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Miguel de Cervantes

Dentre os vultos preeminentes da literatura espanhola, aliás bastante rica tanto pelo número de suas obras, senão também pelo de seus autores, um deles conseguiu sair dos limites territoriais da velha Espanha para se estender pelo mundo. Foi Miguel de Cervantes Saavedra que, embora jamais houvesse frequentado uma Universidade, escreveu “D. Quixote e Sancho Pança”, obra mundialmente conhecida.

Refugiado em Roma, devido naturalmente às suas imprudências juvenis, alistou-se no Exército italiano; era esse o meio mais fácil de conseguir recursos para sua manutenção. Lutou na batalha de Lepanto, sofrendo sério ferimento na mão esquerda, inutilizando-a completamente. 

Finda a guerra, tentou retornar à pátria, mas, capturado pelos piratas mouros, foi vendido como escravo.

Só no fim de cinco anos o resgataram. Liberto, experimentou a sorte como poeta. Seus versos, porém, foram considerados, aliás com justiça, os piores versos de toda a história da literatura espanhola. Irrequieto, como sempre, pensou em ser escritor e entregou-se à confecção de vários dramas, cuja produção foi entre 30 e 40 peças. E diz um de seus biógrafos que ele era “um vulcão de energia em plena erupção.  Mas um vulcão que, em vez de lavas, lançava apenas cinzas.”

Seus dramas eram ainda piores que sua poesia. Tentou, por fim, um romance pastoral. Foi o seu mais completo fracasso. Tudo fazia concluir que Cervantes jamais seria escritor, não era o seu destino. Acabou capacitando – se de que jamais seria poeta, romancista ou coisa que o valha. Desiludido, ingressou no comércio; depois, tornou-se coletor de impostos em Granada; foi preso em virtude de sério desfalque, sem que, todavia, ficasse positivado fosse ele o autor. Depois de alguns anos de prisão, foi posto em liberdade, quando então tentou novamente a literatura, sem êxito ainda. 

Assim, de fracasso em fracasso, no terreno literário, completou Cervantes seus 58 anos de vida, que foram 58 anos de lutas e de reveses! Realmente, com essa idade e com tal bagagem de fracassos, que se poderia esperar desse homem? Mas eis que um dia Miguel de Cervantes, completamente desiludido, alquebrado e desgostoso, sem saber explicar o que se passava consigo, sentira vontade de escrever. 

Mas escrever o quê? Não sabia. Obediente, porém, a essa vontade, sentou-se, olhou para o papel, um tanto atônito e surpreso, enquanto uma voz que soava dentro de si lhe dizia: – És um fracassado em literatura, mas te tornarás célebre com o nosso concurso. E ele automaticamente iniciou o trabalho, para dentro em breve ser dado à publicidade o “D. Quixote”, tido como uma das obras-primas do engenho humano!

Por meio dessa obra, os Espíritos ofereceram-nos a história de um louco manso. Nesse “D. Quixote” vemos muitas vezes a nossa própria história, porque todos somos realmente uma combinação de D. Quixote e Sancho Pança. “Há momentos em que confiamos na força de nossos braços e momentos em que confiamos na agilidade de nossas pernas.” E mais ainda: “em certas ocasiões, sábios na nossa loucura, atacamos moinhos de vento como D. Quixote, e momentos há em que, tolos na nossa sabedoria, fazemos como o escudeiro; hoje evita a luta para dormir à noite sobre a terra”. 

Terminada essa primeira parte da célebre obra de Cervantes, os Espíritos dele se afastaram e o pobre coitado, durante longos dez anos consecutivos, escreveu poesias medíocres, várias peças que nunca viram o palco, e uma coleção de contos também medíocres. 

Dom Quixote de la Mancha

Cervantes, evidentemente, reconhecendo sua própria incapacidade para encetar a segunda e última parte de “D. Quixote”, não mais pensava em tal. E aqui vem a propriedade do dito popular: – o homem põe e Deus dispõe.

Os Espíritos que a ditaram vão agora terminá-la, e, para despertarem o ânimo abatido de Cervantes, inteiramente apático à influência espiritual, fazem que alguém, que se encobriu com o pseudônimo de Avellaneda, escrevesse essa continuação espúria de “D. Quixote”.

Isto foi o bastante para fazer vibrar intensamente a sensibilidade de Cervantes, que se recordou, então, daquele dia em que uma voz interior lhe disse que se tornaria célebre em literatura, e então, como numa invocação saída do fundo de sua alma, murmurou: – Quem sabe se essa voz voltará e eu escreverei a segunda parte de “D. Quixote”? 

Aproveitando-se desse seu estado psíquico favorável, os Espíritos concluíram a obra. 

Essa segunda parte de “D. Quixote” surgiu no mercado de livros no ano de 1615, e no ano seguinte o Espírito de Miguel de Cervantes retornava à pátria espiritual!

Fonte: Grandes vultos da humanidade e o Espiritismo.

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