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O que eu vou ser quando crescer…

Autora: Patrícia Francezi

Desde que começamos a falar, a ter vida social, ter vida escolar, há a pergunta que invariavelmente é feita a qualquer criança que tenha entrado em idade de pensar e responder a questionamentos de adultos a sua volta: -O que você quer ser quando crescer?

Quando estamos nesta idade, pensamos em profissões com as quais temos contato ou vemos pelas ruas com maior notoriedade: Professor, médico, policial, dentista…

À medida que construímos conhecimento e inteligência, observamos mais profissões e é natural que nossas expectativas mudem.

Então abrimos espaço para a veterinária, advocacia, física, educação física… Nos identificamos com um herói, com um exemplo, com alguém que achamos que é muito legal e que merece nossa consideração. E desejamos ardentemente ser como este ídolo íntimo.

Mas continuamos crescendo e aprendendo, e vamos lidar com as difíceis questões da adolescência, os amigos, os amores de verão, e de novo lá se vão nossas expectativas. Elas mudam, ou não existem mais.

O auge, com certeza para qualquer pessoa, é a questão existencial implícita no temido vestibular.

Nesse momento, diante de nossos 17 anos, 18 anos no máximo, temos que decidir de uma vez por todas qual vai ser a nossa direção, a nossa carreira, nossa vida profissional, nosso sustento, a travessia entre a vida sem responsabilidades e a vida chata de adulto. E a pergunta não é mais o que você vai ser, e sim o que você “É”, pois você já cresceu!

A dúvida é o que existe, não mais as certezas da nossa infância, não mais os desejos. A vida não tem mais tantos sonhos. Digerimos as noticias do jornal, com apreensão, com medo do futuro que nos aguarda.

Começam as pressões, quando você não sabe apesar da sua tenra idade, seus pais acreditam que você já tem que saber o que quer. É praticamente um adulto. Tem mais um ano para responder legalmente por suas ações (ou já tem idade para responder por elas), então pela visão humana, você já tem que ser capaz de saber o que quer da sua vida.

E todos nós sabemos que não é bem assim. Talvez na época deles (como costumam dizer), as opções não eram tantas. Era muito mais fácil escolher. Os caminhos eram poucos, e as universidades não eram como padarias. O mercado era menor, as profissões também, mas assim como você na sua infância queria ser médico, eles te veem como o médico da família.

Muitas vezes é difícil conversar com eles para explicar que você não sabe exatamente o que deseja, que tem dúvidas. Nós, seres humanos, temos uma tendência a não diferenciar os tempos, e, portanto, se eles os pais, sabiam o que queriam quando eram mais jovens, você tem que saber o que quer agora. Afinal eles já passaram por isso e foi fácil.

Foi fácil, sendo redundante, eles não tinham opções tão variadas que os fizessem pensar muito. Era necessário identificar poucas aptidões e eles teriam um meio de vida compatível com o que desejavam ou para o que eram aptos.

É aterrorizante, pegar umas das revistas de “profissões” que saem anualmente nas bancas. A cada ano com mais páginas. Com mais profissões, com mais caminhos, com mais responsabilidades… Com menos respostas!

E como obter respostas?

Nós somos as respostas para estas questões. A pergunta tem que ser refeita mesmo que as pressões para ser uma coisa ou outra aconteçam “o que EU quero ser quando crescer?”.

Perguntas são os inícios das respostas: O que eu gosto de fazer? O que eu poderia fazer o dia inteiro sem ficar enjoado? O que eu faria para me sentir bem? O que me deixaria orgulhoso de desempenhar um papel na sociedade? O que eu quero fazer tem os princípios que preso? Está de acordo com a minha visão de vida ideal?

Nessa fase não adianta pensar muito em valores, pesquisar salários ou se basear no sucesso alheio. Temos expectativas, e desejamos segui-las.

A escolha sensata

Anote suas respostas para as perguntas anteriores, torne as respostas a sua “missão de vida”. Mas todo objetivo tem que ter os passos a seguir. E de novo temos perguntas: Tenho algum conhecimento do que quero fazer? Sei onde posso trabalhar? Quais as tarefas dessa profissão? O que se espera de um profissional desta área? Existem ramificações, especializações? Existe algum local específico para exercer esta profissão? (por exemplo, pesquisas em biologia que tem locais restritos onde se pode trabalhar). O que pretendo aprender durante o trabalho?

Este passo, às vezes exige conversar com pessoas da área, verificar quais as maiores e melhores empresas do ramo, ou quais os caminhos que se deve traçar para chegar ao lugar que se espera. Sempre existe uma referência, alguém que conhece as pedras a carregar. É preciso que você se prepare para o que está por vir.

Se você estiver na época do ensino médio (1º a 3º ano do colegial), ou mesmo depois de terminar este período, antes de ingressar a faculdade, pode fazer um curso técnico relacionado a sua área “desejada”, se você estiver em centros urbanos como São Paulo, apenas como ilustração: as escolas técnicas estaduais oferecem 11 áreas de atuação: Administração, Mecânica, Processos Industriais, Agropecuária, Biologia e Saúde, Artes, Eletricidade, Construção Civil, Militar, Relações humanas e Química.

