O conflito no Rio de Janeiro e o desafio espiritual da paz

Autor: Felipe Gallesco

Os últimos dias no Rio de Janeiro foram marcados por tristeza e comoção. Uma grande operação policial nos complexos do Alemão e da Penha resultou em mais de uma centena de mortes, deixando famílias em desespero e uma cidade inteira em silêncio. As imagens, os relatos e os números nos tocam profundamente — e nos fazem pensar sobre o que está acontecendo conosco, enquanto sociedade.

Diante de um episódio tão doloroso, o olhar espírita nos convida a enxergar além das aparências. Cada vida envolvida — seja de quem atua na segurança, seja de quem vive nas comunidades — é uma história espiritual, uma alma em processo de aprendizado, um filho de Deus que busca evoluir. O Espiritismo nos lembra que nada acontece fora das Leis Divinas, e que todo acontecimento, por mais difícil que pareça, pode ser um chamado à reflexão, à solidariedade e à transformação moral.

Jesus, em sua passagem pela Terra, falou sobre uma paz que o mundo ainda não compreendeu por inteiro. “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”, disse Ele. Essa paz não nasce da ausência de conflito, mas da presença do amor. Não se impõe pela força, mas se constrói na compreensão. E é essa paz que o Evangelho nos convida a cultivar — nas atitudes, nos pensamentos e nas relações.

Quando vemos tragédias como a que ocorreu no Rio, é natural buscar culpados. Mas o caminho do Evangelho é diferente: ele nos leva a buscar responsabilidades compartilhadas. A violência que explode nas ruas começa, muitas vezes, nas pequenas violências que deixamos crescer dentro de nós — na indiferença, no preconceito, na falta de empatia, no desejo de vingança. Cada gesto de intolerância é uma semente de conflito; cada ato de compreensão é uma semente de paz.

Não há paz coletiva sem paz interior. E não há transformação social sem transformação individual.

O Espiritismo nos mostra que o mundo se melhora quando o ser humano se melhora. A regeneração da Terra, tão esperada por todos nós, não virá apenas com mudanças externas, mas com o despertar moral de cada espírito que aqui reencarna para aprender a amar.

Por isso, o convite do momento é para olharmos com humildade para nós mesmos. O que temos feito, no nosso cotidiano, para construir a paz? Como reagimos diante das diferenças? Como tratamos o outro nas redes sociais, nas conversas, nas pequenas situações da vida? O Evangelho não nos pede heroísmos, mas constância. Ele nos pede que sejamos instrumentos de luz onde estivermos, mesmo em gestos simples: ouvir com atenção, acolher com ternura, respeitar quem pensa diferente, agir com honestidade e compaixão.

Também é papel da juventude espírita compreender que a paz é fruto de justiça e fraternidade. Quando o Evangelho fala em amar o próximo, fala também em promover dignidade, apoiar quem sofre e buscar caminhos de inclusão. Isso significa valorizar a vida, incentivar o diálogo, apoiar quem precisa e lutar, de forma pacífica, por um mundo mais equilibrado.

A operação que abalou o Rio de Janeiro é um retrato de uma realidade complexa — uma sociedade que tenta se defender da violência, mas que ainda precisa compreender o valor profundo da vida e o poder transformador do amor. Nem sempre teremos respostas fáceis, mas sempre teremos a escolha de agir com consciência e coração.

O Espiritismo nos ensina que, por trás de cada acontecimento humano, há lições espirituais. Talvez a lição que este momento nos traz seja a de perceber que a paz não será construída por um lado só. Ela precisa da união de todos: da responsabilidade do Estado, do compromisso das famílias, da dedicação das instituições, da empatia de cada cidadão.

O Cristo não veio dividir — veio unir.

Ele não apontou culpados — estendeu mãos.

E é essa postura que precisamos aprender a repetir.

Que a dor das famílias cariocas nos toque o espírito. Que a coragem dos que atuam pela segurança pública nos inspire responsabilidade e respeito. Que as sombras da violência despertem em todos nós o desejo de ser luz.

A paz não é um presente pronto. É uma construção diária, feita tijolo a tijolo — dentro de nós e entre nós.

E cada um de nós é chamado a ser um construtor dela.

CAMISINHA.TEM QUE TER