Ao companheiro espírita

Autor: Rogério Miguez

A Lei do Progresso determina a todos os filhos de Deus o trabalho como forma de alcançar a perfeição relativa. E trabalho, na sábia definição espírita, é ocupar-se com qualquer atividade útil. O objetivo desta sábia lei é a evolução, alcançar a condição de auxiliar do Criador na administração do Universo.

Dentro da seara espírita, naturalmente, esta lei também se aplica, existindo muitas tarefas a desempenhar, algumas puramente doutrinárias e um vasto leque de trabalhos práticos.

No desempenho desta particular jornada evolutiva, há dois cruciais momentos para o trabalhador espírita, bem distintos:

O primeiro acontece quando o indivíduo adentra o movimento através de, por exemplo, uma das instituições espíritas espalhadas pelo mundo. Ao escutar falar sobre o Espiritismo, assistir a um filme sobre a Doutrina, ou mesmo por conta da existência de algum problema de ordem moral ou material e, aconselhado, busca esta novidade, para quem sabe encontrar uma resposta ou até uma solução definitiva ou parcial para sua dificuldade de vida.

A partir deste contato inicial, alguns acabam por interessar-se pela coerência da filosofia espírita; outros se surpreendem com possíveis curas encontradas e, impressionados, decidem aprofundar-se um pouco mais, passando a frequentar com regularidade as variadas reuniões.

Do despertar inicial e interesse pela solidez dos fundamentos doutrinários, e como resultado desta frequência assídua, acabam percebendo a possibilidade de, eventualmente, colaborar com alguma tarefa; entusiasmados, apresentam-se buscando alguma ocupação útil dentro da seara espírita.

De imediato, contudo, notam que as rotineiras tarefas dentro de qualquer instituição requerem alguma especialidade, às vezes um conhecimento mais profundo dos fundamentos doutrinários ou das áreas de atuação espíritas, de modo a bem servir àqueles continuadamente procurando o movimento espírita, trazendo as suas variadas expectativas.

Nesta hora, os mais antigos e experientes participantes da casa espírita, já calejados pelas incontáveis horas dedicadas ao próximo, notando este sincero interesse, buscam situar o aprendiz em algum setor básico de trabalho, onde ele possa ser útil e, aos poucos, ganhar experiência e maturidade, para mais tarde avançar em outros setores de tarefas mais especializadas, quando poderá, em função de seus continuados esforços, abraçar atividades de maior responsabilidade, como acontece em qualquer empresa.

Neste momento, tanto os novatos quanto os mais adestrados devem perceber que dos primeiros se pede humildade e perseverança no envolvimento com o trabalho, pois sem a modéstia os principiantes poderão ser surpreendidos pela vaidade que muitos ainda trazem consigo, não aceitando atribuições singelas por julgarem-nas “indignas” de todo o seu cabedal de conhecimento e experiência de vida, uma vez que muitos destes recém-chegados são expoentes de destaque em suas profissões. Caso se deixem aprisionar por estes indesejados traços de personalidade – vaidade, orgulho, soberba -, não progredirão com aproveitamento, pois, é imprescindível aprender as primeiras lições, por mais simples que sejam, para em futuro próximo, repetimos, ganhar firmeza no desempenho de tarefas mais complexas.

É preciso ainda aos aprendizes estudar e muito, manusear à exaustão a literatura codificada por Allan Kardec, pois a Doutrina é fundamental para melhor conduzir esta existência, bem como tantas outras etapas de vida que virão. Desta forma, não há um momento em que o espírita sincero possa afirmar que prescinde dos estudos espíritas pois já conheceria suficientemente todos os seus postulados; ademais, esta conduta é muito perigosa e prejudicial. É comum que o espírita, ao deixar de estudar, aventure-se – muitas vezes sob influência de obsessores ou por conta de suas variadas experiências passadas, estas nem sempre ajustadas aos postulados divinos – em tentar introduzir supostos avanços ou mesmo correções no corpo doutrinário, atitude sempre inoportuna.

O segundo momento crucial, relaciona-se aos trabalhadores seniores, uma importante realidade a ser comentada. É muito comum que o leal adepto do movimento, ou seja, aquele que prima pelo estudo e emprego de obras de fato espíritas utilizadas nas diversas reuniões – considerando que na atualidade há incontáveis literaturas ditas espíritas, entretanto, não o são -, imbuído dos melhores propósitos em atuar na instituição segundo apenas os princípios espíritas, sem interferências ou intromissões de doutrinas estranhas ao corpo doutrinário, se veja cada vez mais atuando solitário em seus propósitos. Ao defender apenas as práticas espíritas dentro de uma obra espírita, o que parece óbvio, mas infelizmente não é, encontra resistência daqueles que não estão perfeitamente alinhados ao Espiritismo, pois ainda não o entendem. Muitos oriundos de outras correntes religiosas, desta ou de outras existências, algo insatisfeitos com a simplicidade e objetividade das práticas espíritas, tentam a todo custo trazer para dentro do movimento condutas extravagantes que não se coadunam com a realidade do Espiritismo.

A solidão, não presencial, mas aquela que se instala na mente do trabalhador, é um sentimento que surge muitas vezes nestas situações. Suas propostas de trabalho embora perfeitamente coerentes, não encontram ressonância. Assim, fica isolado, sente-se só, sem apoio e, neste momento, diz a sabedoria que a única opção é continuar a trabalhar dentro de seus sinceros ideias, pois o Criador tudo vê e tudo sabe, e certamente este valoroso e atuante ator das lides espíritas não está de fato sozinho, tem o seu anjo guardião sempre a seu lado. Sendo assim, não deve desanimar jamais, pois aqueles desejosos dos aplausos dos homens já receberam as suas respectivas recompensas.

E mais, quando esta condição instalar-se, o sentimento de solidão consolidar-se, às vezes até de rejeição pelos seus pares, o trabalhador deve recordar-se do maior exemplo de abandono: Jesus, que apesar de ver-se até traído, deu continuidade a seu testemunho, jamais desanimando de sua gloriosa missão.

Cabe destacar ainda que no entrosamento entre os mais calejados e os noviços trabalhadores, é sempre oportuno lembrar que dos primeiros se pede paciência com o aprendiz. Sem esta importante e fundamental atitude, o futuro trabalhador desanima diante dos erros de atuação que ocorrerão naturalmente, e acontecem em qualquer ramo de trabalho. Ainda aos primeiros lembrar que, se agora dispõem de certa fortaleza e experiência para o trato das atividades espíritas, isto se deve a que no passado alguém ou algum Espírito desencarnado cuidou de seu desenvolvimento, portanto, jamais deverá envaidecer-se de seu conhecimento e traquejo nas lides espíritas, pois, no passado, também foi um aprendiz.

Estas são as orientações espíritas que todos nós precisamos atentar para engrandecer o movimento, honrando o Mestre de Lyon em seu esforço e dedicação para materializar esta obra que agora está à nossa disposição, auxiliando-nos em nossa caminhada rumo ao Pai.

DESPERDIÇARÉ MÓ VACILO