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Do ponto de partida ao alvo

Autor: Marcus De Mario

Numa competição de atletismo, normalmente os atletas se concentram num ponto de partida para iniciar a competição, tendo que atingir um alvo pré-determinado, seja a linha de chegada, a maior distância ou altura possível, e assim por diante. Sempre tem um ponto de partida e um alvo a ser atingido, portanto, há todo um processo em desenvolvimento, e quando o alvo não é alcançado, tenta-se outra vez tantas vezes quanto for possível, seja na mesma competição, de acordo com as regras, ou em competições futuras ao longo do tempo. Assim também com relação ao processo evolutivo do Espírito. O ponto de partida é a criação divina, dotados que somos de todo o potencial intelectual e sentimental, em gérmen, para desenvolver, o que se dá através das múltiplas existências ou reencarnações, e o alvo é chegar à perfeição intelectual e moral, conhecido como estado de Espírito Puro ou Perfeito, do qual temos como exemplo Jesus.

Essa evolução até o alvo passa por estágios muito bem definidos pelo Espírito Lázaro, em preciosa e profunda mensagem escrita no ano de 1862, na cidade de Paris, e que Allan Kardec publicou como parte do capítulo XI da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo. Prestemos atenção ao seguinte trecho:

Disse que o homem, no seu início, tem apenas instintos. Aquele pois, em que os instintos dominam, está mais próximo do ponto de partida que do alvo. Para avançar em direção ao alvo, é necessário vencer os instintos a favor dos sentimentos, ou seja, aperfeiçoar a estes, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos. Trazem consigo o progresso, como a bolota oculta o carvalho. Os seres menos adiantados são os que, libertando-se lentamente de sua crisálida, permanecem subjugados pelos instintos.

Segundo depreendemos, quando o Espírito encontra-se nos primórdios de sua evolução movimenta-se através dos instintos, que lhes são dados por Deus como ferramentas úteis diante dos desafios existenciais, portanto, os instintos não são ruins, mas precisam ser lapidados, desenvolvidos. Quem, neste mundo de expiações e provas, fica demasiadamente ligado aos instintos, prova que está muito mais perto do ponto de partida do que do alvo a ser atingido, ou seja, a perfeição. O processo de evolução consiste em, paulatinamente, mas com força de vontade, vencer os instintos, permitindo o desabrochar dos sentimentos. Segundo Lázaro, não se trata de substituir os instintos pelos sentimentos, mas aperfeiçoar os instintos, que vão se transformando nos sentimentos, pois os instintos nunca são perdidos, mas deixam de estar atrelados unicamente às questões materiais, cedendo terreno para as questões espirituais do viver.

Temos no texto um exemplo maravilhoso desse processo, quando ele compara o instinto à bolota do carvalho, ou seja, à semente que dá origem à árvore. Diante da semente, não podemos imaginar a árvore grande e frondosa que dela irá surgir, mas cujos princípios ativos já estão ali presentes. O mesmo ocorre com o Espírito, inicialmente princípio inteligente do universo, que vai transformando os instintos mediante o progresso intelectual e moral que realiza de encarnação em encarnação, de experiência em experiência, de aprendizagem em aprendizagem. Então, vai adquirindo consciência de si mesmo, passa a pensar, raciocinar, adquirindo o livre arbítrio e responsabilizando-se por suas ações diante da lei divina, até compreender e vivenciar o amor, último estágio, mas também com gradações, para efetivar sua perfeição, para finalmente atingir o alvo a que é destinado pela determinação de Deus, Pai e Criador.

Aprender a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, é a missão que cumpre realizarmos aqui na Terra, transformando nossos instintos em sentimentos. Como exemplo, estudemos um pouco o instinto de conservação, que nos faz ter ações de preservação da vida, como procurar alimento periodicamente para sustentação das energias corporais. Algumas pessoas exageram esse instinto, alimentando-se sem equilíbrio, exageradamente, provocando males orgânicos evitáveis, vivendo presos à materialização do instinto de conservação, prejudicando não somente a si, mas também aos outros e à natureza, pois todo excesso é prejudicial ao progresso do Espírito.

Com relação ao sentimento do amor, tomemos cuidado em não confundi-lo com posse do outro, pois na verdade isso é egoísmo, não é amor, assim como confundi-lo com o sexo é estar muito mais ligado aos instintos do que aos sentimentos, pois ninguém é objeto para satisfação dos desejos animalizados do outro, todos somos Espíritos imortais, filhos de Deus, com os mesmos direitos e mesma destinação.

Nosso ponto de partida já vai longe, não somos mais Espíritos nos estágios iniciais da evolução, mas temos que convir que estamos ainda muito, muito longe do alvo, bem distanciados da perfeição, entretanto, em contrapartida, estamos cientes que o processo evolutivo está em andamento, e que só depende dos nossos esforços acelerar a transformação dos instintos em sentimentos, bem aproveitando a oportunidade encarnatória para mais um passo decisivo rumo ao alvo, que pacientemente nos aguarda, sabedor que um dia chegaremos a ele.

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