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O diálogo da Doutrina Espírita com as teorias educacionais

Autora: Dalva Silva Souza

A visão proposta pelo Espiritismo estabelece um equilíbrio entre o otimismo e o pessimismo pedagógico, reconhecendo o poder transformador da educação e as limitações inerentes ao processo.

Quando pensamos na importância da educação, para a constituição de uma sociedade mais fraterna e solidária, percebemos o Espiritismo como uma luz no horizonte, oferecendo bases sólidas para uma visão pedagógica otimista e instigando reflexões sobre novos fundamentos na educação.

Desafios contemporâneos acenam com a necessidade de preparação da nova geração para um futuro que não podemos ainda visualizar, será preciso estimular a criatividade infantil, superando metodologias tradicionais que limitam a inovação. Diante desse desafio, o diálogo entre a Doutrina Espírita e as teorias educacionais torna-se crucial. Pensadores como Célestin Freinet, Lev Vygotsky, Jean Piaget e Paulo Freire moldaram diversas abordagens pedagógicas que podem oferecer preciosas contribuições.

Com Célestin Freinet, temos uma escola centrada na criança, mas essa criança é vista como parte de uma comunidade; Lev Vygotsky ensina que a aprendizagem é uma atividade conjunta e relações colaborativas entre alunos podem e devem ter espaço nas salas de aula; Jean Piaget, com o Construtivismo, busca oferecer ao educando a descoberta e a construção do conhecimento por meio de atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequilíbrios, sempre respeitando sua maturação, e Paulo Freire propõe incentivar a criticidade do aluno pela prática da educação libertadora, como ato de criação do conhecimento e método de ação-reflexão para a transformação da realidade. Essas abordagens contrapõem-se à visão pedagógica tradicional focada na transmissão objetiva de saberes.

A definição de um caminho pedagógico passa pela concepção do que é ser humano. Há quem veja pelo prisma do pessimismo antropológico: o homem é o lobo do homem; na posição oposta, o otimismo antropológico sustenta que a criatura nasce boa e a sociedade é que a perverte; no contexto da religiosidade tradicional, os impulsos da criança precisam ser reprimidos devido à contaminação do pecado original. A Doutrina Espírita oferece uma visão inteiramente nova, uma visão evolutiva: o educando é um ser espiritual em busca da perfeição por meio da educação, é um ser que se manifesta em um estágio evolutivo a ser detectado pelo educador, que nunca deve subestimar a capacidade de alteração dos quadros de inferioridade que ainda caracterizam os habitantes de mundos de provas e expiações como a Terra.

A visão proposta pelo Espiritismo estabelece um equilíbrio entre o otimismo e o pessimismo pedagógico, reconhecendo o poder transformador da educação e as limitações inerentes ao processo. O educando é herdeiro de si mesmo, de suas lutas, vitórias e fracassos, e o educador precisa propiciar-lhe a tomada de consciência quanto à sua origem divina, sua natureza espiritual e sua condição de reencarnante, para que se opere seu desenvolvimento moral e, consequentemente, haja a superação do egoísmo.

O diálogo da Doutrina Espírita com as teorias educacionais pode nos levar a transcender as barreiras do conhecimento convencional. A busca por uma educação que vá além da transmissão de conteúdo, promovendo a evolução espiritual e moral dos educandos, é o cerne desse diálogo.

É interessante refletir com Rubem Alves: “(…) eu gostaria que os nossos currículos fossem parecidos com a ‘Banda’, que faz todo mundo marchar, sem mandar, simplesmente por falar as coisas de amor”. Sim, nossos currículos deveriam ser como aquilo que instiga, que encanta e inspira, por tocar as notas do amor e da transformação. A união dessas ideias proporciona um terreno fértil para uma educação que não apenas prepara para a vida, mas também ilumina a jornada espiritual de cada ser humano, contribuindo para a formação de indivíduos mais conscientes, éticos e compassivos, criando contextos em que o conhecimento não seja recebido passivamente, mas seja elaborado ativamente pelo sujeito, para que possa aprender a construir mundos onde caibam todos, mundos onde caibam outros mundos.

Bibliografia

ALVES, Rubem. Conversa com quem gosta de ensinar. 24ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 1991.

ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação. 12ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998

SOUZA, Dalva Silva. Os caminhos do amor. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

SOUZA, Dalva Silva. Os caminhos da liberdade. 1ª ed.Vitória (ES): Feees, 2001.

BRANDÃO, Leila Silva & SOUZA, Dalva Silva. Na medida certa. 1ª ed. Bragança Paulista, SP: Instituto Lachâtre, 2013.

Revista Educação Espírita – Ano 1 – Número 1

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