Ingressar num curso desses, de duração de um ano e meio, pode ser um indicador se você realmente gosta daquilo que pretende e iniciar suas preparações para a universidade se confirmar que está no caminho correto.

Se não estiver no caminho correto, é uma oportunidade para repensar “no resto de sua vida” e identificar suas reais aptidões.

Nossas aptidões estão diretamente relacionadas ao que gostamos de fazer na escola, por exemplo, se temos facilidade com biologia, mas não com historia, é sensato pensar que poderíamos ter uma atuação melhor em áreas biológicas. Se prefere matemática, então sua área de atuação está mais para as exatas. Se éramos bons conselheiros, se as pessoas gostavam de nos ouvir, talvez seja ideal buscar alguma coisa relacionada as áreas humanas.

Pegue seu histórico escolar e observe suas notas. Imagine-se nas aulas: Como você se sentia ao ouvir o professor falar de determinado assunto? Sentia-se impressionado? Maravilhado? Estudava sozinho em casa para entender mais do assunto? Lia ou ouvia com interesse assuntos relacionados fora do contexto escolar?

O equilíbrio é a alma do negócio

Conforme Stephen R. Covey “Há certas coisas que são essenciais à satisfação humana. Se essas necessidades não forem atendidas, vamos nos sentir vazios, incompletos.(…) A essência dessas necessidades pode ser captada na seguinte frase ‘viver, amar, aprender, deixar um legado’. A necessidade de viver é a necessidade física de coisas como comida, roupa, abrigo, bem estar econômico, saúde. A necessidade de amar é a necessidade social de relacionamentos com outra pessoa, de pertencer, amar, ser amado. A necessidade de aprender é a necessidade mental de desenvolvimento e crescimento. E a necessidade de deixar um legado é a necessidade espiritual de se ter um sentido de propósito, coerência pessoal e contribuição”.1

E por que falar de equilíbrio, e de nossas porções “Espiritual, Mental, Social e Físico”?

Porque conforme nossos estudos no Livros dos Espíritos, na terceira parte, Capitulo III, onde Kardec questiona sobre a Lei do trabalho, pode-se compreender porque é tão importante trabalhar em nossas vidas:

Na resposta à pergunta 674 os espíritos elucidam “O trabalho é uma lei natural, por isso mesmo é uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta suas necessidades e prazeres”.

Identificamos a parte que se refere à porção mental, na pergunta 676 do mesmo capitulo: “Por que o trabalho é imposto ao homem? R: É uma consequência de sua natureza corporal. É uma expiação e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância da inteligência; por isso deve seu sustento, segurança e bem-estar apenas ao seu trabalho e à sua atividade. Àquele que tem o corpo muito fraco, Deus deu a inteligência como compensação; mas é sempre um trabalho”.

Vê-se que se não trabalhássemos, dificilmente alcançaríamos a maturidade em suas diversas formas. Nossos pais costumam dizer que quando começarmos a trabalhar entenderemos o valor das coisas. O que algumas vezes eles não dizem é que também perceberemos o valor das pessoas, de nossa mentalidade, de nossos princípios, e que vamos aprender o suficiente para ensinar para as próximas gerações (provavelmente nossos filhos, embora você nesta idade não esteja planejando essa responsabilidade toda).

O trabalho portanto, é uma grande escola, é onde por questões de legislação no país que vivemos passamos a maior parte de nosso dia.

Convivendo com pessoas que não conhecemos desde que nascemos, ou desde nossa infância. São pessoas que não escolhemos conviver, que não são nossos amigos, mas que precisamos ter todo o respeito, pois também o merecemos.

O trabalho é uma grande escola, e até uma grande experiência de nosso aprendizado teórico espírita. É onde de fato “devemos” tolerar mais, participar mais, ensinar e colaborar. A sociedade é implacável. O mundo lá fora é muito mais duro que nossa mãe reclamando que não arrumamos nossas camas, ou contabilizando os minutos a mais na rua, ou na casa de amigos.

Dessa convivência diária, temos amigos, e nem tão amigos assim. Temos os nossos chefes, a quem precisamos aprender a obedecer, e que não terá o amor de nossa mãe por nós. Ele pode ser amoroso, mas terá que obedecer regras e espera resultados de você. E ele como pessoa pode te perdoar pelas falhas, mas quando você falhar muito, ele não será como sua mãe, que o manterá sob o mesmo teto. Ele terá que dispensar seus serviços, até para seu próprio crescimento.

E quando o chefe, é daquele tipo peçonhento, trabalhamos nossa paciência e resignação, pois sabemos intimamente que ele é um necessitado. Merece preces e bons pensamentos sempre…

Se você chegar atrasado diariamente, terá seu mérito posto a prova. Mas nossa vida não deve ficar subordinada ao trabalho de 8 horas diárias. O Equilíbrio deve ser a base de nossa conduta.

