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Crueldades com animais

Autor: Eurípedes Kuhl

Perdoe-nos, leitor amigo, trazer para o papel este artigo; o cérebro se agita, o coração dói, a alma sofre. Pesa-nos fazê-lo, mas é necessário.

Seria covardia, omissão no mínimo, não gritar bem alto ante tanta iniquidade praticada contra os animais. À vista da maldade, sob qual rótulo se apresente, não se pode fechar os olhos ou fugir qual avestruz (enterrar a cabeça na areia), resolvendo assim o problema, de formas tão enganosas.

Animais são criaturas de Deus: nossos irmãos. Dessa forma, qualquer maldade que lhes infligimos, caracteriza desrespeito à harmonia que regula os atos da natureza. Sem nos alongarmos, considerem os leitores que a violência ‒ sob qualquer aspecto ‒ repudia a todos aqueles que amam a paz, independentemente de serem ou não religiosos. É sabido que violência gera violência, na inexorável lei de ação e reação. Por falar em religião, encontramos alertas vigorosos da lei de ação e reação na Bíblia:

  • O Senhor retribui a cada um segundo as suas obras (Salmos, 62:12);
  • Irmãos, de Deus não se zomba: aquilo que o homem plantar, aquilo mesmo terá que colher ‒ palavras de Paulo (Gálatas, 6:7).
  • Inspiradas, certamente, nas de Jesus:
  • A cada um, conforme as suas obras (Mateus, 16:27);
  • Que ratificou-as no Apocalipse de João (22:12):
  • E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras.

Não se trata aqui, jamais, de caracterizar vingança divina. Deus não é vingador, nem premiador, é, além do mais alto nível imaginável, a Justiça Perfeita. Assim, o que se pretende enunciar é que violência gera violência, da mesmíssima forma como amor gera amor. A opção é da consciência de cada um.

Em outras palavras: enquanto o homem desrespeitar a natureza, seja com violência para com o próximo, seres vivos e condições ambientais, neste mundo não haverá a felicidade. A própria Ciência já preconiza que a natureza devolve tudo o que lhe é ofertado. Aliás, o buraco de ozônio na atmosfera terrena, as chuvas ácidas, as incontáveis e desastrosas enchentes, as inversões climáticas, as novas patologias etc. não nos deixam mentir.

Portanto o considerarmos indispensável narrar aqui crueldades para com os animais, constitui vigoroso grito, de repúdio e dó, de espanto e incredulidade, ante ações que desmerecem a razão, rebaixam o espírito e denigrem a espécie humana ‒ dita racional.

Que nosso libelo ecoe nos corações endurecidos fixando neles, ao menos, sementes de respeito, quando de amor possível ainda não seja.

Circos

Há muita controvérsia quanto ao emprego de animais em circos. (Embora, em alguns estados do Brasil, seja proibida essa prática, em muitos outros estados essas apresentações continuam). Quem os vê, executando incríveis movimentos acrobáticos, obedecendo inteligentemente ordens de seus treinadores, empolgam-se ante tão belo espetáculo circense.

Por de trás, o treinamento, como seria?

Não precisamos alongar considerações, para reconhecer que um animal só aprende um determinado procedimento, após repeti-lo incontáveis vezes, por reflexos condicionados, enunciados por Ivan Pavlov (1849-1936), notável fisiologista soviético. Assim, o animal fica condicionado a agir segundo um sinal do seu treinador. Ocorre que até que tal ponto seja alcançado, o animal terá sido induzido, por pressão, prêmios ou castigos, a agir da forma desejada pelo homem.

Animais de grande porte são levados ao treinador desde pequenos, convivendo apenas com ele. Numa primeira etapa a ele se ligam, por afeição; crescendo, entram na fase de treinamentos, onde medo substituirá afeto, já que o não cumprimento de ordens, desencadeadas por senhas, redundará em castigo.

Dessa forma, o animal passa a viver esse outro estágio de sua vida: quem quer que observe as reações dos felinos, num cercado no picadeiro, deslocando-se com o corpo rente ao chão, orelhas para trás ou, então, fugindo sempre do treinador (com o látego ou outro objeto na mão), deduzirá o que acontece nos treinamentos, longe dos olhos do respeitável público.

No circo, o olhar dos elefantes, cavalos e macacos é de felicidade?

E que ninguém ignore: é fato contrário à natureza animal os deslocamentos constantes, de cidade em cidade, invariavelmente segregados em jaulas. Inconveniente também, sob todos os aspectos, o que se vê nos espetáculos noturnos: animais selvagens, alguns de grande porte, sob potentes holofotes, diante de plateia, ora silente, ora irrompendo em aplausos, geralmente ao som intercalado de estridente música, obedecendo comandos dos domadores.

Foi esse o habitat que Deus destinou-lhes?

Por tudo isso, aos olhos do Criador, quem está certo?

Descabida a condenação simplista e hipócrita apenas aos circos (que utilizam animais); eles só subsistem porque têm fregueses.

Jardins Zoológicos

Todos os seres viventes são amantes da liberdade.

O que dizer de pássaros, agraciados por Deus com a vastidão dos céus ‒ engaiolados? O que pensar de animais silvestres, cujo lar é a floresta ‒ circunscritos a espaços exíguos, quando não a jaulas? O que dizer de cetáceos, répteis e peixes, nascidos para a imensidão das águas ‒ alojados em tanques d’água ou em aquários? Tudo isso, para quê?

Para satisfação e curiosidade pública.

Deus do Céu! Não é cem vezes mais gratificante ver um ninho numa árvore, próximo de sua casa?

Experimente atrair tais passarinhos com pensamentos de bondade e logo eles corresponderão, em inequívocas demonstrações de simpatia.

Os animais, desde os selvagens, são sensíveis, veja o carinho maternal da tigresa com seus filhotes, com isso demonstrando amor latente.

Naturalmente, mercê de nossa inteligência, não será prudente a aproximação nem a convivência com a fauna silvestre, cujo habitat é recheado de situações de risco; mas, será lícito subtrair seus habitantes daquele meio ambiente, interrompendo brutalmente sua marcha evolutiva, confinando-os a espaços limitados e inadequados? A que título? Curiosidade? Lazer?

Também nos zoológicos, quem se predispor a olhar bem dentro dos olhos dos animais só encontrará tristeza e infelicidade.

Por inevitável, face agressão humana à natureza, as espécies animais ali existentes, geralmente raras, exóticas ou em extinção, devem ser carinhosamente tratadas, de forma a permitir sua procriação.

