Pais dificultosos

Autor: Rogério Miguez

Muitos indagam, após tomarem conhecimento da existência de missões atribuídas aos homens – todas designadas por Deus -, qual seria a sua particular tarefa em mais uma etapa de evolução encarnado no planeta Terra?

Nobre indagação, pois quem não gostaria de saber, sendo deísta, o que a Divindade espera dele, o que deveria construir de bom, para si mesmo e para o próximo, teria algum encargo que o levaria a algum destaque, sendo, após a sua morte, talvez incluído no livro da História da Humanidade?

Eventualmente, o indivíduo atravessa sua existência buscando avidamente esta resposta, intrigado em descobrir por qual razão está na Terra. Bate às portas de todas as filosofias e religiões, muita vez, sem obter sucesso até o término de mais uma jornada.

O Criador delega muitos encargos totalmente desconhecidos pelos homens, entretanto, ávidos em identificar uma singular missão que os colocaria no cume da fama, em qualquer setor, alguns terminam a vida sem se aperceberem da mais básica de todas as missões: a família.

Sim, e a Doutrina dos Imortais já nos advertiu sobre isto: “O lar é o santuário em que a bondade de Deus te situa. Dentro dele, nos fios da consanguinidade, recebes o teu primeiro mandato de serviço cristão.”1

Sendo assim, o binômio paternidade-maternidade, deveria receber cuidadosa atenção do casal, para não se tornarem pais dificultosos.

Uma das primeiras lições a aprender, após a chegada dos filhos, é que a vida a dois deve mudar. Já não será mais possível continuar como se fossem solteiros, ou parceiros sem filhos. Tudo se altera, afinal, é um novo ser que chega, com suas prementes necessidades diárias.

Na espécie humana, em oposição à irracional, a prole precisa do período mais longo de cuidados dos pais até chegar à fase de poder conduzir-se pelos próprios passos. Sábia medida delineada pelo Senhor do Universo, visando a fortalecer os laços de afeição no âmbito da família.

Neste processo de adaptação à nova realidade, muitos ainda não entenderam, por não se prepararem para tanto, que a criança tudo absorve. Assim, é preciso vigiar cuidadosamente as próprias condutas e palavras, pois os filhos serão, no futuro, em parte, o fiel espelho dos pais.

É de suma importância ensinar e principalmente exemplificar o aspecto religioso da vida durante a infância, o período mais receptivo para novos aprendizados do recém-reencarnado. Nesta fase, os pais deverão esmerar-se em apresentar uma religião aos filhos, levando-os às aulas de evangelização correspondentes ao credo professado pela família. Se esta providência não for levada em consideração, mais tarde os resultados poderão ser desastrosos. Uma alma sem religiosidade é uma alma parcialmente apagada para a vida. Contudo, é primordial que os filhos identifiquem nos pais a vivência dos mesmos ensinos recebidos nas aulas de evangelização.

Após a fase infantil alcançando a adolescência, o Espírito começa a incomodar-se com as transformações do envoltório biológico: a entonação da voz, a forma externa do corpo, e mesmo o jeito de pensar alteram-se significativamente, mudanças nem sempre compreendidas pelos pais. Estes acabam não sabendo como conduzir-se adequadamente diante do comportamento inquieto e um tanto enigmático do jovem, quando fica ensimesmado e, às vezes, arredio aos adultos, principalmente aos pais. As variações de humor precisam ser bem compreendidas, pois são perfeitamente naturais, sob pena de se criarem adicionais dificuldades para os jovens no futuro, algumas insuperáveis, e com possibilidade de se desenvolverem graves conflitos no seio do próprio lar e no âmbito da possível família que venham a formar.

É preciso também que os pais observem detidamente suas corriqueiras condutas no cotidiano, o modo como se portam um em relação ao outro, porque, gritos, brigas, violência, palavras ríspidas são atitudes altamente prejudiciais à boa evolução dos filhos caracterizando-se plenamente como dificultosos os pais que agem desta forma.

A disciplina deve ser apresentada não só à criança, bem como ao jovem. Os atos caracterizados por uma índole imoral ou pouco ética em estado nato devem ser imediatamente cerceados, sem violência, não há dúvida, e com amorosa repreensão. Além disso, os filhos devem participar, dentro do possível, das rotinas domésticas, integrando-se à administração da casa, seja mantendo seus pertences organizados ou mesmo ajudando na manutenção da residência. Não devem, em função de uma educação permissiva, crer que os pais existem para servi-los. Agindo assim, quando o filho adulto lançar-se ao mundo enfrentará a realidade nua e crua, quando a sociedade, competitiva por excelência, não perdoará mimos, tampouco comportamentos infantis, exigindo uma integração do recém-chegado à um ambiente participativo, sem privilégios ou especiais proteções.

