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Ensino do Espiritismo

Publicação: U.S.E Departamento de Estudos Sistematizados

Podemos falar de ensino do Espiritismo?

Não se espantem os adeptos com esta palavra — ensino. Não constitui ensino unicamente o que é dado do púlpito ou da tribuna. Há também o da simples conversação. Ensina todo aquele que procura persuadir a outro, seja pelo processo das explicações, seja pelo das experiências […]. (Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Do método. Parte 1ª, Cap. III, Item 18)

O objetivo do ensino da Doutrina Espírita é dar subsídios aos interessados para que conheçam os princípios espíritas, aprofundem seus estudos de forma segura, com análise crítica. Assim, cria-se condições para a educação moral e integral dos indivíduos.

Busca-se avançar no conhecimento intelectual para, a partir dele, desenvolver, no seu dia a dia, os caracteres e hábitos salutares do verdadeiro homem de bem, que lhes proporcionarão felicidade duradoura alicerçada no exercício da fraternidade legítima.

No ensino do Espiritismo não há mestres nem doutores, todos os espíritas são aprendizes, uns ensinando aos outros, dentro de suas possibilidades e experiências vivenciadas.

Embora o ensino, nesse contexto, não obedeça a processos formais de instrução, para que possamos pensar em elaborar um projeto de ensino para os centros espíritas, necessário se faz certa compreensão sobre o processo de ensino-aprendizagem.

Ensinar e aprender

Para evidenciar o processo de ensinar e aprender nesse contexto, buscamos uma passagem do Novo Testamento:

Filipe ouviu que o etíope lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo? Ele respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse. Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como a ovelha ao matadouro (…). Respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe tomou a palavra e, começando por esta escritura, anunciou-lhe a Jesus (Atos dos Apóstolos, 8:30-31).

Essa passagem permite a reflexão de que precisamos do outro para avançar. O etíope mostra claramente essa necessidade: “Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar?” E pediu a Filipe que subisse na carruagem e se sentasse com ele, para lhe explicar as escrituras, aproximar-se, diminuir as distâncias e possibilitar o maior entendimento.

Na sequência o etíope leu o trecho da escritura de Isaías – que fazia referência ao Messias que viria – e perguntou a Filipe: “Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro?” Observemos que o homem está pensando sobre o que leu, levantando hipóteses, buscando respostas. Filipe começa, então, a partir do trecho lido, a falar de Jesus.

Destaca-se o respeito de Filipe pelo saber que o homem já demonstrava ter, e pela participação ativa no processo de aprendizagem – pois não só ouvia, mas discutia, perguntava e levantava possibilidades. E Filipe apresenta elementos novos a ele, falando da vinda de Jesus.

A resposta dos Espíritos à pergunta 768 de O Livro dos Espíritos, vem iluminar essa questão, destacando a importância do outro para o aprendizado. Os Espíritos dizem que “O homem deve progredir. Sozinho, isto não lhe é possível, por não dispor de todas as faculdades; falta-lhe o contato com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e definha.”

Mais ainda, Kardec, no comentário da pergunta 789 de O Livro dos Espíritos, afirma: “A Humanidade progride por meio de indivíduos que, pouco a pouco, se melhoram e se esclarecem. Quando estes prevalecem pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros”.

A pessoa que aprende apropria-se de um conhecimento novo, isso exige dedicação e um intenso trabalho. E quem ensina precisa estar atento e participar também desse processo. O aprender e o ensinar andam juntos, mas são processos distintos, interdependentes e um não acontece sem o outro. Quem aprende precisa se empenhar e se esforçar diante do novo a ser aprendido, e quem ensina precisa dar condições e indicar caminhos para que esse conhecimento possa ser apropriado pelo que aprende.

Nesse sentido, no centro espírita, temos que estar atentos ao momento de cada participante, ou seja: o que estão buscando? O que já conhecem? Compreendendo que cada um tem sua particularidade, está em um diferente estágio de sua trajetória.

Portanto, se ensinar é criar condições para o aprendizado, como fazer isso? Mostrando alguns caminhos, compartilhando construções e descobertas, incentivando a análise e reflexão para consolidar as informações. E isso deve ser feito de forma intencional e deliberada. Não pode ser na base do improviso.

