As consequências de nossas escolhas

Autor: Rogério Miguez

Considerando a antiga fase de nossa evolução, quando começamos a construir os primeiros rudimentos de livre-arbítrio, auxiliados pela nascente e progressiva conquista da razão, simultaneamente iniciou-se um ininterrupto processo de escolhas e, em todos os momentos, passamos a decidir sobre os rumos de nossas existências, fossem eles quais fossem, e nos mínimos detalhes.

Durante estas muitas existências anteriores, em função de nossas predileções por este e não por aquele caminho, por esta e não por aquela decisão, moldamos uma personalidade e um caráter que agora nos acompanha, influenciando sobremaneira as nossas novas alternativas nesta atual etapa de evolução. Por sua vez, o nosso passado influenciará por largo tempo as futuras existências e estas, por sua vez, estarão sujeitas também aos resultados das novas escolhas por ora realizadas.

Além de ponderações racionais, influenciam as nossas decisões os seguintes aspectos: emocionais, psicológicos, sociais e culturais, ou seja, quando deliberamos sobre uma atitude ou conduta há cinco campos de nossa individualidade atuando ao mesmo tempo.

Nosso longo processo de evolução contemplará incontáveis opções, até o ponto de atingir a perfeição relativa, quando, plenamente cientes dos desígnios celestes, não mais optaremos entre caminhos tão diversos, tais os que agora se apresentam, pois conheceremos exatamente quais são os nossos deveres, o que de fato devemos e precisamos realizar, tudo alinhado às imutáveis leis divinas, finalmente aprendidas em sua plenitude.

Cremos que, neste grandioso momento, ao atingir a condição de Espíritos puros, as escolhas deverão ser bem mais simples, não se darão conforme o modo em que vivemos atualmente, quase errático, pois a nossa visão da realidade será objetiva e lúcida, não deixando margem para hesitações, descaminhos e estacionamentos evolutivos.

Entretanto, enquanto estes gloriosos dias não chegam quando estaremos bem perto do Pai, cabe-nos usar de todo o nosso tirocínio para bem ajuizar sobre as diversificadas rotas apresentando-se na existência – e elas surgem a todo instante -, em uma tentativa de promover, desta forma, boas e produtivas escolhas, não redundando em amargas desilusões mais à frente.

Porém, como faremos este gradativo e intransferível trabalho de construção do nosso caminhar, bem selecionando as melhores atitudes e condutas, produzindo os melhores resultados para nosso aprendizado e crescimento moral? Um desafio e tanto!

Acreditamos que a mais importante e segura conduta seria buscar a consolidação do conhecimento sobre nós mesmos, o conhece-te a ti mesmo, de acordo com o que pregou a sabedoria do mais renomado filósofo da antiguidade, Sócrates, aquele humilde cidadão grego que prudentemente alegava “nada saber”. Se o Pai da Filosofia asseverava tudo desconhecer, imaginemos nós, quanto temos ainda por aprender, sobre as leis da Natureza e nós mesmos.

Sendo assim, neste movimento sempre ascendente, uma das formas de observar-se “por dentro” certamente seria refletir com cuidado sobre quais foram os estímulos motivadores de nossas escolhas, e suas respectivas consequências.

Como vimos anteriormente, a nossa marcha evolutiva se faz por um continuado escolher, mesmo antes de para aqui voltarmos mais uma vez, pela ação da inevitável lei das muitas vidas.

Não desconhecemos que se temos condições para tanto, ou seja, razoável discernimento e mediano entendimento dos princípios divinos, nos é facultado participar do delineamento das provas e expiações presentes em nossa futura existência. Faz parte das leis eternas facultar a todo Espírito, com capacidade de vislumbrar o que precisa fazer para promover seu crescimento moral e intelectual, participar ativamente da elaboração do quadro de grandes marcos materiais presentes no próximo tentame evolutivo em um mundo físico qualquer.

Estas são as primeiras deliberações que fazemos, norteando toda a nossa futura existência. É por isso que se diz que o passado se faz presente – na vida atual -, pois ele guia as principais escolhas previamente realizadas ainda na erraticidade, “fixando” significativos acontecimentos em nossa caminhada. Contudo, é oportuno esclarecer que mesmo estas importantes balizas podem sofrer ajustes em função de nossas novas escolhas que seremos obrigados a realizar ao longo da jornada, durante a vivência das anteriormente selecionadas provas e expiações.

Observa-se desta forma que, quanto mais acertadas forem as escolhas na recente encarnação, menos entraves encontraremos no futuro.

Por outro lado, os menos aptos, aqueles que ainda não dominam certas regras divinas, quando se preparam para reencarnar têm as provas e expiações que enfrentarão selecionadas por Espíritos mais sábios, não podendo interferir na futura existência, até porque alguns nem perceberam que “morreram”, sendo obrigados a reencarnar compulsoriamente. Para estes, os maiores marcos materiais serão vividos sem que sequer saibam que precisariam enfrentá-los. É tudo uma questão de merecimento e capacidade de compreensão do processo evolutivo.

E o que fazer quando as nossas escolhas aqui na Terra nos levam a desapontamento, sofrimento, amarguras ou mesmo desencanto conosco?

Buscar pacificar o coração, respirar fundo, orar bastante e pedir ajuda ao guia espiritual para intuir-nos com ideias renovadas, fazendo-nos enxergar aspectos ainda não percebidos do contexto em questão, aguardando pacientemente por novas oportunidades – e estas certamente virão -, jamais desesperando, pois Deus é Pai misericordioso.

Lembrar que por mais equivocada tenha sido a nossa opção, a bondade divina nos ofertará novas chances para podermos acertar e, quem sabe, se tivermos aprendido as lições oriundas dos nossos deslizes e incorretas decisões do passado, melhor  escolheremos no futuro.

Perceber e entender que os insucessos em nossas vidas não têm por causa os políticos, a sociedade, a religião professada, os Santos, Deus… Não! As desventuras enfrentadas estão associadas única e exclusivamente ao uso irrefletido do livre-arbítrio.

E se nossas escolhas são acertadas, frutificam a cem por um, trazem alegria, satisfação à nossa existência e aos próximos que nos cercam.

Agradecer sinceramente a Deus às possíveis intuições que recebemos sem que sequer tenhamos percebido, fortalecermo-nos nestas acertadas decisões, buscando repetir estes padrões quando novas situações se apresentem, exigindo-nos outras e renovadas escolhas.

A nossa jornada evolutiva está repleta de opções. Sendo assim, estudemos, observemos, conversemos, oremos e, com toda a certeza, estas singelas práticas nos ajudarão e muito nas horas de tomar graves decisões.

Há dois mil anos um sábio carpinteiro advertiu: a semeadura é livre, contudo a colheita é obrigatória. Desta forma, se desejamos uma safra farta e generosa, lancemos as corretas sementes agora, escolhendo com humildade e bom senso as trilhas onde iremos transitar. A caminhada será tão mais tranquila e feliz quanto mais acertadas forem as nossas escolhas dentro dos princípios divinos.

Façamos escolhas responsáveis!

DICA

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