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Oportuno despertamento

Autor: Francisco Rebouças

Importante lição nos mostra a passagem registrada pelo evangelista, num dos trechos da parábola do filho pródigo, que nos faz despertar para a observância de valiosas considerações em torno da vida. Diz a parábola: “Caindo, porém, em si…” ¹

Somente depois que o indivíduo reconhece que necessita de transformação, é que poderá perceber o quanto precisa empreender de esforços na consecução da almejada reviravolta; na parábola citada, somente quando o jovem caiu em si, isto é, se deu conta do acontecido, é que foi capaz de observar que tudo tinha quando em companhia de seu pai, e que não soubera dar o respectivo valor, e o abandonara em busca de suas próprias convicções. Dessa forma, percebeu o grande engano cometido ao ter desperdiçado toda a parte que lhe coubera na partilha que ele próprio exigira, retornando infeliz e arrependido para receber a generosa compaixão de seu genitor.

Assim também, são variados os personagens que a Boa Nova nos apresenta que depois de se reconhecerem em erro, pela própria conscientização da situação por que passavam, decidiram-se por trabalhar para a devida retificação de suas anteriores posições, a tempo de realizarem salvadoras retificações, em transformações que nos servem até os dias conturbados de hoje como exemplos a serem imitados por todos nós que almejamos crescer em moralidade e decência.

Temos entre tantos os exemplos deixados por Maria de Magdala que por invigilância pusera sua vida íntima nas mãos de gênios perversos das trevas; todavia, caindo em si, sob a influência do chamado do Cristo, observa o tempo perdido e parte resoluta para a conquista da mais elevada dignidade espiritual, por intermédio da humildade e da renunciação, conquistando assim a sua maior vitória, que foi sobre si mesma.

Pedro, intimidado ante as ameaças de perseguição e sofrimento, nega o Mestre Divino por três vezes antes do canto marcante do galo conforme lhe houvera advertido o Mestre de Nazaré; no entanto, caindo em si, ao se lhe deparar com o olhar compassivo de Jesus, chora amargamente e avança, resoluto, para a sua reabilitação, apascentando as ovelhas, do seu Mestre, no apostolado dedicado até a senectude de suas forças físicas.

Paulo de Tarso, primeiramente dedica-se de corpo e alma ao cultivo e observação da Lei de que se tornara tenaz defensor, e entregou-se a desvairada paixão contra o Cristianismo perseguindo furioso, todas as manifestações do Evangelho nascente; no entanto, caindo em si, perante o chamado sublime do Senhor, no feliz acontecido da estrada de Damasco, penitencia-se dos seus erros e converte-se num dos mais brilhantes colaboradores do triunfo cristão na Terra.

Nas correntes religiosas dos dias da atualidade, também há grande massa de crentes de todos os matizes, nas mais diversas linhas da fé, todavia, reinam entre eles a perturbação e a dúvida, porque vivem mergulhados nas interpretações puramente verbalistas da revelação celeste, em gozos fantasistas, entre mentiras e ilusões, apegados às vantagens da vida material, desperdiçando oportunidades sublimes de elevação em moralidade, imantados pelas vantagens enganadoras da paz do mundo.

Vivem iludidos pelas alegrias proporcionadas pelos interesses imediatistas, que geram uma enganosa e passageira sensação de paz e bem estar do corpo de carne, propiciadas pelos anestésicos tóxicos da comida e da bebida sem controle.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, temos as devidas explicações sobre o verdadeiro sentido que devemos ter da vida, que deve ser vivida com a certeza de que se estende muito além da vida material que ora vivenciamos, conforme segue:

O ponto de vista

“A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. A morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor.”

Assim sendo, nós, alistados nas fileiras do espiritismo, já devidamente alertados pela fé raciocinada da doutrina que esposamos, com a noção que possuímos da vida futura que nos aguarda, precisamos despertar imediatamente, sob a luz das mensagens e dos exemplos de Jesus e, abraçarmos as tarefas de renovação propostas pelo sublime emissário de Deus para os homens, transferindo-nos do campo da inércia e da desatenção para com as coisas do espírito imortal que somos, e procuremos trabalhar intensamente pela nossa redenção, e dos que conosco jornadeiam na sociedade em que nos movimentamos, e procuremos meditar profundamente no quanto já podemos realizar em prol do desenvolvimento e crescimento do bem, e, certamente observaremos surpreendidos, como a vida se tornará diferente para melhor em volta dos nossos passos.

Para saber mais:

1 – EPÍSTOLA DE LUCAS –  Capítulo XV VV.17

2  – EVANGELHO SEGUNDO ESPIRITISMO Capítulo II, item 5

Fala MEU! Edição 76, ano 2009

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