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Edgard Allan Poe

É coisa já muito sabida que um pássaro, quando tem uma de suas asas atrofiadas, não pode voejar, singrar o espaço nessas revoadas que tanto nos encantam.

Os homens possuem, simbolicamente, é bem verdade, duas asas: a do saber e a do sentimento.

Com o desenvolvimento apenas de uma ou de outra dessas asas, o Espírito, por mais que se esforce e lute, não conseguirá atingir os paramos esplendorosos da Espiritualidade.

Verificamos que muitas criaturas são desastrosas na sua atuação, quer no que tange à educação da infância, quer nos cuidados que prestam a enfermos, quer nos conselhos que prodigalizam, porque só veem as coisas por um único prisma e, portanto, com visão incompleta.

E erram por ignorarem completamente as normas que devem ser seguidas junto aos doentes, aos quais não se pode, embora nos cortes o coração, atender em todos os seus desejos.

É muito comum vermos homens de talento que se deixam escravizar pelos vícios de todos os tipos, e nisso está a positivação de sua fraqueza espiritual.

Edgard Allan Poe, o maior poeta da América do Norte e uma das expressões mais românticas da literatura moderna, foi um fraco, espiritualmente falando.

Eduardo Sucupira Filho escreveu o seguinte a respeito desse gênio americano: “O sabor do original de seus contos, a sábia e minuciosa descrição do medo” – que são um reflexo de seu espírito permanentemente Edgard Allan Poe atribulado – “fazem de Edgard Poe um dos mais extraordinários “conteurs” da história literária moderna.”

E, no entanto, Poe é um exemplo do Espírito que, em vidas passadas, só se preocupou com o cultivo do intelecto, descurando-se inteiramente da parte moral, do sentimento de dignidade e respeito a si mesmo. Espírito que jamais se dedicou às coisas divinas.

Examinando-se a vida de Allan Poe, conclui-se que seu Espírito, em vidas pregressas, usou e abusou das bebidas alcoólicas, a ponto de seu perispírito apresentar, nessa sua reencarnação, por força daquele vício do passado, um forte desequilíbrio orgânico.

O álcool é o responsável por muitas enfermidades que atacam as crianças, marcando-as por toda a existência, pelo descontrole de vários de seus órgãos, como o coração, o cérebro, o fígado, sem que os recursos terapêuticos consigam regularizar ou melhorar esses estados patológicos. Responsável tem sido igualmente o álcool pelo nascimento de crianças anormais, idiotas, nervosas, cacoeteiras, etc.

Os pais adotivos de Allan Poe, naturais da América do Norte, desejando torná-lo um “gentleman” americano, mandaram-no para um internato na Inglaterra. Ao retornar aos Estados Unidos, apresentou-se ele com forte paixão pelo jogo de cartas e pelo vinho. Acontece que o pobre Poe não possuía recursos para alimentar o jogo e sua constituição física não lhe permitia usar bebidas alcoólicas, ainda que em pequenas doses.

E diz-nos Henry Thomas que Allan Poe possuía “imaginação ardente, mas mórbida, coração hipersensível, vontade fraca e língua impetuosa; era, portanto, um jovem poeta que dificilmente passaria ileso pelas batalhas da vida. E, com efeito, suas dificuldades começaram cedo.”

Essa imaginação ardente era, evidentemente, a reminiscência dos fartos cabedais literários e poéticos que conseguira através de um passado longínquo. Era mórbida a sua imaginação, porque ele sempre viveu afastado do puro sentimento religioso. Sua vontade era fraca, porque seu perispírito se ressentia ainda dos malefícios causados pelo álcool. A inclinação pela bebida foi urna das causas dos seus constantes fracassos.

Ele, porém, explicava que essa fraqueza era o resultado direto da sua sensibilidade. Não era que bebesse excessivamente, explicava, mas sim que não podia beber absolutamente.