Porém, daí a transformar os jardins zoológicos em vitrines ou prisões perpétuas, há uma distância enorme.

A realidade da maioria dos zoológicos é de carência em quase todos os sentidos: instalações, área útil, pessoal especializado ‒ verbas, enfim.

Por exemplo:

Segundo o jornal A CIDADE, de Ribeirão Preto-SP, de 17.jan.93, no Paraguai, onde está instalado o Jardim Zoológico e Botânico de Assunção, um dos mais importantes da América Latina, as autoridades ambientalistas lançaram alerta/apelo para salvar os 600 espécimes de animais e 18 mil espécies de plantas ‒ todos em perigo ‒, por falta de condições da municipalidade em mantê-los.

Esse zoológico abriga espécies de animais do mundo todo, algumas praticamente desaparecidas.

Gostaríamos de estar enganados, quanto à situação dos zoológicos, refletindo-se isso em desconforto e doenças para seus inquilinos compulsórios.

Caro leitor, se em sua cidade há um zoológico, procure verificar se nele:

  • O pessoal encarregado tem afinidade natural com os animais, amando-os (ou, no mínimo, respeitando-os)?
  • Os tratadores possuem cursos específicos, ministrados a cargo da Prefeitura Municipal, com apoio didático de veterinários, biólogos, nutricionistas da fauna?
  • Há entrosamento com os técnicos do IBAMA e estes frequentemente ali comparecem? Qual foi a última visita e qual o parecer?
  • Os órgãos particulares de proteção aos animais (UIPA, por exemplo) têm acesso à administração, com vistas a cooperar com o bem-estar dos animais?
  • Há cozinha específica para preparo dos alimentos dos animais?
  • Os animais estão alojados em áreas cujo espaço é o previsto na Lei n° 7.173, de 14.dez.83, que dispõe sobre o estabelecimento e funcionamento de jardins zoológicos? (Essa Lei prevê as áreas mínimas de animais em cativeiro. Por exemplo: urso = 100 m²; chimpanzé = 70 m²; leão e tigre = 100 m²; elefante = 1.000 m²).
  • Os animais dispõem de abrigo da chuva e áreas de sol?
  • Os animais convivem com similares em condições de cruzamento?
  • Os animais são protegidos contra visitantes, os quais, mesmo intencionalmente podem prejudicá-los?

Nota: Num Zoológico do interior do Est. S. Paulo ocorreram óbitos de animais causados pela ingestão de objetos estranhos: uma ema tinha em seu estômago 30 moedas, atiradas festivamente por visitantes; um veado engoliu plástico melado de doce e morreu.

Rodeios

Os rodeios estão na moda: de março a novembro de 1993 foram previstas 112 Festas do Peão, isso só no Estado de S. Paulo (Folha de S. Paulo, 02.mar.93). Já em 05.março.1997, a mesma Folha de S. Paulo noticiou a programação anual de 1.200 provas pelo interior do país, existindo 105 estádios exclusivos para rodeios no Brasil, para um público estimado em 24 milhões.

A Revista VEJA, de 19.maio.99 registrou a programação anual de rodeios para 1999: 1.380, para um público rural estimado em 27 milhões.

O Prefeito de São Paulo, num gesto de sensibilidade e coragem (face aos opositores), sancionou, em 18 de maio de 1993, Lei municipal proibindo rodeios, touradas ou eventos similares no município. Idêntica atitude tomou o promotor de Cravinhos-SP em 1995, requerendo por meio de ação civil pública, concessão de liminar para impedir a realização de rodeio na 3ª Festa do Peão de Boiadeiro, daquela cidade. Em seu requerimento, o promotor alegou que a utilização dos instrumentos empregados no rodeio podem causar fraturas, cegueira e até a morte do animal. O juiz de Cravinhos concedeu a liminar. Com alegria, informamos que festas desse gênero são proibidas, além de S. Paulo, nas cidades de Santo André, Campinas, Diadema, Franca, São Bernardo do Campo e Rio de Janeiro.

Em Barretos-SP, todos os anos, normalmente em agosto, no monumental Parque do Peão ‒ projetado por Oscar Niemayer ‒, a Festa do Peão de Boiadeiro é assistida por público de todo o Brasil. Para o evento de 1999, a estimativa é de 1,5 milhão de pessoas.

Mas, afinal, o que são rodeios?

Rodeios utilizam cavalos e bois e na verdade são simulacros de touradas, as quais são proibidas no território nacional, face o Decreto Federal 24.645/34.

Mas, contraditoriamente, a Portaria n° 14, de 17.jul.84, da Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional, subordinada ao Ministério da Agricultura, prescreve as normas que devem ser obedecidas em rodeios e vaquejadas. Maus tratos são sumariamente condenados.

Se o dispositivo legal protege o animal, não é isso o que acontece na prática.

O rodeio simula a doma de cavalos indomáveis, o que é falso, pois já são mansos. Quanto aos bois, é inacreditável seu emprego, pois não são animais de montaria. Há uma pergunta que não quer calar: para que os peões montam bois, visando amansá-los, se desde os tempos antigos sabe-se que não são animais adequados para isso? Os maus-tratos a esses animais se caracterizam pelo uso do sedém (espécie de corda amarrada na parte traseira dos animais, de forma a comprimir os órgãos genitais), quando a corda é bruscamente comprimida, no instante da largada, os animais sentem dor intensa, então, seus desesperados corcovos (saltos, pinotes). Houve casos de o sedém ser usado com instrumentos pontiagudos (esporas). De qualquer forma, é de se observar que os animais, até então calmos, só quando o sedém é repentinamente apertado, simultaneamente com a abertura do brete (dispositivo para conter o animal), entram em desespero; enganosamente, tal é tido à conta de indomabilidade.

Em uma ação contra o município de Presidente Prudente-SP e a Sociedade Os Vaqueiros, o Ministério Público de São Carlos-SP obteve laudo técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em que é comprovado o sofrimento e a degradação do animal submetido ao sedém e outros instrumentos comuns nos rodeios.

O rodeio não é de origem nem da cultura brasileira: veio da América do Norte e infelizmente, entre nós, está tomando foros de acontecimento nacional.

