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Joseph Haydn

O calendário do mundo marcava o dia 13 de março do ano de 1732, quando em Rohrau, pequena cidade situada nos confins da Áustria inferior com a Hungria, distante, pouco mais ou menos, cinquenta quilômetros de Viena, nasceu Joseph Haydn.  

Acreditamos que ao pronunciar esse nome – Haydn – não haja quem, por pouco conhecedor que seja de assuntos musicais, não saiba ter sido ele um vulto preeminente da música clássica, o criador da sinfonia.  

J. Cuthbert Hadden, escrevendo sobre Haydn, disse, entre outras coisas interessantes, o seguinte: “Voltaire afirmou certa feita que a reputação do famoso poeta Dante era cada vez maior, pela simples razão de que ninguém lia as suas obras.” Com Haydn não se pode dizer a mesma coisa.  

É bem possível, não duvidamos, que sua música não interesse à chamada “agitada alma moderna”; todavia, há em sua música um encanto imperecível, de serenidade e de graça, aliás muito aconselhável à nossa época inquieta, neurastênica e biliosa.  

Sua produtividade foi ímpar. Não obstante ter sido longa a sua vida, pois desencarnou aos 77 anos de idade, sem que nesse lapso de tempo deixasse de compor, sua bagagem musical é de 800 composições entre cantatas, sinfonias, oratórios, missas, concertos, óperas, trios, quartetos, sonatas, minuetos, etc. Isto sem falar nas muitas que se perderam em virtude de incêndio.   Sua primeira esposa não dava o menor valor às páginas escritas por seu marido, tanto que seguidamente lançava mão dessas composições para fazer papelotes ou formas de pastéis, de sorte que, como escreveu Henri Thomas, “a imortalidade da obra de Haydn passou a depender dos caprichos de uma esganiçada e turbulenta esposa”. 

Desde menino, Haydn demonstrou forte inclinação para a música. Afirma-se mesmo que, embora contasse cinco anos, empolgado, ao ouvir um pequeno concerto, tomou de uma varinha e marcou o compasso, com tal exatidão e firmeza, que impressionou vivamente um parente seu, de nome Franck, que então visitava seus pais.  

Franck, professor e bom músico, ofereceu-se para educar o garoto, levando-o consigo. 

Fazia três anos que estava na casa de seu parente Franck, quando o tão discutido “acaso” colocou Haydn em presença de Reuter, mestre-capela da Catedral de Viena, e que, na ocasião, visitava o professor Franck. 

O menino Haydn cantou a fim de que Reuter apreciasse a sua bela voz. Esse mestre capela limitou-se a dizer que Haydn não sabia entoar um trino.  

– Mas, como quereis que eu o saiba – contestou o sagaz petiz – se nem meu primo Franck o sabe? 

E Reuter retrucou:  

– Então venha cá, vou ensinar-te. 

Mal acabara de receber a lição, pôs-se a trinar, como se em sua vida outra coisa não tivesse feito. Reuter o levou para Viena, convencido como estava de que esse menino seria o maior ornamento da Catedral de Viena. 

Assim se iniciou a carreira do criador da Sinfonia.  

“As aptidões para cada gênero de trabalho, a habilidade, a destreza em todas as coisas são o resultado de inumeráveis ações mecânicas acumuladas e registradas pelo corpo sutil, do mesmo modo que todas as recordações e aquisições mentais estão gravadas na consciência profunda. “ 

Às pessoas que desconhecem a lei reencarnacionista causa verdadeiro assombro, atribuindo a milagre ou mistério, a precocidade de crianças, com seus pendores e facilidades, seja para as artes em geral, seja para a Ciência. E’ que, “ao nascerem, estas aptidões são transmitidas, por uma nova educação, da consciência interna aos órgãos materiais.  

Assim se explica a habilidade consumada e quase nativa de certos músicos e, em geral, de todos aqueles que mostram, em um domínio qualquer, uma superioridade de execução que surpreende à primeira vista”. 

