguntamos agora: Quem foram os atores, participes destas atrocidades sem conta registradas em nossa História? Nós mesmos!
Quando um Espírito causa sofrimento ao seu semelhante, invariavelmente deve ressarcir à economia moral da Terra este débito moral efetuado, de uma forma ou de outra, seja pela dor, seja pelo amor, porém, enquanto não quita a sua dívida, permanece apreensivo, desconfiado, inquieto, pois sabe, intimamente, ou inconscientemente, mais hoje, mais amanhã, que o pagamento deverá ser feito, e mais, que o seu delito poderá ser revelado a qualquer hora, sendo este o comportamento típico da consciência culpada.
Este sentimento inato de culpa, portanto, incompreensível à luz da razão atual, pois foi gerado em reencarnações passadas, conduz o devedor a estar intimamente sempre de sobre aviso, com medo, inseguro, com tendências a se esconder dos “olhos” observadores de suas antigas vítimas, como se elas estivessem sorrateiramente ao seu lado no seu cotidiano, analisando a conduta do devedor, do amanhecer ao anoitecer.
E um sentimento de culpa pode provocar em muitos o surgimento do quadro depressivo, inexplicável, intrigante, pois, à luz do conhecimento técnico, não tem paralelo, contudo, seus duros reflexos se apresentam por meio dos sintomas e comportamentos.
Há ainda outra possibilidade comuníssima, a das antigas vítimas encontrarem no presente seus algozes de passado, e, em uma tentativa alucinada de fazê-los pagar imediatamente o mal perpetrado, os atormentam com ideias derrotistas, visões ameaçadoras, vibrações desarmônicas, sugerindo punições divinas, agindo o obsessor continuadamente sobre o já fragilizado devedor, acabando por descontrolá-lo, enfraquecendo-o mais ainda, de modo que este último passa a exteriorizar todos os sintomas característicos do assim chamado mal do século: a depressão.
Nos dizeres da psicóloga e benemérita da Humanidade Joanna de Ângelis,1 as obsessões respondem como causa da maioria dos casos depressivos, porquanto são invisíveis aos microscópios, aos exames de sangue, aos testes de equipamentos ultramodernos, visto que estes desafetos do espaço atuam à revelia dos cuidados médicos, atormentando seus antigos agressores, de todas as formas possíveis e imagináveis, e se aproveitando também das falhas morais destes últimos, exacerbando-as, fragilidades estas ainda tão características de nosso orbe aspirante a mundo de regeneração.
Descrever o quadro é relativamente fácil, quando se compreendem as principais leis da vida, não sendo difícil alinhavar os mecanismos geradores da anomalia, mas a Doutrina espírita não descortina apenas as causas, oferece também as providências para tentar evitar, controlar, ou mesmo curar o depressivo, evidentemente não em todos os casos, sem prejuízo do suporte adequado das drogas desenvolvidas pela ciência, porquanto, quando recomendadas por profissionais, sabidamente contribuem para amenizar o martírio dos doentes.
O “receituário” espírita para lidar ou mesmo preservar-se da doença é bem conhecido:
- Estudar incansavelmente de modo a melhor compreender o funcionamento das leis divinas. Os compêndios mais recomendados e conhecidos para se alcançar este desiderato são os livros que compõem a Doutrina Espírita e suas muitas obras subsidiárias;
- Trabalhar, ou seja, ocupar-se utilmente, de acordo com o magistral O Livro dos Espíritos.2 Já foi dito: em cabeça vazia, o diabo faz tricot!;
- Participar de reuniões públicas espíritas (palestras), ou de reunião de grupos de estudos;
- Se possível, receber o passe, levando uma garrafa de água para a fluidificação;
- Orar muito;
- Solicitar apoio nos trabalhos de Desobsessão quando existam na Casa, evidentemente, sem a própria presença nas atividades;
- Nas horas de crises, de exacerbado desconforto com o mundo e com todos, buscar também os atendimentos fraternos, tão conhecidos nas Casas espíritas, dividindo um pouco das próprias apreensões com um ouvido amigo;
- E, nos momentos de aguda solidão, quando surge o desejo de desaparecer, sumir do mundo, isolar-se no local mais longínquo do extremo do Universo, conversar com o guia espiritual, solicitando humildemente a orientação mais adequada para o momento é oportuna conduta.3
As prescrições espíritas são de fácil compreensão e aplicação, não há contraindicação, tampouco efeitos colaterais, nada pedem em termos de bens materiais, muito menos exigem grandes sacrifícios, apenas recomendam, orientam, sugerem medidas simples e diretas, providências que, quando aplicadas com continuidade, fervor e fé, poderão nos surpreender, evitando, e, quem sabe, nos trazendo de volta a alegria de viver, a tranquilidade interior, a fortaleza íntima para mais nada temer, a não ser o nosso mais antigo e conhecido inimigo: nós mesmos.
Referências
1 FRANCO, Divaldo Pereira. Vitória sobre a depressão. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2. ed. Salvador: LEAL,2013. cap. 1 – Mendacidade. págs. 20 e 21.
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. Ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. Parte Terceira – Das Leis Morais – Capítulo III. perg. 675.
3 Revista Internacional de Espiritismo.Como conversar com o guia espiritual. ano XCII, n. 1, p. 18 a 20. fev. 2017.
NOTA
A referência apontada no artigo sobre – Como conversar com o guia espiritual –, foi publicada neste Portal e pode ser acessada por este link: https://www.juventudeespirita.com.br/como-conversar-com-o-guia-espiritual/