Quando a festa do rodeio termina e os alegres assistentes vão para suas casas (ou para as choperias), desconhecem os dramas que ali iniciaram: sempre ficam peões machucados, não raro com fraturas graves; outros peões, frustrados, veem esboroar, em segundos, sonhos de emancipação financeira, glória e fama, acalentados o ano todo; quanto aos animais utilizados, sequelas nas virilhas são testemunhas eloquentes da crueldade por que passaram; dali para frente, seu comportamento nunca mais será o mesmo, tornando-se assustadiços.

O que esperar de um povo que se diverte com isso?

Essa é a gratidão humana por terem esses animais alavancado o progresso do mundo?

Em 1997, em Ribeirão Preto-SP, um touro escapou da arena de rodeio, saltou a cerca de proteção (1,85m de altura) e feriu sete pessoas. Por liminar impetrada pelo promotor de Justiça do Meio Ambiente, naquele rodeio nenhum animal estava com o cruel sedém. O touro que fugiu estava estressado, como aliás todos os que participam dos rodeios, pois cavalos e bois não foram criados por Deus para divertir pessoas em arenas barulhentas, muitas vezes, em horários noturnos.

Nota: A Lei Federal 9.615, de 24.março.98, estabelece o desporto brasileiro como um direito individual, normatizando sua prática. Em nenhum momento cita animais, menos ainda rodeios. Não obstante, na esteira desse dispositivo legal, tramita na Câmara dos Deputados (maio/99) um projeto tratando da regulamentação da profissão do peão de rodeio.

É de se perguntar: como ficará o aspecto legal dessa prática importada da América do Norte (surgiu lá, na época da colonização), em face do Art. 3°, Inciso I, do Decreto Federal n° 24.645, de 10.julho.1934, transcrito na íntegra no apêndice desta obra, que preconiza multa e prisão celular para aqueles que aplicarem maus-tratos aos animais?

Ora, sabidamente, dos rodeios resultam quase sempre animais feridos, sendo também certo que todos os animais de rodeio têm o comportamento alterado, pela atividade altamente estressante, realizada em horários e ambientes impróprios à natureza deles.

Enduro com cavalos

(Enduro, do inglês: endurance = persistência, paciência).

No Brasil, essa atividade, com várias etapas e disputada em várias categorias, vem a cada ano ganhando mais adeptos em muitas cidades (Campinas, Sorocaba, Monte Alegre do Sul, São Carlos, todas do Est. S. Paulo; Praia do Forte, a 80 km ao norte de Salvador-BA).

O Campeonato Brasileiro de Enduro Terrestre programou a segunda etapa para 08 de maio de 1993, em Serra Negra-SP e a terceira, para 19 de junho de 1993, em Angra dos Reis-RJ.

Geralmente, são usados cavalos puro-sangue, os quais devem percorrer caminhos acidentados, sob comando de cavaleiros competentes. No primeiro enduro baiano, na Praia do Forte, em 20 de março de 1993, foram montados cavalos das raças mangalarga, cruza-árabe, campolina, entre outras.

Nota: Este texto destina-se a informação a eventuais leitores que desconheçam o que são os enduros. Excluindo eventuais sobre-esforços impostos aos cavalos, ou falta de assistência a eles no percurso, no caso de acidentes, é modalidade esportiva sadia. O animal até gosta do passeio.

Apartação

Festa tradicional dos vaqueiros nordestinos, já chegando aos Estados do sul (Minas Gerais, por exemplo).

Em abril de 1997 realizou-se em Presidente Prudente-SP a prova de pista com emprego de cavalos quarto-de-milha, cujos cavaleiros deviam apartar bezerros em poucos segundos ou saltar sobre o pescoço de garrotes em alta velocidade.

Nos EUA, festas de apartação, também tradicionalmente realizadas, com grande entusiasmo público, movimentam US$ 1 bilhão, por ano. (Fonte: Folha de S. Paulo, 09.mar.93).

Consiste a apartação na reunião do gado até então solto no sertão (pastos), sendo apartado e entregue aos seus donos.

Desportivamente, atrai multidões, que deliram ante a destreza do cavalo, sob comando de experimentado cavaleiro, apartando determinada rês do rebanho, impedindo-a de a ele retornar, tudo sendo cronometrado.

Tirante tensão e esforços excessivos (carreira desabalada ‒ rês em fuga e cavalo em perseguição) não causam maiores danos aos animais envolvidos.

Vaquejada

Modalidade esportiva praticada sobretudo no nordeste brasileiro.

Dois vaqueiros a cavalo devem derrubar um boi, dentro dos limites de uma demarcação a cal, puxando-o pelo rabo. Vence a dupla que realizar a proeza em menor tempo.

Também pode ser praticada apenas por um vaqueiro, geralmente derrubando um novilho e laçando suas patas traseiras.

(Os pontos são obtidos em função do tempo gasto desde a perseguição até a laçada final).

Nessa atividade, o prejuízo ao animal perseguido é incomparavelmente menor do que o da tourada ou do rodeio; até porque, não há morte do animal, ocorrendo eventualmente torções musculares, ou, raramente, fraturas; debite-se, porém, o estresse a que ele é submetido, o que, de futuro, poderá torná-lo arredio ou mesmo agressivo à aproximação do homem.

Touradas

Proibidas no Brasil: Decreto Federal N. 24.645, de 10.julho.1934 (Art. 3°, item XXIX).

Espetáculo e esporte nacional da Espanha, popular também em alguns países da América Latina.

É o combate entre o homem e o touro, em arena apropriada, às vistas de multidão: após enfurecer o animal, ele é morto ‒ uma só estocada no pescoço; se, ao contrário, matar o toureiro (o que acontece de longe em longe), é poupado para sempre.

Salvo melhor juízo, trata-se simplesmente de premeditado assassinato, sob as vistas de milhares de testemunhas, que deliram ante o animal morto.

Uma jovem espanhola, iniciando pioneiramente atividades de toureira, declarou em 1992 que “ninguém tem mais amor pelo touro do que o toureiro”. A menos que estejamos em outro planeta, precisamos de urgentes explicações ou de novo dicionário. Foi noticiado, tempos depois, sem maiores detalhes, que ela foi ferida por um touro.

No início de 1996 articulou-se, principalmente no Rio de Janeiro, um movimento para trazer touradas para o Brasil. Houve protestos, em particular de uma famosa cantora brasileira de rock, defensora de animais. Pois não é que um articulista do jornal Folha de S. Paulo “articulou” o fantástico sofisma de considerar que “touradas são cultura”(sic)? Dá para acreditar?

Em 1999, as autoridades de Madri, capital da Espanha, estão analisando a proibição de menores de 14 anos acompanhar touradas, pois especialistas acreditam que tais espetáculos podem causar-lhes distúrbios emocionais.