Não obstante a grande capacidade de Haydn, ele, quando jovem, dedicava ao estudo, diariamente, 16 a 18 horas. Todavia, uma criatura como ele não precisava fazer esse esforço, porque tudo nascia de seu cérebro com incrível facilidade, em virtude das reminiscências que dia a dia lhe afloravam ao intelecto. 

Ele era ousado para um mundo desconhecedor das coisas do espírito, tais como se acham enfeixadas na Codificação Kardequiana, pois aos 13 anos de idade compusera uma missa.

Reuter, ao lê-la, riu-se, porque, realmente, como poderia ser apreciada essa composição, feita por quem nada sabia de contraponto? Haydn compreendeu a justiça do juízo de Reuter. E ficou a pensar o que deveria fazer para lhe merecer um elogio. Era um menino pobre e, portanto, não lhe era possível tomar um professor. Resolveu então dedicar-se à leitura de obras sobre teoria. 

Pretextando a necessidade de comprar uma nova roupa, pediu dinheiro a seu pai, e com os seis florins obtidos adquiriu dois livros sobre o assunto. Acontece, no entanto, que esses dois tratados eram demasiadamente obscuros, impossíveis de serem compreendidos sem as lições ministradas por pessoas competentes. Haydn, todavia, prescindiu desse auxílio. A verdade é que tudo o que à primeira vista se nos afigura uma injustiça, passa a constituir, de fato, um benefício, uma necessidade, tal como aconteceu a Haydn, e isto para que ele ficasse inteiramente livre e, por si mesmo, obtivesse o que os outros só conseguiam com o auxílio de terceiros. Era preciso que independente de qualquer interferência estranha pudesse dar, como deu, amplitude ia sua inspiração e à sua originalidade inata, fatores do brilho que as suas obras adquiriram mais tarde. 

Aos 63 anos de idade mostrava-se Haydn mais inspirado que nunca ao compor suas duas obras imortais: “A Criação” e “As Estações”.  

Foi sempre um homem de muita fé. Antes de iniciar suas partituras, escrevia, em latim: In Domine Domini, ou então, Soli Deo Gloria, e ao finalizá-las: Laus Deo.  

A respeito desse hábito, que comprova seus elevados sentimentos cristãos, e que era como que uma concentração preparatória para bem receber a inspiração do Alto, a escritora sueca Gertz assim se expressou em seu livro intitulado “A Música sob o ponto de vista moral e religioso”: – “Toda expressão de beleza é um ato de amor – que sob este título só a Deus devemos. 

Enquanto nada amamos, acreditamos também que nada mais nos cabe senão cumprir nossos deveres, se por acaso é possível cumpri-los sem se amar a Deus. Mas, quando o amor enternece nosso coração, sentimo-nos desejosos de realizar mil delicadezas que saem do domínio do útil para constituir o belo. Toda forma de beleza é, pois, uma forma de amor.”

Sempre que Haydn encontrava qualquer dificuldade de composição, apelava para a prece. São suas estas palavras: “Sempre, com êxito, me socorri da prece.” 

Por meio das obras de Allan Kardec, sabemos que “a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. As preces feitas a Deus, escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. 

“Pela prece, obtém o -homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a lhe inspirar ideias sãs.” 

Ao completar 76 anos de idade, seus amigos quiseram homenageá-lo e então prepararam uma festividade para a qual fora convidado, a fim de assistir à representação especial de sua “A Criação”. Quando Haydn penetrou na sala, em sua cadeira de rodas, a orquestra logo se fez ouvir, executando aquela magistral composição, e, ao atingir a passagem – “E foi feita a Luz”, ovações e palmas entusiásticas estrugiram em profusão. 

Haydn, emocionadíssimo, conseguiu erguer-se para exclamar: “Não fui eu, mas um Poder do Alto quem escreveu isto!” 

No dia 10 de Maio de 1809 chegava às portas de Viena o exército de Napoleão. Logo após o bombardeio, Haydn acamou e três semanas depois expirava, em 31 de maio de 1809. 

– Esta guerra miserável – disse em seu leito de morte – acabou comigo!  

Fonte: Grandes vultos da humanidade e o espiritismo.   

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