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Reunião: Falta de jovens no movimento espírita

Autor: Felipe Gallesco

A quarta edição da pesquisa para espíritas 2018, publicada por Ivan Franzolim e que abrange todo o território brasileiro, trouxe novamente dados preocupantes sobre a frequência da criança e do jovem na casa espírita.

Das 3.926 pessoas que responderam à pesquisa, apenas 11,1% tem idade entre 11 e 30 anos, enquanto que acima de 40 anos totalizam 69,4% do público. A pesquisa considerou as faixas de idade entre dirigentes, trabalhadores e frequentadores.

Resultados parecidos foram também obtidos nas últimas edições da pesquisa para espíritas, realizadas nos anos anteriores. O fato que causou preocupação em boa parte dos dirigentes de casas espíritas da região do Tatuapé, em São Paulo, foi principalmente a questão da continuidade dos trabalhos nas próximas décadas, fator esse que vai ser determinante sobre o futuro do movimento espírita.

Essa pesquisa ocasionou uma mobilização histórica e inédita no departamento de unificação espírita da região, desde sua fundação em 1952, pois pela primeira vez foi realizado um movimento para identificar possíveis problemas e buscar soluções.

Inicialmente foram estruturadas três reuniões, com diferentes públicos para ouvir as dificuldades e propor soluções. Seguindo a seguinte estrutura:

– Reunião 1: Jovens 

Organizada pelo departamento de mocidade da USE Tatuapé: Nela estavam presentes os dirigentes de cada mocidade da região e participantes dessas mocidades para discutir o tema. O Lucas Sá e a Thalissa Santos ficaram responsáveis por anotar tudo e levar na segunda reunião.

– Reunião 2: Trabalhadores da USE Tatuapé

Reunião realizada em 08 de Maio de 2019, na Associação Espírita Paulo e Estevão, no horário das 20h às 23h. Nela estavam os trabalhadores da U.S.E Tatuapé e alguns presidentes de casas espíritas da região. A participação foi de 11 pessoas.

Fui convidado para participar e tomei nota sobre os principais aspectos discutidos, que vou desenvolver ao longo do texto, porém é importante reforçar que toda a análise e soluções propostas foram desenvolvidas levando em consideração a realidade da U.S.E. Tatuapé atualmente, isto é, pensadas para aplicação em escala distrital. Tais soluções, caso sejam adotadas por outras regiões, precisam ser adaptadas conforme a realidade de cada uma.

Infância:

  1. Maior contato com os pais e responsáveis:
    • Criar reuniões regulares com os pais para mostrar os trabalhos que estão sendo feitos com as crianças;
    • Colher feedback dos pais, o quanto está sendo importante para a criança participar das reuniões;
    • Ligar para os pais das crianças que eventualmente deixam de frequentar a casa espírita, para saber o motivo.
  2. Toda casa espírita colocar no salão de palestras públicas um cartaz grande convidando para a infância espírita.
  3. Observar a qualidade do material que os educadores estão utilizando em sala de aula. Recomendando sempre aqueles desenvolvidos pela a FEB e USE, voltados para este público. (Neste aspecto recomendo a leitura do texto ‘Educação espírita da infância é diferente de recreação infantil’).
  4. Pedir para algum bom comunicador elaborar um material sobre a importância da infância espírita e realizar palestras com este tema em todas as casas espíritas (com ou sem departamento de infância).
  5. Montar um material escrito sobre dicas de como montar e administrar um departamento de infância.
  6. Montar departamentos de pré-mocidade e sempre integrá-los em trabalhos da mocidade, para a criança não sentir medo quando for trocar de grupo. Algumas casas criaram uma espécie de formatura simbólica para esta transição e afirmaram que é bastante positivo o resultado

Em paralelo com todos estes trabalhos, o Marco Antonio Santos, atual responsável pelo Departamento da Infância da U.S.E Distrital Tatuapé, está visitando todas as casas da região para participar das reuniões de Infância Espírita, levando uma série de perguntas para o responsável sobre como funciona o departamento. O objetivo é conhecer mais a fundo os diferentes trabalhos realizados na região do Tatuapé. Futuramente podemos elaborar um texto sobre o que foi aprendido.

Juventude:

As soluções da primeira reunião realizada entre os jovens do Departamento de Mocidade e que foram apresentadas nesta segunda reunião, podem ser resumidas nos seguintes blocos de questões:

  • O que a casa pode fazer para acolher o jovem?
  • O que o jovem trabalhador pode fazer na casa?
  • O que o jovem que frequenta a casa está querendo?