Corrida de touros

Popularizou-se na Espanha, a partir do século XVIII: alguns animais são soltos nas ruas e a multidão foge deles; os mais corajosos enfrentam-nos, não raro matando-os.

Na França e Portugal existem espetáculos semelhantes.

Farra do boi

No sul do Brasil, em Santa Catarina, à guisa de manter as tradições, um tipo de tourada algo semelhante à corrida de touros é chamada farra do boi. Tão cruel (uma barbaridade) é o que fazem os participantes ao animal que dispensamo-nos de narrá-lo, posto que a TV já o mostrou para todo o país.

Em razão dos opositores que em uníssono ergueram sua voz em veemente protesto, através de importantes veículos de divulgação, houve progressos (?): a partir de 1993, a eutanásia foi incluída na farra do boi, sendo esta uma das principais decisões tomadas em 22 de março de 1993, na reunião conjunta de ecologistas com representantes da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina. Em Florianópolis, a “farra”, que acontece na Páscoa, a partir de 1993, passou a ter o acompanhamento de veterinários que decidirão se o boi deve ser sacrificado.

Segundo o veterinário da Prefeitura, a eutanásia (injeção letal para provocar morte sem dor) será praticada se o boi estiver extremamente machucado.

Se o boi significar ameaça (?) será executado pela Polícia Militar.

Honestamente: sem comentários.

Nota: Em 1993 a farra do boi aconteceu de 5 a 11 de abril, tendo sido registradas 50 “farras”, só na região metropolitana de Florianópolis-SC. Não aconteceram excessos, tendo sido as mais calmas dos últimos anos. Não houve registro de animais mortos pelos farristas, nem pelos veterinários (eutanásia).

Mas a tragédia esteve presente: um jovem de 16 anos que estava atiçando os bois, num dos caminhões que transportavam os animais, caiu e foi atropelado pelo próprio veículo, vindo a falecer antes de ser socorrido no Hospital Florianópolis.

Ainda em 1993, a ACAPRA ‒ Associação Catarinense de Proteção aos Animais ‒ fez um roteiro de conscientização junto aos farristas, sensibilizando-os, devendo-se seguramente a isso a diminuição da violência contra os inocentes animais.

Nota: O Jornal Nacional/TV Globo, de 09 de abril de 1993, noticiou que o jovem atropelado teria levado uma cabeçada de um dos bois transportados no caminhão, o que a família negou.

Já em 1994, como o espetáculo prosseguisse, a atriz francesa Brigitte Bardot, em carta ao então presidente do Brasil, apelou que o governo brasileiro soubesse dar um exemplo de civilização ao mundo, proibindo o ritual que acontece em Santa Catarina anualmente: a farra do boi.

A festa acontece todos os anos entre o Carnaval e a Páscoa: na época da Páscoa (abril), essa infame festa se intensifica naquele Estado.

Em 1995, as autoridades de Santa Catarina declararam que a farra seria exercida dentro dos limites do respeito.

Em 1997, o Supremo Tribunal Federal considerou a farra do boi inconstitucional; contudo milhares de catarinenses prometeram desobedecer à lei.

Caça

A legislação brasileira de proteção aos animais, paradoxalmente, autoriza a caça amadorística, proibindo a profissional, considerando esportiva aquela e predatória, esta.

A caça autorizada reveste-se de normas, licenças, prescrevendo épocas e regiões apropriadas, além de quais armas e munições podem ser empregadas.

Dizia uma instrução do extinto IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal):

“Atualmente o conceito de caça amadorista pretende manter uma tradição ligada à própria história do homem, que constitui uma salutar forma de exercício físico e espiritual, em comunhão com o ambiente natural. “

De nossa parte, custamos a crer que tal afirmativa tenha tido origem numa entidade governamental, justamente encarregada de proteção à flora e à fauna.

No Brasil, a caça amadora pode ser realizada em apenas algumas áreas do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Que esporte e que exercício espiritual são esses que matam?

A caça oficial

Sob a equivocada égide de contato com a natureza, vão os caçadores orgulhosamente colecionando troféus em suas salas de visita, deixando atrás de si um rastro de sangue. Gastam fortunas nesses safáris tupiniquins, mas voltam felizes, conquanto com os bolsos mais leves.

Fazendo uso de um truque, para esquivar-se da lei brasileira, tornou-se comum a criação de fazendas de caça, onde são criados, para depois serem alvo, animais que não fazem parte da nossa fauna nativa, a qual tem a tutela do país.

Dentre as espécies alienígenas importadas e soltas nessas fazendas de caça, incluem-se: faisões, perdizes espanholas, marrecos do Hemisfério Norte, cervos asiáticos e antílopes africanos.

O investimento financeiro dos proprietários dessas fazendas, consideradas chiqueirinhos por alguns, tem retorno compensador garantido.

Respeitando os ciclos naturais e a saúde das espécies, os donos das fazendas são cuidadosos em conservar o estoque, garantindo assim a eternização da caça.

(Revista OS CAMINHOS DA TERRA, outubro/92).

Como se vê, como pano de fundo, sobressai o dinheiro.

Defensores dos animais e ecologistas protestam, mas suas vozes ecoam menos do que os estampidos nos banhados.

Até quando?

Nota: Fiscalização da temporada de caça

O único Estado do país a ter a caça oficializada ‒ o Rio Grande do Sul ‒, teve 70 fiscais do IBAMA na temporada de 1993 (início em maio/93).

Eram mais de 4 mil caçadores gaúchos.

O total de aves e animais previstos para serem abatidos legalmente em 1993 deveria repetir o número do ano anterior: 10 milhões.

Em 1992, os 4.500 caçadores não conseguiram preencher a cota permitida por caçador (unidades/semana):

  • Marrecão: 30; marreca-piadeira: 20; marreca-caneleira: 10; perdiz: 10; lebre europeia: 20; pombo de bando: 20; pombão: 10.

Em 1993 estavam sendo feitos estudos pelo IBAMA para oficializar a caça também em Santa Catarina.

Em junho de 2000, o IBAMA autorizou nova rodada de caça amadora em parte do Rio Grande do Sul, definindo que seriam expedidas, no máximo, 4 mil autorizações, para oito espécies animais (seis aves e outras duas, para a lebre europeia e garibaldi).

