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Milagres e curas espirituais

Autor: Leonardo Marmo Moreira

O Espiritismo esclarece que o chamado “milagre” não existe da forma como é admitido por um grande número de criaturas. Realmente, se considerarmos o dito “milagre” como algo totalmente contrário às Leis Naturais, teremos que considerar que tal fenômeno não deixa de ser algo meramente mitológico. A Doutrina Espírita explica que os chamados “milagres” são fenômenos frequentemente incompreendidos e/ou ignorados tanto pela “Ciência Oficial” como pela Religião. Assim, enquanto a Ciência Oficial, tida por muitos como materialista, rejeita as evidências da ocorrência do fenômeno, justamente por se negar a estudar qualquer fato de pressupostas implicações espirituais, as Religiões Ortodoxas exploram o mesmo evento como “algo divino”, que derrogaria as Leis Naturais, admitindo que tais fenômenos seriam inerentemente incompreensíveis por se tratarem de “Mistérios”. Assim, os religiosos, apesar de sua evidente limitação na explicação destes fatos, manteriam uma espécie de poder intelectual sobre tais eventos, aproveitando do descaso dos cientistas. A manutenção deste tipo de postura por grande número de representantes dos dois grupos supracitados faz com que a maioria das criaturas permaneça na mais profunda ignorância a respeito dos princípios básicos que explicam os mecanismos pelo qual os supostos “milagres” ocorrem.

No entanto, as Leis Naturais incluem não somente aquelas que regem a matéria, mas igualmente aquelas que estão relacionadas aos fenômenos espirituais. O Espiritismo fazendo uma união sinérgica entre Ciência e Religião, que é inédita na história da humanidade, estabelece que os “milagres” são fenômenos perfeitamente explicáveis e estudáveis e que foram taxados como “espetaculares”, “maravilhosos” e “inadmissíveis” intelectualmente, por ignorância das suas causas e mecanismos de ação.

Assim sendo, é possível entender que, se a Química, a Física e a Biologia são ciências que estudam fenômenos observados dentro da esfera do mundo material, o Espiritismo estuda as Leis Naturais que regem o Mundo Espiritual e o Intercâmbio com o Mundo Físico. Portanto, seria interessante que o estudioso do Espiritismo, que busque lograr um aprofundamento nos conteúdos espíritas, apresentasse um conhecimento básico sobre as ciências materiais, uma vez que, nesse “intercâmbio com o mundo físico”, são estudados aspectos complexos dessa interface espírito-matéria.

Dentro desse contexto, o entendimento dos chamados “milagres” passa necessariamente pela compreensão da realidade psicossomática do ser humano. Essa realidade é formada por uma série de realidades minimamente independentes e interagentes que seriam o Espírito propriamente dito (A Mente), o Corpo Mental, o Corpo Espiritual (Perispírito ou Modelo Organizador Biológico), o Duplo Etérico (Corpo Vital) e o Corpo Físico ou Material.

O Perispírito e o Duplo Etérico, como realidades intermediárias em termos de materialidade entre o Espírito (A Mente) e o Corpo Material do indivíduo encarnado, representam peças chaves em quaisquer fenômenos de natureza paranormal. Logo, os fenômenos mediúnicos e os fenômenos anímicos observados em todos os tempos na história da humanidade têm, nas propriedades desses dois sistemas, pré-requisitos fundamentais para as suas respectivas compreensões.

As chamadas “Curas Espirituais”, por exemplo, que são observadas em todas as culturas, ritos e religiões, somente podem ser explicadas a partir do entendimento dessa inter-relação entre os componentes do “complexo humano” encontrado no indivíduo reencarnado. De fato, tais fenômenos, na maioria das vezes, envolvem componentes materiais, semimateriais e espirituais.

Os “Passes”, as “cirurgias espirituais” e processos similares de curas físicas e mentais envolvem, portanto, a administração de recursos materiais, semimateriais e espirituais.

