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A banalização da indiferença

Autor: Eder Andrade

Observamos nas grandes capitais e muitas cidades, tanto pelo Brasil como mundo afora, que os homens pela pressa e necessidade de sobrevivência acabam se afastando dos necessitados, principalmente dos pedintes nas ruas e esquinas dos grandes centros urbanos.

A grande crise socioeconômica pela qual nossa sociedade vem passando, como um afastamento gradual da crença em Deus, do exercício do amor ao próximo e da caridade aos necessitados, favorecem a uma banalização, na condição de pobreza que boa parte da população vive.

As pessoas gradualmente vão perdendo a sensibilidade de perceber a necessidade do próximo, pois o imediatismo acaba favorecendo um julgamento do semelhante e atribuindo a sua dificuldade de sobrevivência a uma falta de esforço, indolência ou uso de drogas. Muito poucos são aqueles que conseguem perceber nos moradores de rua ou nas pessoas abaixo da linha da pobreza problemas que vão além da oportunidade na oferta de trabalho.

Existem casos complexos de problemas psiquiátricos ou de alcoolismo familiar, porém observamos uma banalização quase generalizada em que as pessoas passaram a não mais se importar com esses indivíduos, passando eles a ser invisíveis ao olhar do cidadão comum. Passam totalmente a transferir qualquer tipo de ajuda para os órgãos públicos ou para Organizações não Governamentais.

Tivemos a oportunidade de ter contato com um familiar por parte de pai que, devido a uma grande decepção, se tornou morador de rua na Grande São Paulo. Ele não era sem teto, fez a opção de viver nas ruas, já aposentado, e me apresentou um submundo no qual muitas pessoas que já tiveram uma família e também profissão, por um acidente de percurso da vida, passaram a viver nas ruas. Esse parente falava francês e inglês fluentemente. Não se sentia infeliz, foi uma opção, não pedia esmolas, tinha aposentadoria. Escolheu viver dessa forma. Foram diversas idas a São Paulo, onde eu o procurava para saber se precisava de algo e ele sempre me recebia feliz, não desejava ajuda. Faleceu ano passado durante o inverno, sendo recolhido como indigente.

Não existe dúvida de que existem pessoas oportunistas para tirarem vantagem do sentimento de compaixão dos indivíduos, solicitando uma ajuda que poderiam conseguir através do esforço próprio, porém como nossa sociedade vem passando por uma grave crise, já há alguns anos, torna-se difícil para alguns perceber quem de fato necessita de ajuda.

Por conta disso, fica mais fácil atribuir oportunismo nas atitudes das pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades e não necessariamente pobreza ou carência.

Muitas Casas Espíritas possuem frentes de trabalho direcionadas à assistência social, com distribuição de cesta básica, roupas e material escolar para as famílias cadastradas, assim como quentinhas ou sopa para os moradores de rua. Algumas até fazem cadastro dos moradores de rua para tentar ajudar de outras formas.

A doutrina espírita procura mostrar-nos que nada acontece por acaso, existem obras doutrinárias que apresentam relatos em que os principais personagens fizeram a opção de retornar numa condição provacional, vivendo em condições de pobreza para reparar uma falta cometida ou, em alguns casos, por um processo obsessivo que se arrasta por décadas ou gerações.

O livro Memórias de um Suicida1, psicografado por Yvonne A. Pereira e ditado pelo Espírito Camilo Cândido Botelho, apresenta no final da terceira parte uma história que representa exatamente a necessidade da reencarnação na condição de pobreza.

Mesmo sabendo que muitos espíritos solicitam reencarnações provacionais, para saldar antigas faltas contraídas, não justifica de forma alguma nossa omissão. Nossa ajuda representa um desprendimento da nossa parte dos bens materiais e uma colaboração para que o outro possa concluir sua missão de expiação.

No livro Inesquecível Chico2 organizado por Romeu Grisi e Gerson Sestini, eles nos contam a história do “O Mendigo Renitente”, pág. 91 até 93, na qual Chico revela o motivo por que determinado mendigo permanecia na varanda da casa de um frequentador, médico e militante na doutrina, amigo pessoal do próprio Chico.

As revelações que a doutrina espírita nos vem oferecendo sobre a ideia de provas e expiações podem modificar o nosso foco ou a nossa vibe em relação ao mundo em que nos encontramos.

Precisamos romper com o sentimento de descaso ou de total indiferença em relação às pessoas necessitadas, de forma a não julgar, mas fazer o que está ao nosso alcance de acordo com que sentimos no momento quando somos abordados na rua pelos pedintes.

Vamos ajudar de acordo com o sentimento que desejamos ressignificar em cada um de nós, no que diz respeito à caridade para com o próximo, segundo as palavras de Maria Dolores no livro Uma vida de Amor e Caridade3:

“… E quem é o meu próximo? — Indaguei

Ao coração da vida”

E o coração da vida obedecendo a Lei…

Respondeu com voz clara e decidida: ”

“Olha em redor de ti, onde o dever te leve

Trabalha, serve, crê, chora, sofre e auxilia…

Sem o próximo em tua companhia

Nunca serás alguém”.

Referências

1) Pereira, Yvonne Amaral; Memórias de um Suicida; 3a Parte: VII – Últimos traços; FEB.

2) Sestini, Gerson e outro; Inesquecível Chico; Cap. 12 – Entre casos e conversas; Ed. GEEM.

3) Xavier, Francisco Cândido; Uma vida de Amor e Caridade; 2a Parte:  9 – Ante o próximo (Espíritos Diversos); Ed. Fonte Viva.

4) Wikipédia (A Enciclopédia Livre).

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