A caça oficiosa

Além da caça dita esportiva, há outra configuração, em nível mundial ‒ a caça desenfreada, clandestina ‒, objetivando grandes lucros:

Rinocerontes

No Zimbábue (África), fala-se em rinocídio: matança apenas para aproveitamento dos chifres, que teriam singular poder erotizante; transformados em pó, são os chifres exportados para o Oriente. A matança, curiosamente, é organizada por brancos do Ocidente.

De 1985 a 1992 foram mortos 1.500 rinocerontes africanos, o que os inclui na espécie em perigo de extinção.

Dos 2.000 espécimes existentes em 1989, em 1993 restavam apenas 380, sendo 230 em liberdade e 150 em zoológicos ou parques privados.

Elefantes

Voltamos a falar dos elefantes: ainda no Zimbábue, existem 77 mil exemplares (apenas 25 mil a mais do que o necessário para a preservação da espécie).

Ingrata, a estatística referente aos elefantes: ao lado dos números acima, pesquisa recente do Quênia, (África), consigna a existência de 625 mil elefantes africanos, havendo especialistas que optam pelo número de 609 mil, e outros ainda que afirmam chegar o número a 1 milhão. Tal estatística é controversa, eis que em 31 de janeiro de 2000 o jornal Folha de S. Paulo reportou, com base em agências internacionais, que: o Quênia tinha 140 mil elefantes em 1972, número que caiu para 19 mil em 1989, quando foi proibida a venda do marfim. Desde a decisão, a população do animal aumentou novamente e hoje está em torno de 30 mil.

Há uma organização mundial de 103 países, a CITES ‒ Convenção Internacional de Espécies em Vias de Extinção, que até 1997 proibia a exportação do marfim. Lutando com dificuldades, por falta de recursos, naquele ano suspendeu o embargo ao comércio do marfim, medida que entrou em vigor em 1999. Em abril de 2000, a CITES cogitava de proibir novamente a venda do marfim.

Nota: Realmente ingrata é a vida, ou pelo menos o que dela se diz, relativamente aos elefantes.

Paralela às notas acima, vejam esta outra:

França testa pílula de aborto para elefantes ‒ Cientistas buscam meio de controlar a explosão demográfica dos elefantes no Zimbábue e na África do Sul.

Em detalhes, informa-se que embora espécie em extinção imediata, os elefantes encontraram nos parques nacionais um local privilegiado e calmo; assim, estão se reproduzindo além da capacidade biológica do lugar. É grave o problema(?): elefantes comem muito e vivem mais ainda, destroem a vegetação e tiram o alimento de outras espécies animais, ameaçando sua sobrevivência. Atualmente, no Zimbábue, elefantes são mortos em determinado número anual, por caçadores que de helicóptero abatem a família inteira, para impedir que eventuais órfãos desordenem outras manadas… essa matança, porém, está estressando os animais, de vez que ao morrer os elefantes emitem sons inaudíveis ao homem, mas que são captados a quilômetros de distância por outros elefantes.

Tigres

O tigre caminha lentamente para a extinção. Em 1994, não havia mais que 7.500 animais espalhados pelo Planeta, estando a maior parte na Ásia (Índia). Causa: o elevado preço da pele de tigre, no mercado negro, para depois ser transformada em tapetes e casacos. Os ossos do tigre são usados como matéria-prima de remédios reguladores de disfunções cardíacas.

Em maio de 1996, estavam contabilizados apenas 4.600 espécimes desse animal, que é o maior felino do mundo, às vezes chegando aos três metros de comprimento e com peso superior a 300 quilos, e que teve desaparecidas três subespécies, nos últimos cinquenta anos.

Curiosidade: o maior escritor argentino de todos os tempos, Jorge Luis Borges (1899-1986), quando criança, ficava, horas e horas, no zoológico de Buenos Aires, observando o tigre, até que sua mãe vinha chamá-lo para comer. Sua viúva considera O ouro dos tigres – poemas, como os mais bonitos da lavra do famoso escritor.

Raposa

Esporte tradicional na Inglaterra. Incrível: na mesma Inglaterra, que foi a primeira nação do mundo a elaborar lei de proteção aos animais e que tem seu atual Príncipe herdeiro tido como ambientalista.

A crueldade pela qual a raposa é caçada é uma dessas coisas que não se consegue entender, vez que é tida como esporte elitista, aristocrático. A raposa, perseguida por cães especialmente treinados, se não for estraçalhada por eles, é eletrocutada. Para não sofrer, alegam os caçadores.

Em 1997, o Congresso britânico proibiu a caça à raposa na Inglaterra, onde, só naquele país, tal tradicionalíssimo esporte causava a morte de 100.000 raposas por ano.

Ursos

Não falta mais nada em termos de barbaridades contra animais: em Phoenix ‒ Arizona, nos EUA, existe um grupo denominado Realize um Desejo (Make-a-Wish Foundation), fundado há 16 anos, que se dedica a realizar os últimos desejos de crianças e adolescentes em estado terminal, já tendo atendido 37 mil pedidos. Essa entidade conta com 11 mil voluntários nos EUA, agindo em 82 filiais, instaladas em 27 dos 50 Estados do país, movimentando um orçamento anual de US$5,1 milhões. Até aí, tudo normal. Louvável, até. Acontece que em maio de 1996 esse grupo atendeu ao pedido de um jovem de 17 anos, com câncer, levando-o ao Alasca, para participar de uma caçada de ursos Kodiak (Kodiak é nome de ilha do golfo, no Alasca). Já imaginaram se a moda pega?

Defensores dos direitos dos animais prometem destruir o tal grupo.

Víboras e peles de ursos polares

Nos EUA, em 1988, agentes do Serviço de Pesca e Vida Silvestre descobriram 3,5 milhões de dólares em narcóticos (heroína e cocaína), dentro de cordões, introduzidos em víboras e peles de ursos polares.

Baleias

A caça das baleias é mundialmente proibida, pela crueldade, que exibida na televisão, espantou até corações menos sensíveis. Contudo, existe ainda.

Nota: O Japão tem um Ministro encarregado da pesca. Declarou ele, na abertura da 45ª reunião anual da Comissão Internacional da Baleia ‒ CIB ‒, (Kyoto, Japão, maio de 1993), que o Ocidente está tratando as baleias como vacas sagradas do mar. A proibição da pesca da baleia, desde 1985, contrariou interesses dos países que mais se dedicam a essa atividade ‒ Japão e Noruega. Discutiu-se, na reunião, qual a população atual das baleias, especialmente, as minke. A Noruega alegou que a população minke era de 86 mil exemplares; por isso, ao término da reunião, anunciou que iria caçar 296 exemplares, destinados a pesquisas científicas. Grupos ambientalistas denunciaram que essa prática é um disfarce para a pesca comercial. A decisão da Noruega colidiu com a proibição de caça, prorrogada por mais um ano, imposta pela CIB.