Mais da metade do tempo de reunião ficou para discussão da questão do jovem na casa espírita, devido à grande rotatividade. Foram apresentadas diversas ideias, discutidos casos pontuais, problemas e soluções. Acredito que somente com um gravador eu poderia registrar a quantidade de informações úteis que foi apresentada, porém eu somente estava com caneta, papel e comendo pizza. Sim! Tinha pizza na reunião! Seguem os apontamentos:

  1. Nos eventos das casas não colocar o departamento de mocidade somente para carregar cadeiras e ajudar na limpeza. O jovem, se mostrando competente pode ajudar na cozinha, caixa ou qualquer outra parte do evento em que se mostrar útil. Foram relatados casos onde o jovem se sentiu desvalorizado;
  2. Nos departamentos de mocidade, trabalhar com artes, com a possibilidade de se criar até uma segunda reunião na semana para trabalhar com teatro, música, desenho, pintura e etc.
  3. Foi levantada a questão de o jovem poder ser dirigente da mocidade e participar de reuniões administrativas da casa, com direito de opinião, porém foi observado que todas as casas do Tatuapé já fazem isso;
  4. O Departamento de Mocidades do Tatuapé irá elaborar um material escrito que será disponibilizado para as casas, abordando boas práticas de acolhimento para jovens, principalmente para preparar o dirigente, com recomendação de como agir em situações, tais como:
    1. Participantes que chegam embriagados ou violentos;
    2. Participantes com deficiências físicas;
    3. Com estado psicológico alterado e/ou pensamentos de suicídio;
    4. Pessoas que procuram as reuniões da casa espírita com necessidades imediatas (foi relatado o caso do homem que entrou na casa espírita, durante a reunião para pedir comida).
  5. O Departamento de Mocidade irá montar Workshops para dirigentes de mocidade e interessados com o objetivo de capacitação, troca de ideias e reciclagem de conhecimento.
  6. Conversar com os presidentes das casas para permitir que as mocidades tenham liberdade de escolher os temas de estudos, voltando os mesmos para a realidade do jovem e que não fiquem presos em seguir os mesmos temas que são apresentados nas palestras públicas ou nas obras básicas. Foi observado que todas as casas permitem isso no Tatuapé.
  7. Desenvolver os temas de estudo utilizando uma didática de fácil entendimento, de maneira que um jovem frequentador não espírita possa participar, aprendendo os fundamentos da doutrina e, ao mesmo tempo, que os frequentadores mais antigos continuem aprendendo sem repetir muito as coisas.
  8. Que jovens frequentadores de mocidade possam participar do curso de estudo introdutório da doutrina espírita, podendo pular os 6 primeiros meses, se quiser, por ser introdutório e repetitivo com os conteúdos vistos nas mocidades.
  9. No começo das reuniões da mocidade sempre abrir espaço para que os participantes falem sobre como foi sua semana, sempre buscando reforçar os laços de amizade.

Além dessas soluções que foram discutidas, tiveram ainda alguns pensamentos e frases que anotei. Alguns foram frutos de pensamentos, outros foram trechos de falas dos presentes e que constituem importante reflexão:

  • Conhecer o espiritismo para ter ferramentas para enfrentar as dificuldades do dia a dia;
  • Colega de doutrina ou amigo? Às vezes as pessoas trabalham há anos na mesma casa espírita e mal se conhecem;
  • Não se comprometer com muitas atividades e fazer de qualquer jeito;
  • Na casa espírita lidamos com pessoas com uma bagagem espiritual que elas desconhecem e que nós também desconhecemos, por isso é importante nunca julgar ninguém;
  • Não ser muito racional e esquecer-se do emocional
  • Os mais antigos que participaram de mocidades têm muito a oferecer e sua experiência deve ser aproveitada. Não se deve jogar tudo fora e começar do zero. Muitas coisas que queremos ou fazemos já eram feitas antes e podemos aprender com a experiência dos mais velhos.

A próxima reunião será feita com os presidentes das casas e acontecerá no dia 2 de Junho de 2019. Na ocasião, será dada continuidade ao trabalho das duas reuniões anteriores e será elaborado um plano coletivo, com datas e pessoas.

Fico feliz por conhecer e participar deste movimento de mobilização histórico, na região do Tatuapé, em apoio à criança e jovem espírita. O fato de a questão estar sendo tratada com tamanha relevância, não significa que anteriormente era negligenciada pela U.S.E. Tatuapé ou pelas casas que a compõem, pelo contrário, trata-se de discussão importante com vistas principalmente ao futuro do movimento espírita.

Acredito que a baixa frequência de crianças e jovens não deva ser encarada como um problema em si, mas deve ser vista como convite para o diálogo e renovação, observando a atual forma de trabalho e procurando melhorar sempre.

Por isso, quero convidar o amigo leitor, que chegou até este ponto do texto, a contar sua experiência. Vamos trocar figurinhas! Caso a casa espírita onde você faz parte ou o grupo de unificação tenha feito alguma reunião ou montado algum plano de ação para este público, mande para nós! O e-mail de contato é contato@juventudeespirita.com.br

Quero postar no site todos os textos recebidos para troca de ideias e para deixar registrado para as próximas pessoas que assumirem o compromisso do trabalho com crianças e jovens, as questões que encontramos atualmente e quais soluções chegamos.

Forte abraço!!!!!!!!!!

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