A atuação de ordem mais materializada estaria associada principalmente às propriedades do duplo etérico (corpo vital) do médium que exerce essa ação fluídica. De fato, o duplo etérico ou corpo vital seria composto predominantemente de fluido vital, o qual, uma vez exteriorizado, poderia ser chamado de ectoplasma, conforme nomenclatura proposta pelo “Pai da Metapsíquica”, Charles Richet. É importante salientar que o ectoplasma sofre significativa influência da alimentação do médium, pois o “corpo vital” ou “corpo energético” dos alimentos ingeridos constitui um importante componente desse fluido vital que consiste no elo entre o perispírito propriamente dito e o corpo físico. Além disso, o fluido vital seria uma espécie de “combustível” para o corpo físico, sendo, por conseguinte, importante influência para a definição prévia e provisória do tempo de vida física do indivíduo encarnado.

A influência da alimentação na constituição do fluido vital é uma das causas da necessidade de disciplina alimentar por parte dos médiuns, sobretudo daqueles que desenvolvem trabalhos com grande doação de energia fluídica, como é o caso dos chamados “médiuns de cura”. De fato, a “mediunidade de cura”, entre várias peculiaridades, não deixa de ser também uma mediunidade de efeitos físicos, pois, mesmo atuando predominantemente sobre o perispírito do necessitado, o efeito esperado e desejado de cura do corpo material é obviamente uma espécie de “efeito físico”, tal como as célebres materializações de Espíritos.

Desta forma, assim como os Espíritos desencarnados sentem a influência da matéria, a energia semimaterial de natureza mais densa, como é o caso do fluido vital, poderia igualmente influenciar a organização da matéria dos corpos físicos. Obviamente, os Espíritos esclarecidos quanto a esse intercâmbio fluídico utilizam desses mecanismos para os diversos objetivos a que estão vinculados, sejam eles elevados ou não. Os Espíritos superiores administram recursos em favor dos indivíduos encarnados. Poderíamos citar o livro “Nosso Lar”, onde encontramos uma passagem em que o segundo marido de Zélia, a viúva de André Luiz, estava com a saúde muitíssimo debilitada e foi recuperado fisicamente através de Passes Espirituais de Narcisa e André Luiz, que utilizavam, entre outros recursos, da administração de essências retiradas de mangueiras e eucaliptos por Mentores Espirituais. Essa passagem ilustra que o corpo vital, sendo também uma realidade dos vegetais, pode contribuir juntamente com o ectoplasma animal e outros fluidos espirituais para gerar saúde física.

Esse intenso intercâmbio fluídico entre o mundo espiritual e os indivíduos encarnados explica uma série de fenômenos conhecidos da literatura espírita, como, por exemplo, a vampirização por parte de entidades muito atrasadas do fluido vital de um suicida e de vários cadáveres de bois no matadouro, conforme narração de André Luiz na obra “Missionários da Luz”. Nesta mesma obra, Espíritos inferiores que “habitavam” um lar sem barreira de proteção magnética, em função da pouca elevação espiritual da família, aspiravam os fluidos que emanavam dos alimentos que eram cozidos, haurindo dos mesmos fluidos vitais que eram prazerosos a estes Espíritos, obviamente muito vinculados à matéria. Ainda em “Missionários da Luz”, no capítulo intitulado “Passes”, é narrado um interessante caso relacionado a uma jovem gestante que estava literalmente passando fome, devido a dificuldades econômicas de seu marido. Consequentemente, as condições físicas dessa mulher e de seu feto eram de grande fragilidade, implicando em grande risco de morte para o bebê. Os Mentores Espirituais auxiliaram intensamente essa senhora através dos Passes, utilizando de fluidos vitais emanados pelos médiuns passistas encarnados, logrando melhorar sensivelmente o quadro de saúde dela e de seu filho.

