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Naufrágio anunciado da educação

Autor: Marcus De Mario

Muitas pessoas não sabem, mas o Brasil possui um Plano Nacional de Educação (PNE), com metas a serem alcançadas até 2024. Relatórios do nosso governo e de organismos internacionais mostram que as medidas para alcançar essas metas estão em ritmo bem lento, e a assim continuar, o plano, ao seu final, terá sido um fracasso.

Temos hoje mais de 1,5 milhão de crianças sem creches, e mais de 11 milhões de analfabetos. O PNE está em vigor desde 2015 e apenas 13,4% dos indicadores das metas foram alcançadas; 50% dos indicadores das metas restantes estão, em média, com 73% de desenvolvimento. E os demais indicadores …

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) estima que no ritmo atual 85% dos indicadores estabelecidos não serão cumpridos (no total são 57 indicadores de monitoramento das metas do PNE). Como exemplo temos o analfabetismo funcional: 18,5% da população brasileira estava nessa classificação em 2012 (dados do IBGE), mas dados de 2018 revelam situação ainda mais grave: estima-se que 30% da população é analfabeta funcional.

Mas, porque estou escrevendo sobre isso? Educação é o que menos importa para nós brasileiros e brasileiras. Esta postagem dificilmente terá comentários e compartilhamentos. Deveria eu escrever sobre algo mais ameno e sem importância?

Não se trata de discutir a validade do Plano Nacional de Educação, se concordamos ou não com suas metas estabelecidas. Ele existe, é importante, e o governo deveria tê-lo como prioridade de sua política, o que não acontece. E não estou falando apenas do governo federal, mas também dos governos estaduais e municipais, pois todos têm sua parcela de ação para melhorar a educação brasileira, lembrando que quando melhora-se a educação melhora-se a sociedade.

A falta de interesse político pela educação é notória em todas as esferas governamentais. Trava-se, e não é de hoje, uma luta pelos cargos, pelas verbas, prevalecendo critérios não técnicos, mas sim de amizades e troca de favores partidários, e assim assistimos mais um Plano Nacional de Educação anunciado ao naufrágio de suas boas intenções.

Alguns valentes pedagogos e professores trabalham desesperadamente para salvar a frágil educação brasileira, mas os golpes desferidos por ideólogos e políticos são muito fortes, e a bússola parece quebrada em meio a uma tormenta de vulto. Afinal, para onde vai nossa educação?

A troca incessante de ministros e secretários de educação é mais um retrato desse descaso. Nessa dança das cadeiras, projetos são abandonados, processos são descontinuados, novas exigências são elaboradas, e os profissionais da educação ficam perdidos, sem saber para onde devem ir e o que devem fazer.

Se o Plano Nacional da Educação está à deriva e pedindo socorro, o futuro da sociedade brasileira não aponta muita coisa melhor do que estamos vivendo na atualidade.

Em 2016, num lampejo de lucidez pedagógica, o Ministério da Educação reconheceu quase 200 escolas e organizações brasileiras como inovadoras e criativas da educação básica, criando o Mapa da Inovação. Agora o mapa foi banido, essas escolas e organizações desconsideradas, e voltamos à mesmice do sempre foi assim, assim continuará sendo.

Não estamos diante de um naufrágio social anunciado?

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