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Desenvolvendo a consciência

Autor: Anselmo Ferreira Vasconcelos

Uma das características mais admiráveis dos tempos atuais é a espantosa velocidade com que as notícias e imagens nos chegam. De um segundo para o outro ficamos devidamente cientes dos acontecimentos que moldam a nossa vida em sociedade. Mas nesse autêntico aluvião de fatos há, infelizmente, os de natureza primitiva e selvagem a dominar o “eu” de considerável contingente de pessoas. Além da chocante violência que externam, há, sem dúvida, algo mais a considerar, ou seja: a falta de consciência dos indivíduos. No geral, o assunto abrange nuances acentuadas, que merecem exame apropriado. Afinal de contas, identificar a falta de consciência no bandido perverso não requer nenhum esforço de análise. No entanto, quando elevamos a barra também a observamos em outros grupos humanos mais solidamente constituídos.

Mas, afinal, o que é consciência? Na sua acepção mais comum, consciência denota pleno conhecimento do que se faz. Assim sendo, consciência e pensamentos (bons) andam sempre lado a lado. Explicando melhor, cumpre lembrar que a nossa mente produz milhares de pensamentos ao longo do dia – sinalizando a vida presente em nós. Neles constam as lembranças de coisas que fizemos ou deixamos de fazer, dos acertos e desacertos, dos fatos agradáveis e desagradáveis e assim por diante. Portanto, podemos até mesmo sepultar em algum cantinho da mente, se assim o desejarmos, as lembranças mais infelizes por nós protagonizadas, mas nunca por tempo indefinido. Cedo ou tarde elas ressurgem em nossa tela mental, evocadas por outros eventos ou não e, dependendo da sua natureza e impacto, podem nos atormentar profundamente.

Dentro dessa premissa, a consciência funciona como um instrumento avaliativo. Portanto, quanto mais maduro psicologicamente o indivíduo, mais atilado esse mecanismo é. Em outras palavras, pode-se afirmar que a expressão da consciência indica progresso espiritual, pois o cidadão consciente age mediante um conjunto de valores éticos e morais. Movido por ideais superiores, sabe ou pelo menos intui que a noção do bem deve lhe guiar permanentemente como uma bússola. Desse modo, o indivíduo consciente tende a cobrar muito de si mesmo, vigia atentamente a sua conduta, pondera sobre tudo o que faz, bem como não se escusa de eventuais erros. Embora não seja perfeito moralmente, busca com a sinceridade do coração atingir tal condição.

Em contraste, geralmente nos referimos aos autores de atos ou atitudes menos dignificantes como elementos “sem consciência” ou de “consciência embotada”. Portanto, neles não há uma atividade mental de autojulgamento suficientemente capaz de lhes refrear os impulsos negativos e/ou animalescos. Há neles, quando muito, rudimentos conscienciais.

Entre os dois extremos acima aludidos há, evidentemente, milhões de criaturas que já apresentam certo grau de entendimento a respeito e trabalham – mais ou menos intensamente – para desenvolver a sua consciência sobre o significado da vida e as suas implicações transcendentais. Diria que nestas pessoas já há alguma preocupação e interesse com as questões de natureza metafísica. Aparentemente nelas já ocorreu, por assim dizer, o despertamento espiritual. Seja como for, a recomendação do Espírito Joanna de Ângelis, como consta no livro Vida Plena (psicografia de Divaldo Franco), lhes é altamente providencial: “Faze uma análise de tuas horas e pergunta-te se estás fazendo o que deves”. Para avançar além do campo teórico, vale recordar um ilustrativo diálogo apresentado na obra Ação e Reação de autoria do Espírito André Luiz (psicografia de Francisco Cândico Xavier). Nela vemos a referida entidade sendo devidamente esclarecida a respeito dessa questão pelo Espírito Druso:    

– “[…] nossa consciência reflete a treva ou a luz de nossas criações individuais. A luz, aclarando-nos a visão, descortina-nos a estrada. A treva, enceguecendo-nos, agrilhoa-nos ao cárcere de nossos erros. O Espírito em harmonia com os Desígnios Superiores descortina o horizonte próximo e caminha, corajoso e sereno, para diante, a fim de superá-lo; no entanto, aquele que abusa da vontade e da razão, quebrando a corrente das bênçãos divinas, modela a sombra em torno de si mesmo, insulando-se em pesadelos aflitivos, incapaz de seguir à frente. […].”

