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O espiritismo propõe a religião natural

Autor: Paulo Henrique de Figueiredo

Para Kant, que apresentou em sua obra Que significa orientar-se pelo pensamento o conceito de autonomia moral, a convicção da existência de Deus, que é a base do pensamento religioso, ao contrário de que pensa o senso comum, só “podem encontrar–se na razão; só dela promanam e não nos advêm nem por inspiração, nem ainda por uma notícia dada até pela autoridade máxima” (p.13).

O que cai aqui por terra, quando confrontada pela razão unida com a fé, não é o conceito de Religião, como pensavam os materialistas de sua época, mas todo interesse de qualquer autoridade humana em se pronunciar em seu nome da Religião. Nenhuma escritura sagrada pode reivindicar a ambição de supremacia. Afastam-se da verdadeira religião todo devaneio, toda superstição, todo fanatismo.

A partir dessa forma de pensar a religiosidade, estamos diante de uma moral racional, fruto de uma fé inabalável e que só é possível onde houver liberdade de pensamento.

Neste ponto de sua obra, Kant vai definir como a liberdade de pensamento é fundamental para o estabelecimento da religião natural, ao permitir o exercício da fé racional:

  • “À liberdade de pensar contrapõe-se, em primeiro lugar, a ‘coação civil’”. Não sendo permitido falar, escrever e comunicar o que se pensa, não seria possível haver uma condição de comunicação entre todos e de expor publicamente os seus pensamentos.
  • “Em segundo lugar, a liberdade de pensar toma-se também no sentido de que se opõe à ‘pressão sobre a consciência moral’”. Ou seja, a liberdade de pensamento está unida à liberdade religiosa, de tal forma que não haja a imposição de dogmas nem o policiamento de crença.
  • “Em terceiro lugar, a liberdade de pensamento significa ainda que a razão ‘não se submete a nenhumas outras leis’ a não ser àquelas que ela a si mesmo dá”. Todo homem deve agir considerando a lei moral como sendo universal, por sua própria vontade ou autonomia. Além disso, para que a religião natural se estabeleça como condição de uma sociedade ideal, a lei dos homens deve estar de acordo com a lei moral.

Fora desses princípios, a fé cairá inevitavelmente em seus dois limites opostos, de um lado na superstição e fanatismo e de outro extremo na incredulidade e no materialismo.

Num artigo da Revista Espírita, Allan Kardec vai concordar textualmente como a associação feita por Kant entre a liberdade de pensamento e a autonomia moral como fundamentos da religião natural, possibilitando finalmente uma união entre a fé e a razão almejada pela humanidade em busca de seu bem supremo, combatendo o fanatismo e a descrença:

Livre pensamento, na sua acepção mais ampla, significa: livre exame, liberdade de consciência, fé raciocinada; ele simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; ele não quer mais escravos do pensamento do que escravos do corpo, porque o que caracteriza o livre pensador é que ele pensa por si mesmo e não pelos outros, em outras palavras, que sua opinião lhe pertence particularmente. Pode, pois, haver livres pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre pensamento eleva a dignidade do homem; dele faz um ser ativo, inteligente, em lugar de uma máquina de crer (Revista Espírita 67, p.26).

O espiritismo propõe como consequência de sua teoria, o estabelecimento da religião natural, conquistada pelo conhecimento das leis naturais que regem a moral. Por isso, oferece a todos, crentes e descrentes, adeptos de qualquer religião que desejem, para uma construção de uma comunidade ética universal, dando um novo rumo para os descaminhos do mundo de hoje.

Livros do autor: https://mundomaior.com.br/paulo-henrique-de-figueiredo/

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