Autor: Gebaldo José de Sousa
Não temais, eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor
Lc 2: 10/11
Evangelho significa Boa Nova, ou seja, boas notícias do Reino dos Céus. É mensagem universal: dirige-se a todos; a ninguém exclui, eis “que o será para todo o povo”!
Contudo, não foi ensinada, ao longo de dois milênios, com a convicção e a pureza necessárias para que as sublimes lições fossem assimiladas e transformassem para melhor a Humanidade terrena. Nesse período, pouquíssimos a exemplificaram em suas vidas!
E isto nos faz imensa falta nos tempos que ora vivemos no belo planeta Terra!
É o que se conclui nos registros do mentor Telésforo, em obra recebida em 19441:
“É indispensável socorrer os que enfrentam, corajosos, as profundas transformações do planeta”.
E acrescenta:
“A Humanidade terrena aproxima-se, dia a dia, da esfera de vibrações dos invisíveis de condição inferior, que a rodeia em todos os sentidos. Mas (…) esmagadora percentagem de habitantes da Terra não se preparou para os atuais acontecimentos evolutivos”.
Como se vê, não nos falta, nem faltará o socorro do Alto, porque a misericórdia divina é infinita!
*
Quantos somos, na Terra?
Em 1952, havia mais de vinte bilhões de Espíritos desencarnados vinculados à Terra; e dois bilhões de encarnados.2
Em 1949, recebemos a informação de que desses quase dois bilhões de encarnados, mais de um bilhão é constituído por Espíritos semicivilizados ou bárbaros; e que não passavam de 600 milhões as pessoas aptas à espiritualidade superior.3
2.000 anos após Jesus! Isso significa que aqueles que deviam divulgar a mensagem evangélica – sobretudo pelo exemplo – deturparam-na, descaracterizando-a, instituindo dogmas e cultos externos, alheios aos Seus ensinos e exemplos.
Desviaram-se por outros caminhos, fracassando de tal forma que o Mestre nos enviou, com a Doutrina Espírita, outro Consolador – como prometido por Ele mesmo, eis que a providência era necessária, pois bem nos conhece, aos homens, e tendo presciência dos fatos, busca nos reconduzir ao conhecimento e prática do Evangelho, restabelecendo-o em sua pureza original.
*
Caio Júlio César Otávio (63 a.C. – 14 d.C. – 77 anos), primeiro Imperador romano, administrou aquele Império por longos 41 anos: de 27 a.C. a 14 d.C. Por suas qualidades, foi cognominado Augusto (sublime).
Em breve retrospectiva, intercalamos a seguir dados colhidos na Enciclopédia Delta e em texto de Humberto de Campos4, Espírito:
Ele dava aos súditos sagrada emoção de segurança e alegria.
Ao presidir festas populares – cheio de angústias e problemas pessoais, seja pela saúde frágil, seja por questões familiares –, surpreendia-se com “(…) o júbilo e a tranquilidade do seu povo”.
Trouxe Nova Era para o portentoso Império, sobre o qual não se punha o sol.
Valorizou a Educação e a Justiça, renovando as leis; e a arquitetura: construiu belos edifícios, transformando Roma em cidade de mármore.
Restaurou a Paz e a ordem, após 100 anos de guerra civil.
Apoiou a literatura.
Muito honesto, fez grandes e extraordinárias realizações.
Expandiu o Comércio, construiu Estradas, Pontes e aquedutos.
Desenvolveu eficiente sistema de correios; melhorou portos.
“Franzino e doente”, foi “(…) regenerador dos costumes; restaurador das tradições mais puras da família; maior reorganizador do Império”.
Demonstrou que a Justiça começa em casa, ao lavrar decreto de banimento da única filha, por escândalos na Corte. Mais tarde, fez o mesmo com a neta.
Tão relevantes foram os fatos ocorridos naquele fecundo período da História Universal que “(…) seu nome foi dado ao século ilustre que o vira nascer”, afirma Humberto de Campos, Espírito, no texto acima referido, do livro Boa Nova, mas atribuiu os sucessos daquela época não só à ação de Augusto, mas à
“Esfera do Cristo que se aproximava da Terra, numa vibração profunda de Amor e de Beleza.
“A Humanidade vivia, então, o Século da Boa Nova.
“Ficaria o Evangelho como o Livro mais vivaz e mais formoso do mundo, o mapa das abençoadas altitudes espirituais, o guia do caminho, o Manual do Amor, da Coragem e da perene Alegria”.
Ao contrário do que muitos imaginam, desatentos, seus ensinos são de natureza prática. E nada vale apenas conhecê-los! Destinam-se a mudar comportamentos! Não nos basta frequentar templos religiosos: indispensável vivenciá-los!
Allan Kardec5 tece preciosas considerações sobre Sua Mensagem:
“Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho”.
Além de citar passagens das bem-aventuranças, prossegue indicando outras pérolas do Evangelho. Outros tópicos deste precioso texto de Kardec:
O amor ao próximo como a nós mesmos;
Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem;
O amor aos inimigos;
O perdão das ofensas, para obtermos o perdão para nossos erros;
A prática do bem sem ostentação;
Julgarmo-nos a nós mesmos, antes de julgarmos os outros;
Não cessa de nos recomendar a prática e a exemplificação da humildade e da caridade;
O combate ao orgulho e ao egoísmo;
Indica-nos, afinal, que o Mestre não se limita a recomendar a caridade; põe-na em termos claros como condição absoluta da felicidade futura.
Coloca o samaritano, que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade.
