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Materialismo e Espiritualismo

Autora: Teresinha Olivier

Um cidadão fez voto de desapego e pobreza. Saiu Índia afora em busca de todos os sábios, medindo na verdade o desapego de cada um. Levava apenas uma tanga no corpo e outra para troca, sempre necessário.

Estava convencido de não encontrar quem ganhasse de si em despojamento, quando soube de um velho guru, bem ao norte, aos pés do Himalaia. Tomando as direções, parte ao encontro do velho sábio.

Quando lá chegou, tristeza e decepção! Encontrou terras bem cuidadas, um palácio faustoso, muita riqueza, muita pompa. Indignado, procura pelo guru. Um velho servo lhe diz que ele está em uma ala dos magníficos jardins com seus discípulos, estudando desapego. Como era costume da casa ter gentileza para com os hóspedes, o servo convida o andarilho para o banho, repouso e refeição, antes de se dirigir à presença do sábio.

Achando tudo muito estranho, o desapegado aceita a sugestão. Toma um bom banho, lava sua tanga usada, coloca-a para secar no quarto e sai em busca do guru.  Completamente injuriado, queria contestar e desmascarar aquele que julgava um impostor, pois em sua concepção desapego não combinava com posses.

Aproxima-se do grupo, que ouve embevecido as palavras do mestre e fica ruminando um ardil para atacar o guru, quando, correndo feito um doido, chega um dos serviçais gritando:

– Mestre, mestre, o palácio está pegando fogo, um incêndio tomou conta de tudo. O senhor está perdendo uma fortuna! O sábio, impassível, continua sua prédica. O desapegado viajante das duas tangas dá um salto e sai em desabalada carreira, gritando:

– Minha tanga, minha tanga, o fogo está destruindo minha tanga…

(Autor desconhecido)

Um dos objetivos principais do Espiritismo, segundo Kardec, é combater o materialismo, difundindo as verdades espirituais, a realidade do espírito imortal.

Para o materialista, de maneira geral, a vida se resume na posse de coisas, no cultivo de prazeres efêmeros, na valorização da beleza física, no ter cada vez mais, muitas vezes, levando essa forma de pensar e sentir até às últimas consequências.

O materialismo está na base das mazelas morais que assolam a humanidade. Quando não se vê nada além da matéria, quando não se tem perspectivas além do túmulo, nada resta senão gozar ao máximo daquilo que o mundo tem a oferecer, daquilo que satisfaz os sentidos.

Não podemos generalizar. Existem pessoas que se dizem materialistas e ateias, mas que possuem valores inatos e mostram, com seus exemplos de vida, comportamento superior a de muitos que se dizem espiritualistas. Estão nessa condição porque não se satisfazem com aquilo que as religiões oferecem e, na falta de respostas para suas indagações íntimas, escolhem o caminho da negação. Porém, essa condição é temporária, porque, mais cedo ou mais tarde, encontrarão também as respostas que procuram e sua consciência espiritualista, que estava dormente em sua alma, se manifestará novamente, porque faz parte de sua essência como espírito imortal. Não é natural ser materialista porque a nossa essência é espiritual. Somos espíritos imortais, já reencarnamos muitas vezes e trazemos na nossa consciência profunda esses registros.

Por outro lado, observa-se, com bastante frequência, pessoas religiosas que têm um comportamento social que se identifica muito mais com a visão materialista do que propriamente com a espiritualista. Isso porque muitas delas ficam na superficialidade da religião, não se aprofundam nos ensinamentos que a doutrina abraçada propicia.

Existe também o fato de existirem muitas religiões que, deixando de lado sua essência que é comum a todas, que são os valores verdadeiramente morais e espirituais, valorizam muito mais as práticas exteriores, os rituais, os templos suntuosos, em suma, tudo aquilo que impressiona os sentidos, deixando em segundo plano aquilo que fala às almas, que toca os corações. E as noções que dão com relação à vida após a morte do corpo, são muito vagas e imprecisas, e não dão ao crente aquela certeza inabalável da imortalidade da alma e das consequências naturais dos seus atos, certeza essa que o faria repensar suas atitudes.

O materialismo leva o homem ao apego daquilo que possui. É o que lhe dá segurança material e psicológica. É o que lhe dá a ilusão de permanência neste mundo. É o seu chão. Por isso, quando esse chão lhe é tirado por alguma razão, porque a vida é impermanência, é mudança, é dinâmica, ele desmorona, porque não lhe sobra mais nada.

Quando nos apoiamos na areia movediça, em algum momento afundaremos. Quando construímos nossa casa existencial na areia das ilusões, ela desmoronará fatalmente. E como nada mais foi valorizado e cultivado, fica o vazio existencial.

O Espiritismo estudado e assimilado em profundidade, em todos os seus aspectos, científico, filosófico e religioso, nos dá condições de entendermos a importância relativa da vida material e a importância fundamental da nossa realidade espiritual, eterna e em constante evolução. A consciência espiritualista fará parte integrante e constante da nossa maneira de ser e sentir.

Aquele que é verdadeiramente espiritualista sabe da efemeridade da vida física, da transitoriedade das situações que vivencia, da presunção de posse de coisas materiais, que hoje estão em suas mãos e amanhã poderão estar em outras, que a verdadeira riqueza é aquela que levamos conosco após deixarmos esta vida. Por isso ele poderá possuir bens materiais, mas não se deixará possuir por eles. Da mesma forma que é feliz com eles, será feliz sem eles. A perda desses bens não o abalará, enquanto que outro poderá se desesperar com a perda de algo insignificante.

Com a Doutrina Espírita, estudada com profundidade, vemos com clareza o objetivo primordial de estarmos encarnados. A finalidade da encarnação é a evolução do espírito imortal.  As situações que vivenciamos, a posse de bens, ou a falta deles; a saúde ou a doença; o poder ou a subalternidade; as dificuldades ou facilidades, tudo enfim, que faz parte das nossas experiências de vida, são meios de trabalharmos o nosso progresso espiritual, e não o fim em si mesmos. A forma como encaminhamos, na vida presente, essas experiências necessárias à evolução do espírito, determinará o maior ou menor progresso conquistado e, como consequência, a nossa felicidade ou infelicidade futura.

É assim que, passo a passo, de encarnação em encarnação, vamos vencendo os degraus que nos levam àquilo que Jesus chamava de O reino de Deus dentro de nós, que é o estado de Espírito elevado, o Espírito que venceu a si mesmo, que descobriu pelo seu esforço e vontade o sentido da vida, que por tanto tempo buscou nas coisas efêmeras.

Todos nós já vivemos esse equívoco e, ainda hoje, mesmo com as luzes do conhecimento com que o Espiritismo nos esclarece, muitas vezes nos deixamos levar pelos resquícios dessa ilusão materialista, porque são condicionamentos enraizados profundamente em nós, espíritos milenares.

Temos a eternidade pela frente. Se não podemos dar grandes saltos evolutivos, podemos acelerar um pouco mais a nossa caminhada, se quisermos, se nos empenharmos, colocando nossa vontade a serviço de nós mesmos, do anseio de crescimento espiritual que já brotou em nossas mentes e em nossos corações.

Dica

A autora participa semanalmente dos grupos de estudos online, abaixo. Se tiver interesse em participar também, são abertos para todos os públicos.

Reuniões: Estudo do livro O Céu e o Inferno (primeira edição autêntica)

Reuniões: Estudo do livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor

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