A CIB, em 1996, discutiu a criação de um santuário na Antártida para oferecer proteção permanente a espécies de baleias em extinção.

O Japão é o único país que continua a matar baleias na Antártida, como parte de um programa de pesquisas científicas que permite que sejam capturadas 300 baleias minke, anualmente.

Pesca predatória

Bem que podemos equipará-la à caça.

Em menor ou maior escala, a pesca mundial reveste-se de verdadeiras atrocidades.

Pouca, ou nenhuma diferença existe entre o pescador que utiliza uma tarrafa e o barco pesqueiro equipado com receptores especiais que captam informações vindas de satélites: em ambos os casos animais impróprios ao consumo são colhidos indiscriminadamente, sendo devolvidos às águas, mortos ou mutilados.

Nota: Em boa hora, a Polícia Militar Florestal do Estado do Mato Grosso do Sul instituiu, em 1997, um folheto que explica a legislação e a cota máxima de pesca no Pantanal, o que é fiscalizado atentamente por aquela Polícia.

Peixes tropicais

Cerca de 350 milhões de peixes tropicais foram vendidos em 1988, provocando danos ecológicos na natureza, ainda ignorados. Comentar, o quê?

Rãs

(Rãs são caçadas, capturadas ou pescadas?)

Em 14 anos, a França teria importado 1 bilhão de patas de rã do Sudeste Asiático.

Pesca predatória + pirataria

A Revista VEJA, de 25 de novembro de 1992, noticiou (resumidamente):

“Em novembro de 1992, o pesqueiro japonês Chiyo Maru, com 104 toneladas de peixe a bordo, foi detido na costa do Rio Grande do Norte pela corveta brasileira Forte Coimbra. Uma traineira brasileira levaria alguns anos para tirar do mar essa quantidade de peixes. No caso, espantou a tecnologia empregada pelos japoneses, notórios piratas dos mares modernos: implacáveis, para pescar atuns costumam dizimar bandos de seus simpáticos predadores, os golfinhos, que são recolhidos e depois jogados mortos de volta ao mar. Além disso, continuam capturando baleias, sob a alegação de que as utilizam para fins científicos. Por motivos tais, os japoneses são malvistos onde quer que joguem suas redes de malha fina.”

Sendo contrários ao que denominam sacralização das baleias, não é de se esperar que angariem simpatias mundiais (ambientalistas de todos os países).

A mesma Revista, de 27 de janeiro de 1993, noticia a opinião de um bem-sucedido empresário brasileiro:

“O Japão já tira do mar 25% de suas necessidades de alimentos, minerais e energia”. Prossegue: “Os japoneses têm fazendas marinhas, mantidas por boias que emitem um som, numa certa frequência, para atrair os cardumes. Sem cercas, sem nada, os peixes ficam ali, são alimentados pela boia, que lança regularmente na água as proteínas adequadas aos alevinos. De vez em quando, um barco passa lá com uma rede do tamanho certo e leva só os peixes adultos.”

Indeclinável comparar os métodos, de cá e de lá. A se confirmarem as notícias, nada elogia tal comportamento, mormente praticado por um país de tradições espiritualistas tão marcantes.

Noticiou o Jornal A Cidade ‒ de Ribeirão Preto-SP, de 25 de março de 1993:

“Os 80 mil quilos de peixes apreendidos do Chiyo Maru serão liberados para combate à fome no Nordeste, beneficiando 240 mil habitantes carentes do Rio Grande do Norte. Outros 60 mil quilos de peixes, também apreendidos no navio espanhol Horizonte I, estocados em Fortaleza-CE, aguardam tão somente decisão judicial para serem entregues ao governo cearense, para distribuição à população daquele Estado. Doravante, segundo o Ministro do Meio Ambiente, essa será a destinação das apreensões de pescas irregulares em águas territoriais brasileiras.”

Envenenamento – Bolas de carne com veneno

Em 1960, a U.I.P.A. (União Internacional Protetora de Animais), Seção de São Paulo-SP, consultou o I.M.L.-SP (Instituto Médico Legal de São Paulo), sobre o perigo que podem oferecer as carcaças de animais mortos por meio das conhecidas “bolas” ou “bolinhas” de carne com veneno (Processo 8.861/60).

Em resposta, o I.M.L.-SP esclareceu que:

  • Os despojos dos animais vítimas de envenenamentos, antes de serem reduzidos a esqueletos (carcaça), sofrem, de acordo não só com o tipo de animal ‒ com maior ou menor sobrecarga gordurosa, estado físico dos mesmos ‒, mas também com os locais onde se verifica o desenlace, processos putrefativos diferentes e mais ou menos acelerados;
  • Apoiando-nos no tirocínio profissional de trinta anos, verifica-se que no Laboratório de Toxicologia do Instituto Médico Legal do Estado, têm se observado vários venenos nas bolas de carne, geralmente administrados em doses generosas;
  • As vísceras em decomposição (cadáveres expostos longamente ao Sol ou ao calor) possuem efeitos altamente tóxicos e os líquidos das mesmas escoados se infiltram no solo, mesmo sem o auxílio das chuvas e vão contaminar vegetais e águas de córregos ou poços que, não raro, passam a disseminar enfermidades as mais variadas e de efeitos acentuados.

Observa-se, de sobejo, que uma vez mais se confirma velho refrão que adverte: a natureza devolve tudo o que lhe é dado.

Agrotóxicos

São indispensáveis, os de fórmula química aprovada e em doses certas. Em muitos países há sérias restrições a muitos deles. O uso indiscriminado de defensivos agrícolas proibidos por lei causa envenenamento, atingindo as pragas das plantações, mas também a fauna e os homens.

Fácil imaginar as trágicas resultantes.