“Tanto física corno mentalmente era diferente das outras criaturas. Tinha os nervos tão tensos que o menor estímulo o conduzia à maior excitabilidade. E confessava que não podia beber muito, mas que era forçado a beber pouco.”

É que ele não havia podido ainda desprender-se completamente desse antigo vício, e mais ainda: Espíritos que foram seus companheiros, em vida anterior, nele se encostavam para, por seu intermédio, satisfazerem seus vícios.

Sabia ele que o pouco que bebesse era o suficiente para deixá-lo extremamente excitado, mas sua vontade era fraca e, além de fraca, sofria, como dissemos, a influência de Espíritos ainda sequiosos de gozarem dos vapores alcoólicos.

A grande ambição de Allan Poe era a de ter urna revista de sua propriedade, na qual pudesse dar vazão, com toda a liberdade, às suas fantasias. Desesperava-se, por vezes, pensando que jamais lhe fosse dado conseguir esse veículo para transmitir ao mundo, como ele dizia, as imagens que ocorriam naquele intervalo que fica entre o sono e os momentos de vigília.

E que intervalo era esse que medeia o sono e a vigília? 

Outro não era senão o estado de transe mediúnico, porque Allan Poe era médium consciente. Ele percebia que nesses momentos seu Espírito entrava num estado que ele não podia definir. Estava certo, todavia, de que não era sonho o que com ele se passava, e que seu estado não era de completa vigília. Ouçamos, porém, a esse respeito, a palavra do próprio Poe: “As imagens não são ideias nascidas em meu cérebro.

Não são sonhos. Erguem-se da alma, da sua mais profunda tranquilidade. Não surgem nos estados de vigília; não me ocorrem durante o sono. Tornam forma naqueles pontos precisos em que o mundo de vigília se mistura com o mundo do sono, no segundo exato em que o meu Espírito flutua entre os sonhos e a consciência, e quem poderia dizer se o ser humano está, naquele momento psíquico, acordado ou dormindo?” 

Essas suas palavras são bastante significativas; elas, por si só, nos permitem asseverar que Allan Poe foi médium, crença que se reforça com estas suas palavras: 

“Acaso não é esse momento a própria origem da minha vida, a própria essência do meu gênio? E, sendo assim, é essa experiência comum a todos os homens, ou se limita apenas ao meu ser individual?” 

Sabemos que todos somos médiuns, mas não ignoramos, outrossim, que poucos são os que possuem essa qualidade em mais alto potencial, como se verificava em Allan Poe. E isso não é coisa estranhável, quando não ignoramos também que todos podem aprender piano ou violino, mas que nem todos conseguem tornar-se virtuoses do violino ou do piano. Todos falamos, mas, uns melhores que outros se externam pela palavra, de maneira mais clara, atraente, agradável. 

“AI Aaraaf” é o título de um “estranho conto do outro mundo”; poemas e narrações que não eram, absolutamente, contos, mas fantásticas visões, escreveu um de seus biógrafos, adaptadas a urna nova musicalidade”. 

É perfeitamente justificável que, naquela época, ninguém pudesse compreender esses poemas. Era opinião geral que ele escrevera pura tolice. Hoje, porém, pelos conhecimentos que já possuímos, através do Espiritismo, da vida após a morte do corpo, compreendemos muito bem que essas fantásticas visões do poeta e o ritmo, isto é, a musicalidade existente em seus versos, são frutos de sua mediunidade, muito embora ele próprio ignorasse que o fossem.

Infelizmente Allan Poe jamais deixou de beber, não conseguiu nessa encarnação, apesar do brilho e fecundidade de sua inteligência, libertar-se das fraquezas que o escravizaram neste mundo, levando-o a experimentar toda sorte de vexames e provações.

Pouco antes de desencarnar, proferiu, com certa dificuldade, algumas frases coerentes: 

Ó Deus! Tudo o que vemos ou julgamos ver

Não passa de um sonho dentro de um sonho?  

Fonte:  Grandes vultos da humanidade e o espiritismo.  

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