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Exortações acerca da vigilância mental

Autor: Sandro Drumond Brandão

Seres inteligentes da Criação os Espíritos, encarnados ou na condição extracorpórea, têm como único atributo o pensamento[1].

Fonte viva de criação o pensamento plasmado e emitido pelo Espírito (forma-pensamento) viaja pelo fluido[2] residindo na faixa vibratória com a qual se afina.

Se os pensamentos têm no fluido a sua via de transmissão, é evidente que sobre ele promovem transformações a lhe caracterizar a sua qualidade.

Allan Kardec nos ensina que:

“Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável. Os fluidos que envolvem os Espíritos maus, ou que estes projetam são, portanto, viciados, ao passo que os que recebem a influência dos bons Espíritos são tão puros quanto o comporta o grau da perfeição moral destes.”[3]

O homem vive na ambiência de sua criação mental e convive com às daqueles que o cercam, influenciando e sendo influenciado.

Sob o viés individual do pensamento Emmanuel nos alerta[4]:

 “(…) o homem vive no seio das criações mentais a que dá origem.

Nossos pensamentos são paredes em que nos enclausuramos ou asas com que progredimos na ascese.

Como pensas, viverás.

Nossa vida íntima — nosso lugar.”

Pelas suas criações mentais o homem é capaz de edificar na consciência seu próprio inferno ou o seu céu.

O Mestre Jesus Cristo nos chamava atenção sobre os imperativos da vigilância mental, de modo a nos salvaguardar das contrariedades da vida física, que não nos espera, e das tentações que habitualmente nos oferta:

“Acautelai-vos para que vossos corações não estejam pesados na ressaca, embriaguez e ansiedade da vida {física}, e aquele dia venha, repentino, sobre vós.” (Lc 21:34).

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:41)

“Aprendestes que foi dito aos antigos: “Não cometereis adultério. Eu, porém, vos digo que aquele que houver olhado uma mulher, com mau desejo para com ela, já em seu coração cometeu adultério com ela.” (Mateus, 5:27 e 28.)

O pecado por pensamento é explorado por Allan Kardec no Evangelho Segundo o Espiritismo, em especial, quando afirma[5]:

“A verdadeira pureza não está somente nos atos; está também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer: Ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza.” 

Mais à frente o Codificador explica que[6]:

“Duas origens pode ter qualquer pensamento mau: a própria imperfeição de nossa alma, ou uma funesta influência que sobre ela se exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza que nos sujeita a receber essa influência; há, por conseguinte, indício de uma alma imperfeita. De sorte que aquele que venha a falir não poderá invocar por escusa a influência de um Espírito estranho, visto que esse Espírito não o teria arrastado ao mal, se o considerasse inacessível à sedução.”

Sobre a gênese do pensamento ser de terceiro, é necessário recordarmos a natureza gregária do ser humano cujo progresso reivindica a vida de relação, na qual, por meio de nossas ações e palavras, nos influenciamos positiva ou negativamente a todo momento.

Trata-se do aspecto coletivo do pensamento, que é tanto emissor quanto receptor de influxos e estímulos, sendo eles tão mais sedutores quanto o grau de afinidade que compartilham.

Disso retira-se as recomendações do apóstolo da gentilidade:

“Tendo por capacete a esperança na salvação.” Paulo (I Tessalonicenses, 5:8)

“Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” Paulo (I Coríntios, 5:6)

A esse respeito Emmanuel   elucida[7]:

Os raios de nossa influência entrosam-se com as emissões de quantos nos conhecem direta ou indiretamente, e pesam na balança do mundo para o bem ou para o mal.

Na ambiência coletiva nós nos educamos para o bem e para o mal[8]. Somos alunos e mestres ao mesmo tempo.

Ademais, se o homem é autor e/ou objeto de influência e, estando ele constantemente rodeado por Espíritos, torna-se simples qualificar os processos obsessivos como mero efeito de sua inferioridade moral.

Na obra Ação e reação, Leonel em diálogo com Silas assevera que a “obsessão” ou “delírio psíquico”[9]:

“(…) não passa de um estado anormal da mente, subjugada pelo excesso de suas próprias criações a pressionarem o campo sensorial, infinitamente acrescidas de influência direta ou indireta de outras mentes desencarnadas ou não, atraídas por seu próprio reflexo.

(…)

– Cada um é tentado exteriormente pela tentação que alimenta em si próprio.”

A tentação que fomenta em si o homem o tornam vulnerável à sua superalimentação com excitações constantes promovidas pela vontade dos adversários, fazendo dele presa de seus jogos alucinatórios.

A invigilância mental é situação grave do Espírito a reivindicar dele imediato reparo.

A prece nesse contexto ganha papel fundamental, pois, atrai a assistência de bons espíritos a servir de antemural às investidas dos verdugos; na higienização dos pensamentos e enquanto procedimento de introspecção[10] corajosa, refletida e imparcial do ser de modo a identificar a gênese de suas fragilidades.

Há, ainda, a instrução e a caridade como ferramentas importantes no zelo pelo campo mental. A leitura edificante conduz o pensamento do homem às altas faixas vibratórias, além de instruí-lo a respeito dos efeitos nefastos causados pelas influências negativas. Já a dedicação ao próximo previne o homem de episódios de autopiedade e melancolia; atrai a assistência de Espíritos que com ele simpatizam; eleva o seu pensamento e refina a sua balança de valores e predileções.

A guarda do pensamento refere-se a uma atitude permanente, a um modo-de-ser da alma, assim como a alimentação é atitude vital para o corpo[11].

Referências

DIAS, Haroldo Dutra (Trad.), 1971- O novo testamento, tradução de Haroldo Dutra Dias. – 1. ed. – 11. imp. – Brasília: FEB, 2020.

EMMANUEL (Espírito). Fonte viva. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 2000.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. de Salvador Gentile; rev. Elias Barbosa. Araras: IDE, 2009. 182 ed.

KARDEC Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2018. P. 316.

LUIZ, André. Ação e reação. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 2003.

[1] 89. Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?

“Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.”

a) — O pensamento não é a própria alma que se transporta?

“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.”

[2] “Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e vibrações sonoros” (KARDEC Allan. A Gênese.Trad. Salvador Gentile. Brasília: IDE, 1997. p. 247)

[3] KARDEC Allan. A Gênese.Trad. Salvador Gentile. Brasília: IDE, 1997. p. 247-248.

[4] EMMANUEL (Espírito). Fonte viva. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 2000. p. 166.

[5] KARDEC Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2018. p. 125.

[6] KARDEC Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2018. p. 341.

[7] EMMANUEL (Espírito). Fonte viva. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 2000. p. 88.

[8] Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. (Mt 5:19)

[9] LUIZ, André (Espírito). Ação e reação. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 2003. p. 110.

[10] “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Timóteo 4:7)

[11] E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão. E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus. (Lc. 4:3,4).

O consolador – Especial

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