Duelos

Eis aqui algo espantosamente apreciado por uma parte do gênero humano ‒ os duelos:

  • Entre homens: sejam mortais (antigamente, gladiadores e nobres), ou sejam esportistas ‒ boxe, judô, karatê, sumô, luta livre, full contact (luta de pontapés e socos, simultaneamente) ‒ etc.
  • Entre animais: da mesma espécie (brigas de galo, canários, cães etc.), ou de espécies diferentes (cães x ursos, cães x cangurus, por exemplo).
  • Tirante as modalidades esportivas, as demais são legalmente proibidas, no Brasil, o que nem sempre é respeitado, pois, às ocultas e, às vezes, ostensivamente, são promovidas brigas entre animais. O fim é sempre o dinheiro, através de apostas, mas o meio é o que mais empolga aos fanáticos assistentes.

Qualquer criança sabe que os animais, quando em luta natural, estão defendendo, ou seu território ou agem em defesa da espécie; quando o mais fraco percebe que está em desvantagem, normalmente desiste do combate e o abandona, fugindo. Poucos animais levam o combate até à morte, de um ou dos dois contendores (rinocerontes, cobras, por exemplo).

Em boa hora, a legislação brasileira (Decreto 24.645/34 – citado no Apêndice Animais: Legislação Brasileira, desta obra) proibiu tais espetáculos (duelos entre animais): analistas do comportamento humano consideram-nos trágicos, posto que evidenciam degradação moral do homem; com crueldade, o racional estimula o instinto do animal, levando-o à ferocidade descontrolada; sem escape possível, fatalmente haverá morte entre os adversários.

Na Inglaterra foi instituída lei em 1991 proibindo luta de cães; em poucos meses a polícia inglesa recebeu 8.200 denúncias contra donos de cães de luta. No início de 1992, o jornal londrino The Independent noticiou que foram exterminados cerca de 400 cães da raça pit bull terrier, em toda a Grã-Bretanha, após a vigência da lei de cães perigosos. Motivo: esses cães atacam selvagemente, principalmente crianças. Mais lamentável que o extermínio desses

cães é o fato de que essa raça foi induzida à ferocidade por seus donos.

De Roma, informou a agência noticiosa ANSA (jornal A CIDADE RP-SP, 09 de janeiro de 1993) que também no sul da Itália, são comuns as lutas clandestinas (importadas da Grã-Bretanha e EUA), entre os cães pit bulls, criados em laboratório.

E não só lutas de cães pit bulls: também vira-latas, drogados antes, são obrigados a lutar entre si até a morte, para dar um espetáculo entusiástico e aumentar a intensidade das apostas, disse aquela agência.

Os encontros foram gravados em videocassetes especiais, para serem vendidos clandestinamente àqueles que por alguma razão não puderam assistir ao vivo a matança dos animais.

De Moscou chegou a triste notícia: em 08 de março de 1993 realizou-se num ginásio da capital russa um torneio de luta de cachorros, tendo como principal atração os tristemente famosos pit bulls terrier, importados dos EUA. O campeonato da briga de cachorros foi público e teve organização oficial.

Infelizmente, contudo, no Brasil também aconteceram e estão acontecendo tristes fatos, ligados aos pit bulls: depois de várias pessoas serem atacadas por esses animais, o Senado discute projeto de lei proibindo a comercialização e procriação dessa espécie de cachorro, a exemplo do que já ocorre na Inglaterra e França. Noticiou a imprensa em março de 1999 (resumidamente):

  1. Catita, uma cadela vira-lata, mãe recente de cinco filhotes, heroicamente salvou das mandíbulas de um pit bull um garoto de 4 anos, em São Paulo-SP. A cadela, com graves ferimentos e sequelas, em consequência das mordeduras do cão agressor, tornou-se nobre (holofotes da mídia), tendo os filhotes vendidos a preços elevados;
  2. Sobre os pit bulls:
  3. Na verdade, quem adota esses cães são jovens, na maioria adolescentes de classe média alta, pela imagem que o animal tem de violento;
  4. Seus donos, em paralelo, fazem jiu-jitsu, raspam o cabelo, têm amplas tatuagens, são adeptos da fisicultura;
  5. Alguns, sem hesitar, alegando que esses cães foram feitos para brigar, por isso quero ter o melhor, apostando muito dinheiro nisso, revelam o treino e o tratamento que dão aos seus pit bulls para a rinha:
  6. O cão fica sem água por dois dias, depois recebe sangue de galinha;
  7. Passa a maior parte do tempo preso;
  8. Recebe animais vivos (coelhos, galinhas e gatos) para matar;
  9. Para treinar a mordida, usa-se a pele de um gato morto amarrada em um pedaço de pau;
  10. Para mais resistência, ele passa por exercício aeróbico com natação e corrida em esteira;
  11. Para mais autoconfiança, o filhote recebe vira-latas para brigar;
  12. 48 horas antes da luta, não come nem bebe.
  13. O repórter perguntou a um desses jovens:
  14. O que você faz se seu cão perde um combate?
  15. Eu sempre dou uma chance, treino o cão de novo. Mas se começa a perder, a se entregar, não adianta: tem de ser sacrificado.
  16. Como isso é feito?
  17. Normalmente é a tiro, já que é simples e não dói.

Estarrecedor

Em sã consciência há que ser meditado:

  • O que resta em tais rinhas ou improvisados palcos de combate, senão ferimentos, morte e animais irreversivelmente ferozes? Isso é passatempo?

Nota: O Espiritismo leciona que espíritos infelizes, extremamente jungidos à matéria, usufruem desses encontros, pois o energético psíquico que dali exala lhes serve de alimento. Tais espíritos, situados nas zonas inferiores do Plano Espiritual mais próximas à psicosfera terrena, são atraídos para esses infelizes palcos da maldade humana, por sintonia com os assistentes. Ali, a simbiose espiritual entre encarnados e desencarnados se processa sem dificuldade, vindo a gerar processos obsessivos futuros de difícil desate.

Mas nem tudo está perdido: outros proprietários de cães dessa espécie afirmam, solidariamente com criadores, veterinários e especialistas em comportamento animal, que a personalidade dos cães pode ser moldada pelo dono.

E isso é verdade, tanto que tão logo circularam as cruéis notícias, dias após a TV GLOBO, no telejornal para Ribeirão Preto-SP e região, mostrou como em Franca-SP, uma amável cadela pit bull terrier amamentava docilmente um filhote de macaco, órfão materno. O macaquinho, após mamar, empoleirou-se no pescoço da mãe adotiva, a qual recebia com gosto tais expressões de carinho.