Ensinar envolve, então, planejamento, e planejar é estabelecer objetivos, propor atividades, organizar ações, disponibilizar recursos, coordenar, acompanhar e avaliar com amorosidade e, sobretudo, acolher.

Portanto, o primeiro passo para implantar ou expandir os estudos no centro espírita, é determinar objetivos bem definidos. Feito isso, podemos definir o método, os conteúdos, as estratégias e a avaliação.

Por que estudos em grupo?

Estudar em grupo viabiliza o processo de aprendizagem: um ajuda o outro nessa tarefa. Kardec incentivou esse modo de estudar:

Recentemente formaram-se alguns grupos especiais, cuja multiplicação jamais deixaríamos de encorajar: sãos os denominados grupos de ensino. Neles, ocupam-se pouco ou quase nada das manifestações, mas, sim, da leitura e da explicação de O Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns e de artigos da Revista Espírita. Algumas pessoas devotadas reúnem com esse objetivo certo número de ouvintes, suprindo para eles as dificuldades de ler e estudar por si mesmos. Aplaudimos de todo o coração essa iniciativa que, esperamos, terá imitadores e não poderá, em se desenvolvendo, deixar de produzir os mais felizes resultados. (Viagem Espírita em 1862 – Instruções Particulares – Item X.)

Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem seu próprio bem-estar e progredirem. Eis porque, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados. (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 768, comentário).

Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores. (Kardec, Allan. A Gênese, cap. 1, item 5).

Estudar em grupo facilita a apropriação do conhecimento porque estimula os participantes a socializarem informações e experiências, propiciando-lhes não apenas a construção do seu próprio entendimento do Espiritismo, mas também o aprendizado da convivência social pelas reiteradas oportunidades de interação grupal. Relacionar-se é uma condição que permite ao ser humano evoluir, conhecer a si mesmo e ao próximo, desenvolvendo suas qualidades morais.

Destaca-se que as propostas de estudos em grupo não excluem a necessidade do estudo individual prévio e complementar. Assim, o estudo individual deve ser também sempre incentivado nos centros espíritas.

Estratégias ou técnicas de estudo em grupo

Estratégias de ensino são procedimentos didáticos que facilitam a aprendizagem, tais como leitura compartilhada, debates, estudo de casos, pesquisas interativas, arte, música, apresentação e análise de vídeos, debate sobre filmes, entre outros. Tornam o estudo mais fácil, agradável, dinâmico, interessante e produtivo no decorrer do percurso, facilitando que todos os participantes tenham oportunidade de aprender, na medida em que criam situações para que as pessoas se envolvam e participem ativamente do processo.

Jesus, o Mestre por excelência, utilizava diferentes técnicas, como histórias, sermões, parábolas etc., para que todos pudessem compreender sua mensagem.

Recomenda-se que sejam evitadas longas falas ou exposições do monitor nas reuniões de estudos. Importante ainda prestar sempre muita atenção às peculiaridades de cada grupo.

As técnicas mobilizam a atenção, valorizam e partem da contribuição trazida pelos participantes, propiciando assim a participação de todos. Mas, técnicas não são mais importantes que os objetivos do estudo. Precisa haver coerência. Os resultados positivos, dependerão de como e por que as técnicas foram usadas.

Avaliação do processo

A avaliação possibilita saber se os objetivos foram alcançados e pode ser feita observando a participação dos membros do grupo, os resultados das atividades propostas, ou formulando perguntas no decorrer da reunião. O que se avalia é a aprendizagem e as interações no grupo, devendo-se dar retorno contínuo aos participantes, valorizando os resultados alcançados.

É imprescindível compreender que o aprendizado de cada participante ocorre dentro das suas possibilidades intelectuais e morais.

Programas de estudos sistematizados

São apresentados a seguir os programas de estudos sistematizados elaborados pela Área de Estudos do Espiritismo do Conselho Federativo Nacional e recomendados pela USE. Vale destacar que os materiais que compõem os programas não dispensam o contato direto com os livros indicados, mas orientam, com suas referências bibliográficas, as leituras que devem acompanhar o estudo.