O interesse por armas e brinquedos violentos deve ser cuidadosamente observado, pois podem indicar uma índole belicosa que precise ser coibida desde cedo. Jamais os pais devem possuir uma arma na residência e, ainda mais, se houver, considerando que alguns pais são vinculados às forças policiais, é imperativo que os filhos jamais a manuseiam. Se possível, é preferível que nem saibam de sua existência no ambiente doméstico. Lembramos ainda: armas jamais solucionarão qualquer dificuldade social.

Como os filhos são Espíritos antigos, igualmente criados por Deus, já possuem experiências consolidadas em várias profissões e mesmo no conhecimento das ciências. Detêm particularidades de caráter que, se não observadas, podem prejudicar sobremaneira seu o futuro. Há pais que cerceiam a liberdade de escolha do campo profissional de seus filhos, criando indivíduos desajustados e infelizes, pois não puderam expressar as suas índoles na seleção desta e não daquela profissão. Há que existir bom senso para bem orientar os jovens nesta escolha. Os filhos não são bibelôs para serem apresentados aos amigos com o título de doutores. Qualquer profissão é nobre desde que seja exercida com ética e moralidade.

Há Espíritos que nas existências passadas se deixaram apanhar pela inércia e irresponsabilidade na condução das próprias vidas. Desta forma, reencarnam sem grande interesse pelo estudo. É fato, muitos não se mostram inclinados a aprender novas ciências, reagem à mera solicitação dos pais para que estudem. Neste caso, tão logo seja possível, deverão ser incentivados a trabalhar, para que não engrossem as fileiras dos jovens nem-nem: nem estudam, e nem trabalham. Os pais não podem ser negligentes a ponto de permitir tal condição.

O uso de drogas lícitas ou ilícitas deve ser evitado a todo o custo no cotidiano da família. Os pais não devem dar este infeliz exemplo, pois, além de serem prejudiciais ao corpo biológico, podem despertar nas crianças antigos vícios adquiridos no passado que, uma vez instigados, agora por aqueles que deveriam zelar por uma educação baseada em hábitos salutares, podem trazer amargos desfechos, infelicitando tanto os pais, quanto os próprios filhos.

Não se deve tornar um pai dificultoso ao se propor dar ao filho tudo o que não desfrutou na própria infância. Embora esta conduta possua certa nobreza, não é aconselhável, pois o filho dever ganhar aquilo que estiver dentro das reais necessidades de uma criança ou de um jovem. Jamais deve ser acostumado a excessos de qualquer ordem.

Caso aconteça uma gravidez em época inadequada, jamais os pais indicarão o aborto como solução da questão.

Outra informação de conhecimento obrigatório por parte dos pais é que, eventualmente, as crises da adolescência, embora plenamente possíveis devido ao processo de reencarnação do Espírito, quando este ainda não se integrou definitivamente à nova existência, podem ser provocadas por obsessores. Neste caso, o jovem, ou mesmo a criança, deverá ser encaminhada para aulas de evangelização ou de mocidade espíritas, se possível, com possibilidade de aplicação de passes magnéticos que poderão proporcionar certo alívio às inquietações do filho obsediado. Conversas fraternas realizadas por atendentes capacitados também poderão ser empregadas para trazer alguma luz à questão.

Reformar os caracteres, enquanto se vai aos poucos controlando os maus pendores, é um roteiro seguro para se alcançar um bom processo educativo. Além destas medidas, incentivar sempre que possível as boas inclinações, identificando-as e reavivando-as, será sempre um trabalho correto. São medidas simples, mas com a capacidade de bem educar os Espíritos, de fato filhos do Criador, que se encontram provisoriamente sob nossa guarda.

É um desafio e tanto aos pais, mas plenamente possível de ser vencido.

Quando não se souber como proceder, lançar mão de outra eficaz medida: a oração. A prece sincera ao guia espiritual, a Jesus, a Deus, solicitando humildemente uma intuição de como bem proceder nos momentos de crise e incerteza, será sempre atitude salutar e recomendada.

Referência

1 XAVIER, Francisco C. Família. Espíritos Diversos. Editora: CEU. 1981. Jesus em casa. cap. 2.

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