Animais abandonados

O problema para o animal abandonado é que geralmente ou ele é atropelado, ou é morto por pedradas ou tiro ou é apreendido pelas chamadas carrocinhas. Neste último caso, animais sadios quase sempre são contagiados por outros, que estejam doentes e até mesmo hidrófobos. Nesses depósitos, são mantidos por alguns dias em cativeiro e se não forem retirados pelos donos ou por voluntários, serão executados. Então, surge novo fator de crueldade para com o animal, pois essa execução nem sempre é feita com métodos que excluam a dor.

Cenas parciais mostradas no Jornal Nacional, da TV Globo, em 12 de março de 1997, são de estarrecer: no Rio de Janeiro, cães vadios (injustiça adjetivar assim um cão que, na verdade, foi abandonado por algum dono insensível) são capturados nas ruas e depois de três dias, se ninguém buscá-los, ou adotá-los, são sacrificados numa câmara de vácuo.

Ali, diariamente, são sacrificados 250 cães, em câmaras de descompressão de ar.

Nota: Mais do que nunca, enfatizamos que o desamor para com os animais é um problema que só terá solução a médio ou longo prazo, através da educação… do ser humano. Sim: se começarmos a educar a criança, despertando nela o respeito pela natureza em geral e o carinho pelos animais domésticos em particular, quando tiver o seu, jamais o abandonará.

O caráter de crueldade do abandono de animais é que geralmente ocorre quando eles estão doentes ou idosos, incapacitados de sobreviver; o animal que, por anos, foi alvo de carinhos, aos quais sempre retribuiu, no mínimo em dobro, vê-se largado em ambiente estranho; antes de sucumbir por diversos fatores agressivos (fome, dor, frio ou ataques de toda espécie, de outros animais mais fortes ou de pessoas), nele se instalará a tristeza.

Se pudesse falar, talvez perguntasse: o que fiz para merecer tamanha ingratidão?

Matadouros

Matadouros, sob qualquer ponto de vista, envergonham a raça humana. Já descrevemos, no nosso livro ANIMAIS, nossos irmãos, os horrores perpetrados contra bovinos e equinos. Agora, sempre pedindo a Deus que tal represente um grito de alerta contra a crueldade que ocorre nos matadouros, com a alma doendo muito, vamos acrescentar outras notas.

Doença da vaca louca

Uma crise de alimentação ameaça os consumidores de carne bovina de toda a Europa. É a chamada crise da carne. No início de 1996, essa crise eclodiu devido ao surgimento de indícios da ligação entre a doença degenerativa que afeta o sistema nervoso dos animais com a sua semelhante humana. A União Europeia pediu o abate de 120 mil cabeças de gado do Reino Unido.

A doença afeta o cérebro do animal e causa tal descontrole motor que ele parece ter enlouquecido. Daí, o nome “vaca louca”.

Há fortes indícios de que essa doença pode ser transmitida para pessoas. Em 1997, foram feitos dois novos estudos que comprovaram que comer carne de um animal contaminado pela doença da vaca louca causa no ser humano uma doença parecida, que destrói o cérebro.

Suínos

Poucas palavras da língua portuguesa cometem tão grande ofensa, quanto ao seu emprego, como o nome de porco dado aos suínos. Na verdade, como já dissemos, são animais domésticos, limpos, que só comem restos porque são trancafiados em cubículos imundos, onde só a infame lavagem lhes é dada como alimento. Movimentando-se pouco, engordam mais.

Quase sempre são mortos com um facão, tendo o pescoço secionado, ficando assim até que o sangue esgote. Depois, são jogados em tanques de água fervente.

Aves

Em geral, frangos. O símbolo financeiro vitorioso do Plano Real, tão decantado pelo governo brasileiro.

Pobres aves: normalmente, passam 40 a 50 dias ingerindo uma ração péssima, espremidos uns aos outros, ocupando praticamente apenas o espaço do próprio corpo. Seu transporte se dá em condições miseráveis: em embalagens para duas dezenas, são amontoados uns cinquenta. Após, seu sofrimento termina: são decepadas.

Nota: A propósito desse tema (Matadouros), convém relembrar aqui que, às questões 723 e 724 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores que auxiliaram Allan Kardec a codificar o Espiritismo ponderaram que, na nossa constituição física atual (estávamos em 1857), a carne nutre a carne, devendo o homem alimentar-se segundo exigências da sua organização; quanto à abstenção do alimento animal, só será meritória se houver privação séria e útil.

Tal privação, quer nos parecer, será aquela vivenciada no texto de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap IX, n° 5, no qual Kardec consigna: quando a lei de amor e de caridade for a lei da humanidade… o fraco e o pacífico não serão mais explorados, nem esmagados pelo forte e pelo violento.

Muitas pessoas revoltam-se quando veem predadores (geralmente felinos) caçarem uma presa e com ela alimentarem-se. Gatos domésticos costumam ser odiados quando caçam um passarinho. Isso porque o gato é pequeno e assustadiço, já que ninguém se atreve a ir na selva educar leões, tigres, panteras ou onças.

O que não pode deixar de ser comentado é que não raro, as mesmas pessoas que condenam os gatos se esquecem de que:

  • Os homens é que foram buscá-los no seu habitat (a floresta, o mato) e os trouxeram para as cidades;
  • Aliás, todos os felinos caçam porque neles isso é instintivo, já que para isso foram devidamente equipados por Deus, ao criá-los e colocá-los em meio ambiente onde igualmente habitam suas presas;
  • Eles próprios (os homens inimigos de gatos) podendo se alimentar de inúmeros outros alimentos, entretanto não dispensam um frango à passarinho, um contrafilé mal ou bem passado ou uma bela picanha na churrasqueira;
  • Pessoas comem carne com sofisticados preparo e temperos; os animais, in natura.

Homens podem ingerir toda espécie de carne.

Leões, tigres e onças, também podem comer carne de suas presas.

Os gatos, em particular, não.

L.E.R. ‒ (Lesões por esforços repetitivos)

Qualquer atleta, com algum tempo de prática esportiva, sabe o que pode acontecer com as partes do corpo que são submetidas a esforços físicos repetidos: avarias físicas, quase sempre irreversíveis.

Mas não só os atletas: também muitos datilógrafos e digitadores, por exemplo, têm sido vítimas de tendinites, provocadas por movimentos contínuos e repetidos.

Em 1998, o cão Bud tornou-se celebridade norte-americana por estrelar o filme Air Bud, no qual é um jogador de basquete. Só que em consequência do exagero de arremessos a que o cão foi submetido a representar, adquiriu câncer ósseo, vindo logo a falecer, em março de 1998.

Dica

Material extraído do livro abaixo. Leia o ebook de forma gratuita:

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