Com base nos ensinamentos dos Espíritos, devemos, então, nos preocupar com o acerto das nossas decisões e passos para que reflitam uma consciência impoluta. Do contrário, como elucidou o Espírito Silas a André Luiz, na referida obra:

– “[…] Qualquer sombra de nossa consciência jaz impressa em nossa vida até que a mácula seja lavada por nós mesmos, com o suor do trabalho ou com o pranto da expiação…”

E o Espírito Druso arremata o ensinamento ao concluir peremptoriamente:

– “…é indispensável atender à justiça, e a Justiça Divina está inelutavelmente ligada a nós, de vez que nenhuma felicidade ambiente será verdadeira felicidade em nós, sem a implícita aprovação de nossa consciência”.

Nesse amplo processo, o autoconhecimento é um mecanismo vital para o despertamento consciencial do indivíduo. Se a pessoa não conhece o que lhe inunda o íntimo, falta-lhe, então, a autocrítica, o autoexame, que possibilitam a aferição de valores e desenvolvimento da própria consciência, enfim. O Espírito Joanna de Ângelis fornece valiosos apontamentos a respeito na obra Autodescobrimento: Uma Busca Interior (psicografia de Divaldo P. Franco) que valem ser resgatados. Por exemplo, a benfeitora argumenta que “…adquirir consciência, no seu sentido profundo, é despertar para o equacionamento das próprias incógnitas, como consequente compreender das responsabilidades que a si mesmo dizem respeito”.

Mais ainda, para ela:

“É imprescindível um constante renascer do indivíduo, pelo renovar da sua consciência, aprofundando-se no autodescobrimento, a fim de mais seguramente identificar-se com a realidade e absorvê-la. Esse autodescobrimento faculta uma tranquila avaliação do que ele é, e de como está, oferecendo os meios para torná-lo melhor, alcançando assim o destino que o aguarda”.

 Infere-se, assim, que a aquisição de consciência é um processo contínuo. Avançando a individualidade pela senda do progresso, vislumbra outros aspectos e desdobramentos existenciais que lhe facultam a capacidade de melhor compreender o Criador. Para a benfeitora espiritual, “O ser consciente é um indivíduo livre e realizador do bem operante, que tem por meta a própria plenitude através da plenificação da Humanidade”.

Vê-se, desse modo, que ter consciência pressupõe engajamento efetivo na realização de ideais superiores na dimensão corpórea. Há, infelizmente, muitos homens e mulheres que se conduzem pela vida sem qualquer noção ou laivo de consciência. Atiram-se sofregamente às atitudes e comportamentos tresloucados sem qualquer preocupação com as consequências decorrentes.

Posto isto, ativar a consciência, conforme explica Joanna de Ângelis, envolve um processo interior no qual a constante vigilância e despertamento das potencialidades adormecidas são medidas essenciais. Ela também enfatiza que “Adquirir a consciência plena da finalidade da existência na Terra constitui a meta máxima da luta inteligente do ser”. Nesse particular, a educação espiritual é o meio mais apropriado para o nosso desenvolvimento consciencial ajustando-o às diretrizes divinas calcadas no amor e na construção da sabedoria. Desenvolver a consciência, a propósito, é uma tarefa para toda a vida. Ao empreender tão louvável iniciativa, estamos, na verdade, inscrevendo em nosso âmago a Lei de Deus, como elabora a referida mentora espiritual.

Ademais, não devemos jamais esquecer que a nossa consciência é o nosso legítimo juiz e dele não podemos fugir. Talvez seja por essa razão que o apóstolo Paulo declarou: “Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular convosco” (2 Coríntios, 1:12). O Espírito Emmanuel, por sua vez, argumenta, no livro Fonte Viva (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que, num sentido mais básico, a vida de um indivíduo consciente consiste no atendimento aos deveres para consigo mesmo, para com a família e para com toda a humanidade. Notem que o pleno uso da consciência não pressupõe preferências ou restrições de qualquer natureza. O referido mentor recomenda igualmente em outra obra, ou seja, Caminho, Verdade e Vida (também psicografada por Francisco Cândido Xavier), que guardemos a retidão de consciência atirando-nos ao trabalho edificante, pois, desse modo, “toda situação representará oportunidade de atingir o ‘mais alto’ e o ‘mais além’”.   

O consolador – Artigos

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