Pode-se citar igualmente interessante caso de Chico Xavier, quando o maravilhoso médium visitou uma família com sérios problemas espirituais para fazer o que hoje poderíamos denominar de “atendimento fraterno”. Chico, que adorava bananas, se encantou com um cacho de bananas muito formosas que havia na mesa. No decorrer da conversa com os familiares, entretanto, Chico Xavier ficou extremamente chocado ao ver duas entidades espirituais inferiores entrarem no recinto e literalmente comerem as bananas. Ora, como um Espírito desencarnado pode comer a banana?! Posteriormente, Emmanuel esclareceria a Chico Xavier que o referido lar não tinha barreiras vibratórias em função de uma sintonia mental com entidades negativas, em função de seus sentimentos, pensamentos e hábitos negativos do ponto de vista moral. Assim, seres espirituais atrasados e com perispíritos muito materializados e que teriam grande necessidade de sensações de ordem material não teriam impedimentos maiores para entrarem no lar, podendo gerar obsessões e quadros lamentáveis em função da afinidade vibratória. Ao sentirem fome, estes Espíritos comeram, de fato, as bananas, ingerindo o corpo vital das mesmas. Por outro lado, além de eliminarem grande parte do conteúdo vital das bananas, deixaram nas mesmas impregnações fluídicas negativas, fazendo com que as bananas se tornassem alimentos perigosos para aqueles que as ingerissem, tanto sob o aspecto físico quanto do ponto de vista espiritual.

O Espírito organiza o Perispírito, pois o Espírito haure dos constituintes da atmosfera de um determinado planeta, a constituição do seu próprio Perispírito, conforme nos ensina “A Gênese”, de Allan Kardec. Logo, assim como o Espírito determina o nível fluídico da constituição do seu Perispírito, dependendo da matéria-prima haurida na atmosfera em função da sua evolução espiritual, o Perispírito modela e direciona grande número de fenômenos biológicos no corpo de carne.

Assim sendo, as chamadas curas espirituais deveriam ser mais propriamente denominadas de “Curas Perispirituais”, pois o Perispírito é o principal foco das influências magnéticas proporcionadas pela fluidoterapia, incluindo aí os Passes, a Água Magnetizada e a intervenção fluídica do mundo espiritual. Neste contexto, é importante frisar que a legítima cura verdadeiramente espiritual é a transformação moral da criatura para o bem, pois, elevando a vibração, em função da elevação de valores espirituais e melhoria de sentimentos, pensamentos e ações, iniciaria efetivamente o processo de tratamento real da causalidade das enfermidades espirituais que são a causa primária das afecções perispirituais e físicas.

O próprio Divaldo Franco narra que, em suas palestras, ocorre um número incontável de cirurgias no perispírito dos indivíduos que estão assistindo a conferência, pois, em função da elevação de pensamentos, sentimentos e propósitos na reunião, acontece uma maior elevação de condição espiritual dos assistentes, favorecendo maior sintonia fluídica com os protetores espirituais e viabilizando a eficácia da intervenção espiritual.

Para concluir, seria interessante lembrar o famoso caso evangélico da multiplicação de pães e subsequente alimentação das multidões com cinco pães e dois peixes. Nesta interessante ocorrência, Jesus pode ter se valido do somatório dos ectoplasmas gerados por Ele e por seus Apóstolos, além dos fluidos dos Espíritos desencarnados superiores que estavam acompanhando a passagem. Ademais, essências vegetais podem ter sido trazidas para o local, o que explicaria a sensação de saciedade dos presentes. Com relação à multiplicação dos pães propriamente dita, poderia ter sido simplesmente um transporte ou uma materialização em que o auxílio dos Apóstolos, que eram grandes médiuns de efeitos físicos, pode ter contribuído de forma significativa. Ademais, não podemos esquecer o magnetismo pessoal de Jesus e de sua mensagem, o que certamente tornava sua preleção profundamente atraente e tranquilizante, sob os mais profundos aspectos. Obviamente, nesta análise estamos admitindo a possibilidade da ocorrência literal destes fatos, o que pode não ter acontecido exatamente como os textos relatam.

O consolador – Ano 4 – N 171

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