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Alexandre Dumas

A velha França, berço de notáveis e populares escritores, romancistas e poetas, deu-nos Alexandre Dumas, cognominado – Pai – a fim de não surgir confusão com seu filho de igual nome e que também, como romancista, se celebrizou, principalmente com a “Dama das Camélias”. 

Alexandre Dumas, pai, foi talvez o mais fecundo dos dramaturgos românticos, bastando dizer-se, como índice de sua produtividade, que em vinte anos compôs 400 romances e 35 dramas, isto sem se levar em conta artigos, poesias e crônicas que ficaram perdidos. 

Sua obra “Os Três Mosqueteiros” alcançou êxito universal, o que por si só seria suficiente para consagrá-lo , Alexandre tinha quatro anos de idade, quando seu pai desencarnou. O garoto, ao sair da câmara mortuária, avançou em direção a uma escada de acesso ao andar superior, arrastando um rifle. Dizem que sua mãe o interpelara sobre o que ia fazer. 

– Vou para o Céu, vou brigar com Deus porque ele matou meu pai. 

O Espírito de Alexandre Dumas, pai, não obstante o cerceamento que experimentava, por força de seu corpo físico ainda frágil, já se revelava, conforme se constatou no decorrer de sua vida, um impetuoso lutador contra as forças insuperáveis. 

Aventurou-se, quando ainda muito jovem e sem dispor de recursos, a empreender viagem a Paris, somente para falar ao grande ator trágico Talma. Querer, para ele, era poder. De fato, foi à noite ao camarim desse artista, e o velho ator, encantado com o espírito do jovem, indagou-lhe qual a sua profissão. 

Sou escrevente, disse, de um notário, mas gostaria de ser escritor. 

– E por que não? – retrucou Talma. – Corneille também começou como escrevente de um notário! 

E o jovem Dumas foi logo dizendo: 

– Muito obrigado. E, por favor, não poderia o senhor tocar na minha testa para me dar sorte?

E o velho ator, sorrindo, colocou a mão sobre a fronte de Alexandre, proferindo as seguintes palavras: 

– Batizo-te poeta em nome de Shakespeare, Corneille e Schiller. 

Dumas não tomou isso como brincadeira, pelo que disse a Talma: Hei-de provar-lhe e ao mundo inteiro. E será agora! 

Foi para a casa e começou a dramatizar o romance de W. Scott, “Ivanhoé”. 

Alexandre Dumas tinha uma maneira muito singular de escrever; jamais se cingiu às regras impostas pelos grandes mestres. Para seu temperamento, ou melhor, para sua sensibilidade mediúnica, “a rigidez clássica não passava de uma camisa de força”. 

A inspiração foi a fonte mágica de seu gênio. Escrevia de um jato e jamais passava a limpo o que escrevia. 

Goethe, o grande Goethe, preocupado com as iniciativas de Dumas, recomendava-lhe moderação. “Não queiras ultrapassar teus mestres. Evita exagerar tua atividade; toda atividade sem método conduz à bancarrota. 

É preciso que a Arte seja a regra da imaginação para que se traduza em poesia.” 

Alexandre, porém, não podia compreender estas palavras de Goethe, e não podia compreendê-las porque escrevia sob inspiração mediúnica, e a verdade do que dizemos está nestas suas palavras: “Vivo como os pássaros nas árvores. Se não há vento (isto é, inspiração), deixo-me ficar; se venta (isto é, se a inspiração sopra em seus ouvidos psíquicos), abro as asas e vou para onde o vento me levar.” 

Para melhor positivarmos que ele escrevia sob o influxo de forças invisíveis, e em momentos que sua imaginação não poderia absolutamente sugerir determinados assuntos, basta citemos esta sua confissão: “Minhas mais loucas fantasias saíram muitas vezes dos meus dias nebulosos. Imagine-se uma tempestade – que era seu estado d’alma -, com relâmpagos corderosa.“ 

Há uma passagem da vida agitada desse indomável mestiço, citada por um de seus biógrafos, que é bem um atestado das suas faculdades mediúnicas. É a seguinte: 

“À noite, depois de um dia de intenso trabalho, na confecção de seus romances, ceia alegremente: relata a seus amigos o que fizeram suas personagens durante o dia, e, curioso, antegoza só em pensar sobre o que elas iriam fazer no dia seguinte; e quando os outros, de natureza mais débil, se admiravam de semelhante regime, respondia que absolutamente não se encontrava fatigado. 

“Não faço romances nem peças, tudo isso se faz por si. Não crio histórias. Elas criam-se dentro de mim.” 

Mas como? Nem ele o sabia; em resposta, limitava-se a dizer: – “Perguntai à ameixeira como é que ela dá ameixas!” 

Alexandre Dumas era dotado de grande força hipnótica. Certa feita experimentara o seu poder hipnótico com Alexis Didier, célebre sonâmbulo, e tão bom resultado conseguiu, que Didier, depois de despertar, exclamou: 

– Toma cuidado! Fosse um pouco mais forte o teu poder e eu estaria morto. 

Em sua profissão de fé aos vigários de França, encontramos este trecho assaz interessante: “Se, entre os escritores modernos, um existe que tenha defendido o Espiritualismo, proclamando a imortalidade da alma, que tenha exaltado a religião cristã, far-me-eis a justiça de dizer que sou eu.” 

Sentindo próximo o fim de seus dias na Terra, Alexandre Dumas foi para a casa do filho. 

– Meu filho, vim morrer perto de ti. 

Depois disso, fez-se taciturno. E quando seus amigos  sacudiam a cabeça com tristeza e comentavam que Dumas começara a decair, seu filho redarguia: 

– Um cérebro como o de meu pai nunca entra em declínio. Se ele se recusa a falar conosco na linguagem de hoje é porque está começando a compreender a linguagem da eternidade!

Fonte: Soares, Sylvio Brito. Grandes Vultos da Humanidade.

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