Com nosso trabalho podemos, viver, amar, aprender e deixar um legado. Em um planejamento de curto prazo do que queremos para nossa vida, é uma das coisas que pode nos dar prazer, e nos dar as quatro necessidades já comentadas. Mas não somos só isso. Somos as quatro áreas de realização juntas.

Tudo isso é muito bonito, mas eu preciso trabalhar para sobreviver

O entendimento do trabalho, as vezes passa pela expiação. Quando encaramos como provação, como meio de sobrevivência apenas, como uma coisa que somos obrigados a fazer ou vamos morrer de fome, esse ponto de vista atrai consequentemente a sensação de que a “a grama do vizinho é mais verde que a minha” e quem não precisa trabalhar é que é feliz.

E o que nossos bons amigos dizem a respeito? A resposta é dada para Kardec enfatizando esta questão, na pergunta 679 “O homem que possui bens suficientes para assegurar sua existência está livre da lei do trabalho? Resposta: Do trabalho material, pode ser, mas não da obrigação de se tornar útil conforme seus meios, de aperfeiçoar sua inteligência ou a dos outros, o que é também um trabalho. Se o homem a quem Deus distribuiu bens suficientes não está obrigado a se sustentar com o suor de seu rosto, a obrigação de ser útil a seus semelhantes é tanto maior quanto as oportunidades que surjam para fazer o bem, com o adiantamento que Deus lhe fez em bens materiais”.

Ser útil, deve ser nossa motivação diária de trabalho. Seja ele remunerado, ou não. Podemos observar a utilidade de nosso trabalho, pensando no que fazemos de bom para nós mesmos e para a sociedade, ou para a nossa família.

Nos ensina Emmanuel, no Livro “Caminho, Verdade e Vida”, que em todos os recantos, observamos criaturas queixosas e insatisfeitas. Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que lhes foi conferido. A maioria revolta-se contra o gênero de seu trabalho. Os que varrem as ruas querem ser comerciantes; os trabalhadores do campo prefeririam a existência na cidade. O problema, contudo, não é de gênero de tarefa, mas o de compreensão da oportunidade recebida.

Em um trecho retirado de um interessante artigo na nossa amiga Internet: Rodolfo Calligaris, no seu livro “As Leis Morais”, indica que para que o homem tenha êxito no trabalho, e como tal deve entender-se não necessariamente o ganho de muito dinheiro, mas uma constante satisfação íntima, faz-se mister que cada qual se dedique a um tipo de atividade de acordo com suas aptidões e preferências, sem se deixar influenciar pela vitória de outrem nesta ou naquela carreira, porquanto cada arte, ofício ou profissão exige determinadas qualidades que nem todos possuem.

Quem não consiga uma ocupação condizente com o que desejaria, deve, para não ser infeliz, adaptar-se ao trabalho que lhe tenha sido dado, esforçando-se por fazê-lo cada vez melhor, mesmo que seja extremamente fácil. Isso ajudará a gostar dele. Quando se trate de algo automatizado que não permita qualquer mudança, como acontece em muitas fábricas modernas, o remédio é compenetrar-se de que sua função na empresa também é importante, assumindo a atitude daquele modesto operário cujo serviço era quebrar pedras e que, interrogado sobre o que fazia, respondeu com entusiasmo: “estou ajudando a construir uma catedral”.

Importa, igualmente, se adquira a convicção de que embora apenas alguns poucos possam ser professores, médicos, engenheiros, advogados ou administradores, todos, indistintamente, desde que desenvolvam um trabalho prestado, estão dando o melhor de si, concorrendo, assim, para o progresso e o bem-estar social, como lhes compete.

É tarde demais para tentar de novo?

Não cremos, particularmente, nós espíritas, que exista algo tarde demais. O tempo é uma ínfima parte do que temos de conhecimento e experiência sobre o mundo. Podemos sempre nos levantar de um erro, tentar acertar de novo com consciência de que aprendemos com o erro. Se identificarmos que tudo que fizemos não atendeu nossas necessidades, devemos como seres humanos em aprendizado constante, nos estruturarmos novamente, traçar novos planos e seguir em frente. Levar conosco a experiência boa de todas as coisas que fizemos, e saber e confiar e ter fé que “merecemos tudo de bom”, é um dos cernes de continuar.

Idade não importa, importam os objetivos e nossos princípios. Nossas preces podem se elevar de forma que identifiquemos o caminho, desde o principio da questão “O que quero ser quando crescer?”. Podemos e devemos nos fazer essa pergunta sempre que sentirmos que estamos sem rumo. Não importa a velocidade, quando não sabemos pra onde vamos! Ir mais depressa talvez nos leve a ir para uma direção errada. Então, “amai-vos e instrui-vos”, é e será uma constante em nossas vidas! O Trabalho é apenas uma das instruções, e o amor que temos por ele é o que torna nossa direção à correta!

PARA SABER MAIS:

– 1 Primeiro o Mais Importante – First Things First – Covey, Stephen R.; Merril, A. Roger; Merril, Rebecca R. – Ed Elsevier, 7a edição.www

Fala MEU! Edição 79, ano 2009

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