Os livros de todos os programas estão disponíveis para download no site da FEB:

https://www.febnet.org.br/portal/category/downloads/estudo/

Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE)

Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita é um programa de estudo metódico, contínuo e sério do Espiritismo, fundamentado na codificação espírita e em obras subsidiárias reconhecidamente importantes.

O objetivo do ESDE é estudar a Doutrina Espírita, nos seus aspectos filosófico, científico e religioso e promover o relacionamento fraterno entre os participantes, possibilitando discutir suas vivências à luz da doutrina.

Seu conteúdo é dividido em três grandes eixos – Pontos principais da Doutrina Espírita, Leis morais e Aprofundamento nas relações entre os mundos material e espiritual – que constituem, respectivamente, seus três programas: Programa Fundamental 1 e 2 e Programa Complementar. Este conteúdo é organizado em módulos na mesma ordem sequencial dos assuntos de O Livro dos Espíritos. É recomendado que seja um grupo privativo, pois os módulos são complementares e os assuntos inter-relacionados.

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita (EADE)

É um estudo que tem como proposta enfatizar o tríplice aspecto da Doutrina Espírita, estudado de forma mais ampla. Seu público-alvo são todos que desejam prosseguir nos seus estudos doutrinários, realizando aprofundamentos de temas que conduzam à reflexão e ao aprimoramento moral e intelectual.

O programa, fundamentado nas obras da codificação e nas subsidiárias cujas ideias guardam fidelidade com as diretrizes morais e doutrinarias definidas por Jesus e por Allan Kardec, objetiva também resgatar a mensagem cristã, favorecendo sua prática e propiciando o entendimento e a compreensão de que o Espiritismo é o Consolador Prometido por Jesus.

O EADE é constituído por uma série de cinco livros: I – Cristianismo e Espiritismo; II – Ensinos e Parábolas de Jesus – Parte I; III – Ensinos e Parábolas de Jesus – Parte II; IV- O consolador prometido por Jesus;

V – Filosofia e Ciência Espíritas.

Estudo das Obras Básicas (EOB)

Este programa possibilita o contato com a Doutrina dos Espíritos em sua mais pura essência, apresentando um planejamento orientador do estudo das obras fundamentais da Doutrina Espírita, inspirado nas orientações do método de Kardec, sem prejuízo de outras iniciativas no mesmo sentido.

  • Orientar o estudo da Obra Básica, com vistas ao cumprimento da diretriz formar homens de bem.
  • Disponibilizar metodologias para o estudo da Obra Básica.
  • Incentivar o estudo, compreensão e vivência da obra.
  • Despertar bases para o desenvolvimento do pensamento reflexivo.
  • Conscientizar sobre a importância do cultivo dos valores morais e consequente transformação moral.

São apresentadas quatro opções para o estudo das Obras Básicas, com detalhamento de conteúdo, duração e bibliografia subsidiária.

Introdução ao Estudo do Espiritismo (IEE)

A principal função da IEE é acolher pessoas que chegam nas instituições espíritas sem conhecimento da Doutrina, motivadas por diversas razões.

A proposta da IEE é orientar os iniciantes em suas dúvidas e inquietações acerca da Doutrina Espírita e consolar aqueles que trazem diferentes problemas pelos esclarecimentos proporcionados pelo Espiritismo e Evangelho de Jesus. Pretende ainda estimular o participante à continuidade do estudo em outros grupos existentes na instituição. O Programa traz sugestões de temas e orientações para planejar as atividades.

Mediunidade: Estudo e Prática (MEP)

Este programa tem como objetivo estudar metódica, contínua e seriamente a teoria e prática da mediunidade. Objetiva também favorecer o desenvolvimento e a educação das faculdades mediúnicas do candidato à prática mediúnica.

É constituído de dois programas de estudo: o Programa I destina-se à formação do trabalhador espírita em geral, independentemente de a pessoa possuir mediunidade ativa ou pretender integrar-se ao grupo mediúnico, no futuro; o Programa II focaliza aspectos fundamentais relacionados à prática mediúnica, propriamente dita, usual no centro espírita.

Dica

Material extraído do livro abaixo. Leia o ebook de forma gratuita:

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