Elege a caridade em primeiro lugar, porque ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
Eis breves excertos de Sua mensagem, que resume as Leis de Deus:
“Se me amais, guardareis os meus mandamentos” – Jo 14: 15.
“Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.” – Lc 9: 23 (Como se vê, trata-se de longa caminhada.)
“Reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele.” – Mt 5: 25.
“E em qualquer casa onde entrardes, dizei antes: paz seja nesta casa.” – Lc 10: 5.
“Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também vós a eles, porque esta é a Lei e os profetas.” – Mt 7: 12.
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” – Jo 13: 34-35. (*)
Emmanuel6, Espírito, indica que os ensinamentos de Jesus:
– Não têm fórmulas complicadas;
– Sua filosofia não contém mistérios religiosos;
– Não se envolve nas dominações políticas;
– Convive com o povo simples e o convida a levantar o Santuário do Senhor nos próprios corações;
– Ama a Deus, Nosso Pai, com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todo o teu entendimento;
– Ama o próximo como a ti mesmo;
– Perdoa ao companheiro quantas vezes se fizerem necessárias;
– Empresta sem aguardar retribuição;
– Ora pelos que te perseguem e caluniam;
– Ajuda aos adversários;
– Não condenes para que não sejas condenado;
– A quem te pedir a capa cede igualmente a túnica;
– Se alguém te solicita a jornada de mil passos, segue com ele dois mil;
– Não procures o primeiro lugar nas assembleias, para que a vaidade te não tente o coração;
– Quem se humilha será exaltado;
– Ao que te bater numa face, oferece também a outra;
– Bendize aquele que te amaldiçoa;
– Dá e receberás;
– Sê misericordioso;
– Faze o bem ao que te odeia;
– Resplandeça a tua luz;
– Tem bom ânimo.
No Sermão da Montanha, Jesus assinala:
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Os que choram, porque serão consolados;
Os mansos, porque herdarão a terra;
Os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos;
Os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia;
Os limpos de coração, porque verão a Deus;
Os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus;
Os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós” – Mt 5: 3 a 11.
No artigo O maior monumento e a maior necessidade7, Jarbas Leone Varanda faz preciosos registros:
– Cita Emmanuel: A Doutrina Espírita é a Religião da Sabedoria e do Amor;
– Que ouviu de Francisco C. Xavier, ao visitá-lo, que:
“(…) você sabe que o Sermão da Montanha é o maior monumento de sabedoria de todos os tempos que a Humanidade já recebeu com vistas à sua evolução espiritual?
E você já percebeu que não existe uma só bem-aventurança destinada à exaltação da inteligência?
(…)
O que realmente o Sermão da Montanha nos oferece, o que nós encontramos em todo o Evangelho de Jesus, é a exaltação dos sentimentos de bondade, de humildade, de fraternidade, de abnegação, de Amor, de perdão, enfim: de caridade!…
– Hoje (…) a cabeça está grande e o coração pequeno, sendo certo que a Humanidade sempre se perdeu pelo cérebro, nunca se perdeu pelo coração!”
Ao privilegiarmos a inteligência, em detrimento do Amor, passamos, ao longo dos séculos, por tristes e dolorosas realidades, que perduram até os dias atuais.
Cumpre-nos, pois, educar os sentimentos, para conquistar o equilíbrio que nos religará ao Pai.
A Parábola do Samaritano assinala que aquele personagem foi ‘tocado de compaixão’.
A Espiritualidade Superior incentiva-nos, incessantemente, a realizar esse ideal que nos trará Harmonia e Paz! Não nos faltam exemplos.
Em mensagem mediúnica, dirigida a um amigo comum: expositor Espírita de nossa região afirmou que, no retorno à Pátria Espiritual, o trabalho na divulgação do Evangelho e aquele desenvolvido com a sopa fraterna foi relevante para ele, mas o que mais lhe valeu foram os raros momentos de compaixão! (*)
No Cap. 3 da belíssima obra de Humberto de Campos, Espírito, intitulada Boa Nova, há o registro de expressivo diálogo de Jesus com orgulhoso sacerdote, no qual fala da fundação do Reino de Deus:
– Galileu, que fazes na cidade?
– Passo por Jerusalém, buscando a fundação do reino de Deus!
– Reino de Deus? – E que pensas tu venha a ser isso?
– Esse Reino é a obra divina no coração dos homens! (…)
– Conheces Roma ou Atenas?
– Conheço o Amor e a Verdade.
– Tens ciência dos códigos da Corte Provincial e das leis do Templo?
– Sei qual é a vontade de meu Pai que está nos céus.
Jesus iniciou Sua passagem pela Terra em meio à Natureza, na manjedoura humilde, na noite de Natal. E concluirá Sua nobre tarefa ao longo dos séculos, onde se terá a “(…) profunda visão da Jerusalém libertada”, assinalada por João, no Apocalipse.
Meditemos sobre todas estas questões e busquemos aproveitar o tempo, como nos lembrou o poeta romano, Horácio, com a expressão: Carpe diem!
(*) – Grifei.
Referências
1. XAVIER, Francisco C. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Cap. 5, p. 32 e 33.
2. XAVIER, F. Cândido. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978. Cap. 9, p. 43.
3. XAVIER, Francisco C. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Cap. 9, p. 93.
4. XAVIER, F. Cândido. Boa Nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Cap. 1, p. 15.
5. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1ª. impr. Brasília: FEB, 2013. Cap. XV, it. 3, p. 203.
6. XAVIER, F. Cândido. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978. Cap. 13, p. 59.
7. Revista Reformador, maio/95, p. 140.
O consolador – Ano 12 – N 603 – Especial